A filosofia do taxista
Em 1974, no pós vinte e cinco de Abril fui um dos pioneiros que ajudaram a organizar as estruturas locais do PS em Lisboa. Com outros companheiros imbuídos de espírito de missão e por amor à causa conseguimos, com escassos recursos, arrendar um andar onde instalámos a secção da freguesia de S.Jorge de Arroios. Na adjacente freguesia dos Anjos, os militantes desta área, não conseguiram encontrar um espaço para a sua sede. Levantou-se, a seu pedido, a hipótese de, pela proximidade geográfica, e pelo vasto espaço de que dispúnhamos, de com eles partilharmos as mesmas instalações. Logo se levantou forte oposição a esta solução, com alegações de tipo clubista e bairrista. Durante a análise da situação, um companheiro de cabelos brancos, de profissão taxista, pediu a palavra para dizer: -mas que raio de socialismo é este? Vocês lutam por uma sociedade igualitária e solidária e fazem o contrário na vossa própria casa. Qual é o problema em partilharem estas instalações com companheiros de outro bairro? Não somos todos do mesmo partido? Estas sábias palavras, se bem me lembro, não caíram em saco roto, pois a sede foi utilizada pela secção dos Anjos, pelo menos temporariamente.
A filosofia do taxista continua actual. E aplica-se que nem uma luva à situação da Europa actual. Com efeito, não se entende porque se fomenta esta divisão entre as "formigas" do Norte e as "cigarras" do Sul. Ao fim e ao cabo, não somos todos europeus? Não pertencemos todos à mesma união política? Não devemos todos remar na mesma direcção? Onde estão os valores de comunhão e slidariedade que originaram o projecto da União europeia? Porque se alevantam do chão os demónios de egoísmo e do nacionalismo que levaram a terriveis guerras? Porquê?
MG