Os bons velhacos
"Já não te quero
O meu nome é Camila, mas os meus amigos do “face” conhecem-me por Cam. Nasci no bairro do Aleixo há quinze anos. Acabei de entrar para um curso especial de alunos com dificuldades. O que eu queria mesmo era deixar a escola. Mas do mal, o menos. Neste curso, com currículos alternativos, é tudo mais manual e eu tenho boas mãozinhas e outras coisas que agora não vêm ao caso. Já não tenho de aprender aquelas merdas, que me ensinavam na Básica. Quero lá saber quem foi o gajo que inventou este país. Quero lá saber se se chamava Afonso e era de Guimarães. Dessa história, o que registei, foi a explicação que me deu a Sal isto é a Salomé, que deixou a escola (finória) e foi trabalhar como acompanhante para um bar alternativo. Dizia ela: “o Afonsinho de Guimarães f*deu a mãe em S. Mamede e depois meteu-a na “prisa”. Por isso não admira que este seja um país f*dido”. Outra coisa que me irritava era darem alcunhas às palavras. Para mim, batatas são batatas. Ponto. Tem lá algum jeito dizer, hoje vou comer um substantivo (batata) com outro substantivo (bacalhau). Bem fez a Sal, que se livrou dessas tretas, e ganha a vida a dar tanga a cotas com muita grana."
Extracto do conto "Já não te quero" , do livro "Os Bons Velhacos"
Dia 2 de junho, estou na feira do livro de Lisboa, às 16H, para assinar o livro.Pavilhão dos Pequenos Editores.