Discurso sobre nada
Hoje apetece-me escrever sobre nada, mesmo sobre nada, ainda que nada seja.
Greves e mais greves, manifestações e mais manifestações. Todas na função pública. No sector privado está tudo como Deus com os Anjos. Uma harmonia suprema. Quando assim acontece é como se houvesse nada. É esse o mundo sem pecado.
Os professores estão felizes. Pararam as avaliações. Não há notas, não há nada para ninguém. Estes gajos do Governo são uma nulidade, o mesmo que nada, nem sabem contar. Chumbaram todos em matemática. Não acertam sequer na contagem do tempo de serviço. Confundem um nove com um dois e tal. Ainda se fossem as meninas do sorteio da liga, vá que não vá, gastam os neurónios a pensar nas unhas de gel. Mas os do Governo, valha-nos Deus.
Os outros funcionários públicos, quanto a isso nada. Estão feito sonsos à espera da luta dos professores. Se eles conseguirem pôr os tontos do Governo a contar, coisa complicada, quem sabe se não lhes cai a criança já criada no regaço. Nesta vida há sempre uns otários que vão para a cabeça do touro, levar marradas, enquanto outros assistem de camarote.
Mas para que não os acusem de nada fazer, a malta dos hospitais lá vão fazendo um protestozito por terem passado a trabalhar trinta e cinco e horas e não conseguirem dar conta do recado. Isso é coisa fácil: exigem quarenta horas por semana já , com mais uma grevezita, e fica tudo resolvido. Também os dos tribunais para que não pensem que fazem nada, lá tiveram os seus três dias de glória.
E a oposição senhores? Um nada absoluto. Os dos PCP até se aliam com a direita mais direita, sobre um tal imposto adicional, ao qual deram pernas para andar. O Bloco anda numa roda viva sempre a dizer "agarrem-me que vou-me a eles". A gaita é que ninguém os agarra e não vão. Zero, bola, nada. O PSD é como um Rio que corre da foz para a nascente, numa escuridão tal, que se confunde com um Negrão. Nem nada consegue ser.
E assim vai este país, do tudo ou nada. E como o tudo não existe contentemo-nos com o nada.
PS: Há uma coisa que não entendo: onde andavam os sindicatos desde 2011, que não se aperceberam que não estavam a contar o tempo de serviço? Hibernados? Ou achavam que não se passava nada?