Passos perdido
Temos uma democracia sui generis, e que poderá ser um caso de estudo. De facto, temos um Governo, mas dois primeiro-ministros, o que está em funções institucionais, e o que não sendo, ainda pensa que o é, e que se comporta como tal. O comportamento de Passos, quer na forma, quer no conteúdo, é de um chefe de governo, injustamente afastado e nesta perspectiva numa situação exilado à espera do regresso triunfante. Toda o ritual que o acompanha comprova esta teoria: a pose distante, o pin na lapela, símbolo marcante do governo cessante, a retórica discursiva, a imagem institucional. E de tal forma é convincente que até o primeiro-ministro real se confundiu.
Ao contrário do seu parceiro de coligação que, perdida a maioria, percebeu que era altura de sair de cena, Passos continua perdido na sua realidade. Na sua corte, ainda ninguém teve coragem de lhe dizer, que está na altura de virar a página, de se assumir como oposição. Continua a não aceitar o outro o "usurpador", e toda a sua estratégia se sustenta na resistência à ilegitimidade política da situação. Acantonado, espera a oportunidade para regressar do exílio, ao seu lugar por direito. Passo a passo, enreda-se na contradição de ser e não ser. Difícil questão.
MG