O fim dos Romanov, há cem anos
Não sou adepto de qualquer regime ditatorial, embora do ponto de vista histórico os compreenda em determinados contextos. O regime absolutista dos czars, estava,no início do século XX já fora do seu tempo. Daí que tivesse sido derrubado, dando lugar a uma democracia parlamentar. Mas a burguesia pouca expressiva que a criou, não foi capaz de dar resposta a três problemas do povo russo, a pobreza, a exploração e a guerra.
Perceberam isso os comunistas, dirigidos por sectores da pequena burguesia, mas que conseguiu atrair para a sua órbita, o operariado bem organizado, no que ficou conhecido como os sovietes. É sobretudo com este operariado aguerrido e com o descontentamento do campesinato em regime de servidão, que vão derrubar o frágil poder democrático, dando corpo a um desejo imediato do povo russo, a saída da guerra.
O novo poder bolchevique, não destruiu a forma de poder altamente centralizado, adaptou-o aos seus interesses. A estatização de toda a economia permitiu aos comunistas controlar o poder económico e construir, em termos ideológicos, a sociedade sem classes. Na realidade nunca existiu, continuando a haver, com algumas nuances, uma sociedade dividida, sob um controle absoluto do poder comunista.
O assassinato bárbaro dos Romanov, faz cem anos, sem qualquer julgamento, mesmo dito revolucionário, foi o sinal das características de um regime concentracionário e dos mais sanguinários da história. Política e economicamente os Romanov já estavam mortos. O seu assassinato, nunca assumido, nem admitido mostra a face de cobardia de quem não respeita os valores humanistas. Nesse aspecto, herdou o pior lado do absolutismo czarista, um czarismo se czar.
Passado um século desvaneceu-se o chamado mistério do desaparecimento da última família do regime absolutista. Abatida e escondida na região onde estava detida. A Rússia cem anos depois ainda não se livrou do poder autoritário.O czarismo continua, assumindo outras faces, mas com a mesma essência totalitária.