Cordeiros pascais
Escrevi este texto em 10 de Abril de 2012. Reli-o. Passou um ano. Não lhe consigo mudar uma vírgula.
A Páscoa é sinónimo de libertação. Os judeus celebram a fuga do Egipto e da escravidão. Simbolicamente sacrificam o cordeiro. Os cristãos comemoram a morte e a ressurreição de Jesus que assumiu as culpas de toda a humanidade e sacrificou-se, metaforicamente, como um cordeiro pascal.
Ao contrário de Jesus que se sacrificou para salvar o mundo os nossos governantes sacrificam-nos para salvar os mercados. Merecemos. Cometemos o pecado da gula, embarcamos na barca da luxúria, ousamos querer viver bem, acreditamos no fim da pobreza e na morte da exploração.Pretendemos ter boa educação, ter direito à saúde universal e gratuita. Pecamos contra os omnipotentes mercados. Temos de ser castigados. Temos de cumprir mil penitências. Os sacerdotes dos deuses da usura (governantes) e os seus acólitos (comentadores castrados) fariseus dos novos tempos, vergastam-nos a cada dia que passa com maior violência. Espremem-nos a seiva da vida. E nós pecadores confessos batemos com a mão no peito, mea culpa mea culpa. Somos os cordeiros pascais deste mundo de exploração sem regras.
Nesta Páscoa, aqui e agora, os sumo sacerdotes da política carregaram-nos ainda mais de angústia, expurgaram-nos da esperança, substituem libertação por escravidão. A sua falta de seriedade, mais clara em cada dia que passa, chegou ao ponto de inverter o significado da longa tradição pascal. O símbolo desta Páscoa não é um cordeiro sacrificado para libertar, mas um coelho libertado para explorar.
MG