Voltei ao mercado
Estou feliz. Hoje voltei ao mercado. Passei ufano por entre bancadas de fruta, deliciei-me com o seu brilho colorido, impregnei-me do seu odor natural. Deambulei pelo corredor do peixe e apaixonei-me por uma chaputa e imaginei-a a bronzear-se num forno para me proporcionar prazer. Deslizei pela face dos talhos e lavei os olhos nas coxas de galinha. Só surgiu um pequeno problema: nada era de graça, tudo tinha um preço. Mas continuei feliz. Estava no mercado.
Meti a mão no bolso na procura de algumas moedas que tivessem escapado à voracidade dos impostos e à diminuição dos salários. Mas estavam estranhamente vazios. Apercebi-me então que estavam rotos e que as poucas moedas se haviam escoado pelo buraco da dívida ao crédito para sobreviver. Depois de muito rebuscar lá consegui descobrir alguns cêntimos esquecidos pela sua irrelevância. Contados e recontados deram para comprar uma cenoura. Adeus maçãs reluzentes, adeus chaputa deliciosa, adeus coxas bem torneadas. Saí, embevecido, com uma cenoura. Até posso ser burro mas já tenho a cenoura e estou feliz. Voltei ao mercado.
Zé Povinho
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