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Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

 

Eu amo as árvores principalmente as que dão pássaros
Quem é que lá os pendura nos ramos?
De quem é a mão a inúmera mão?
Eu passo e muda-se-me o coração
 
      Ruy Belo
 
 

 

Às vezes tenho inveja da vida dos pássaros. Invejo a sua liberdade de deslocação sem andar em estradas superlotadas, enfiados em latas fumegantes que desprezam de quando em vez. Que o diga o meu  1.5 ao receber as suas descargas de matéria orgânica. Invejo a sua liberdade de escolherem uma habitação sem pagarem renda, IMI e juros especulativos aos nossos amigos bancos. Invejo a sua ignorância quanto à existência da troika e da dupla Gaspar/Relvas. Invejo o seu modo de vida, sem obrigações de horários e sem terem de se sujeitar aos caprichos prepotentes de empresários e políticos. Invejo a sua capacidade de se alimentarem com esforço qb e sobretudo a regalia de não terem de produzir mais valias para enriquecer passarões. Invejo-os por não terem cartão de crédito e por se estarem lixando para os mercados. O mundo dos pássaros é um mundo verdadeiramente socialista. Ideólogos da igualdade aprendam com eles.

 

Quando faço os meus passeios de fim de tarde e passo por um jardim arborizado ouço-os em frenéticos chilreios nas ramagens das copas das árvores. E gostaria de saber o que dizem na sua linguagem de pássaros. Como não foi descodificada limito-me a imaginar  e aí vejo-os felizes em amena cavaqueira a comemorar o fim de mais um dia sem preocupações do que virá a seguir. Vejo-os alegres pela simples razão de terem existência, sem preocupações, sem stress, sem depressões. E aí apetece-me gritar: psicólogos, psiquiatras, aprendam com eles. E se me entendessem gostaria de lhes dizer: obrigado amigos pela vossa presença, obrigado companheiros por me alegrarem os dias a troco de nada.

 

Se houvesse possibilidade de transmutação entre espécies, gostaria de ser pássaro nem que fosse apenas por um dia. Adoraria voar livre e ir com outros pássaros até ao palácio de S. Bento e fazer uma descarga de matéria fecal sobre passarões que por ali abundam. Ou então imitando os pássaros amestrados e de faz de conta de hitchcock gostaria de bicar a sério os passarões da nossa angústia de cada vez que destilam verborreia e acção em nome de interesses que colidem com o respeito pela dignidade dos seres que se arrogam a representar. Invejo, no bom sentido, os pássaros pelo que são, pelo que me proporcionam, sem clara consciência. E quanto mais observo os pássaros mais me convenço que o mundo só será verdadeiramente livre quando adoptarmos a sua sabedoria e nos livrarmos de passarões. 

 

MG

 

 

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