Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

fla.jpg

 

 

Nos anos 50 os saudosos Parodiantes de Lisboa, criaram as expressões flausinas e báubaus para designar os jovens que se evidenciavam pelo estilo de vestuário e pelo comportamento irreverente para a época . As meninas eram representadas de uma forma estilizada, magricelas, tacão alto, vestidos coloridos. Os meninos usavam calças à boca de sino, jaquetas, sapatos de sola alta.
Eu, que sempre fui mais moço que menino, nunca me senti dentro desse mundo e nem tive o prazer de fliltrar com uma  verdadeira flausina. Os tempos passaram, o mundo mudou, os Parodiantes e o seu humor crítico deram lugar a outros protagonistas, a expressão flausinas e báusbaus deu lugar a designações mais adequadas a novas realidades. Hoje poucos conhecem o conceito.

                                                                           ***
Faço a minha merenda original, constituída por um galão ou meia de leite,  para não ser acusado de sexista pelas meninas do Bloco, que não ouso  descriminar em nenhum sentido, Acompanho a merenda ou o lanche, com pão com manteiga. Sento-me numa mesa, estrategicamente situada, e observo o panorama. Desfila, invariavelmente, gente comum: gajos e gajas, ciganos e ciganas,que demoram a assumir-se como gadjos, militares de ambos os sexos, que são e não são  paisanos (ou paisanas). O trivial. Não descrimino, em questões de género, mas confesso que na distribuição de olhares gasto mais "íris" com o feminino.  Enfim, ninguém é perfeito.


Vejo entrar duas garotas, que sem sair do presente, me fazem recuar ao passado. A minha alma está parva, perdoem-me o plebeísmo, mas nunca deixei de ser plebeu. É que as damas não são mais nem menos que duas flausinas. Que se passa contigo José? Piraste? Estás a ter visões? Viajaste no tempo? Regressaste ao passado? Foi a primeira ideia que me bateu. Belisquei-me e senti-me real. Tirando aquelas duas tudo estava no seu lugar. Conclusão: era o passado que regressava ao presente.


Uma era loura, estilizada, e deslizava dentro de uma saia travadinha. A outra, ruiva, um pouco mais nutrida agitava o vestido rodado com movimentos ondulantes. Sentaram-se numa mesa ao meu lado. Tão próxima que lhe sentia o odor dos anos 50 e 60. Inebriei-me! Não me importava de "comprar" as duas antes que regressassem ao seu mundo, desde que não se fizessem muito caras.Nos tempos que correm não convém evidenciar sinais de abundância. Andam para aí uns juízes(ou juízas) justiceiros(ou justiceiras) com os quais todo o cuidado é pouco.


. Colocava uma debaixo de um braço e outra debaixo de outro. Ia sentir-me seguro e amparado, pois os anos não perdoam, começo a precisar de bengala. Mesmo nos tempos que correm talvez gerasse falatório. Uns diriam “olha o velhinho que sorte que tem com duas filhas tão lindas”. Outros, escola redes sociais, aventariam “ olha o cabrão do velhadas abifado a duas febras que não consegue roer”. Sou plebeu na linguagem “estou-me borrifando, faço ouvidos de mercador, e sigo o meu destino: ser báubau uma vez na vida, mesmo que seja báubau bígamo.


Passeie o olhar pelas suas curvas, enfrentei os seus faróis com determinação e encandeei-me. Quando retomei a visão já as flausinas tinham desaparecido. Regressei ao meu presente rotineiro. Ao rame rame de um dia de primavera envergonhada. Café com leite, gente de todos os géneros, sem descriminação, cidadãos e cidadãs, mas flausinas “népia”. Hei-de regressar noutro dia Quero beliscar as flausinas para ver se são reais. Ou eu não seja um cidadão reconvertido em báubau. Tardiamente, mas mais vale tarde que nunca.

slap.jpgImagem NET

 

 

A liberdade de expressão é um conceito muito fluído.Quando somos nós que a usamos, vale tudo, até tirar olhos. Quando são os outros, cuidadinho com as palavras e o que elas significam. Só assim se entende que os articulistas que escrevem nos jornais o que lhes dá na real gana, se portem como virgens ofendidas, quando recebem troco na mesma moeda. Sabem os verdadeiros usurários da liberdade de expressão que nunca lhes acontece nada. Se o contraditório for feito com punhos de renda morre antes da nascença, se houver queixa crime por insultos, a coisa vegeta nas esconsas salas dos tribunais até chegar a mulher da fava rica. Por isso, quem se quer defender dos enxovalhos dos "críticos" que impunemente enxameiam a comunicação social, não tem outra alternativa que não seja aplicar a máxima" olho por olho dente por dente". Ou então fazer ouvidos de mercador, e deixá-los a falar sozinhos.

 

Na verdade nem todos temos sangue de barata, políticos incluídos. E se a maioria amocha, faz-se de peixe morto, em nome do politicamente correcto, sempre há um ou outro, que tira os punhos de renda e dá aos abusadores e desrespeitadores da liberdade dos outros, aquilo que merecem. Pode o dr. João Soares não ter competência para o cargo que desempenha. Não sei, nem é possível sabê-lo, num prazo tão curto. Pode até nem ser um poço de virtudes. Mas enquanto pessoa e enquanto ministro, merece o respeito de todos nós, "escribas" incluídos. Dizer de alguém que não tem qualificações, de ânimo leve e como dono da verdade é crítica rigorosa e honesta?  De facto, J. Soares podia ter metido a viola no saco, ter engolido insultos, disfarçados de críticas, como muitos fazem para defender o seu tacho, mas mandou os filtros às urtigas e respondeu à letra. Sim, porque respondeu a palavras, apenas com palavras. A bofetada propriamente dita não passou de figura de retórica. Ofendeu os que primeiro os tinham ofendido, mas apenas ele é que pagou o pato. Demitiu-se (foi demitido?) em nome da falsa moralidade.E tinha que assim ser para que o assunto não servisse de arremesso político. Nestas coisas vence sempre a hipocrisia.

Contra a corrente dominante compreendo a sua reacção. Ministro não deixa de ser pessoa. Como ele afirmou, também me assumo como pacífico, nunca bati em ninguém, mas em indivíduos que se escondem atrás da liberdade de imprensa, para "agredir"  outros a seu bel-prazer, estou disposto a dar o meu contributo para uns salutares tabefes, mesmo que sejam apenas verbais. Para mais não tenho cargos de que possa ser demitido. Esta é a única forma, eficaz, de mostrar a certa gente que a crítica tem regras e que pode ter duas faces. Ofenderam-se? Bem vindos à realidade.Bem vindos ao lugar dos outros.

01 Abr, 2016

Museu do Cinema

 

museu.png

 

Nos tempos do preto e branco, quando a NET nem sequer era uma miragem, havia na RTP um programa chamado Museu do Cinema. O cineasta António Lopes Ribeiro falava do cinema do tempo do mudo, com inteligência e humor, e o pianista António Melo acompanhava ao piano com música improvisada, as fitas seleccionadas. Lopes Ribeiro com a sua erudição, dava uma lição de cinematografia e calava-se para dar a palavra a Melo, que preferia substituir as palavras ditas pela mensagem sonora, construída pela simbiose entre os dedos e as teclas, para dar sentido às imagens. Mas espicaçado por Ribeiro " Ó Melo, diz lá boa-noite aos senhores espectadores" para mostrar que também falava, despedia-se com um "boa noute".

 

No tempo de diversidade e democracia mediática, de redes sociais abertas à vox populi, não há cão nem gato que não bote sentença sobre o que sabe, mas sobretudo sobre o que alguma vez saberá. Neste mundo maravilhoso, fazem-se amizades planetárias, trocam-se beijos e abraços etéreos, com desconhecidos amigos, rompem-se barreiras físicas, trocam-se mensagens de gostos, preferências, ficções pessoais.

Há louváveis excepções num mundo onde impera a ausência de civismo. Mais que opiniões, insultos. Mais que debate, arrogância, mais que esclarecimento, ignorância. Mais que  razão, disparate. Um big brother nivelado pelo primarismo. Que saudades do Museu do Cinema onde falava quem tinha alguma coisa para dizer e musicava quem sabia musicar. Para todos os que com humildade não incham de soberba, e não sobem acima do seu chinelo, uma "boa noute".

MG