A grande ilusão
O governo reuniu todos os seus avençados soltou o foguetório e apanhou as canas. A alegria invadiu rostos sisudos, soltou línguas e abriu gargantas a gritar hossanas. Afinal o mundo não acabou: voltámos aos mercados. Mas os mercados não são o alfa e o ómega do liberalismo económico? Mas estar nos mercados não é a consequência natural do funcionamento do capitalismo? Mas se vivemos num mundo capitalista como pudemos estar fora dos mercados?
A minha tese, se calhar absurda, é que nunca estivemos fora dos mercados. Antes pelo contrário estivemos bem dentro ou seja estivemos onde os mercados nos quiseram pôr, em função da sua conveniência. Tudo obedeceu a um plano rigorosamente concertado. Primeiro incentivaram-nos a usar crédito, depois mandaram as pontas de lança (agências de rating) a classificar-nos como lixo para subirem os juros e finalmente deram a estocada final: financiaram-nos via troika em troca de soberania e empobrecimento da população.
Se assim não fosse como se explica a chamada abertura dos mercados. Afinal o que mudou? Vejamos: a dívida subiu, o déficit mascarou-se com receitas extraordinárias, o PIB caíu, as exportações estagnaram, o consumo bateu no fundo, o investimento não se vislumbra. Em conclusão, depois do esbulho de direitos, estamos mais individados e mais pobres. Em suma a situação é pior do que aquela que levou ao chamado resgate. Se em todos os indicadores se piorou por que razão já podemos ir aos mercados? O que mudou foi a estratégia dos detentores do dinheiro que nós ganhamos. O que mudou foi que conseguido, em parte, o objectivo financeiro dos especuladores, passaram a uma nova fase. Na realidade nunca estivemos fora dos mercados. Estamos pura e simplesmente nas suas mãos. O resto é ilusão.