Galanço
Ai que linda troca de olhos
que se deu agora ali
trocaram-se uns olhos negros
por uns outros que eu bem vi
Troca de olhares, especialmente com o sexo oposto, estão no nosso ADN. Quem não os teve? Miguel Sousa Tavares chamou-lhe "galanço". Na rua, nos transportes públicos, no recato de uma livraria, no recanto de um bar, quantos olhares não trocamos, uns fugazes, outros mais intensos, uns ocasionais, outros deliberados, uns inocentes, outros intencionais. É uma forma de comunicação tão natural como qualquer outra. Com a vantagem de não ser curto circuitada pela inabilidade das palavras. É um momento de prazer instantâneo, quase sempre sem consequências e sem continuidade. Cada um frui-o à sua maneira dando azo à livre imaginação. Pode ser uma breve traição às fidelidades assumidas. Não mais que isso. Depois há o regressa intacto à relação institucionalmente estabelecida, à real realidade.O "galanço" funciona como um adultério virtual, uma sedução da mente que preserva e reforça a fidelidade do físico. Neste processo só os olhos pecam. Bendito pecado!