Correio da Manha: ter ou não ter ~
A perda de um til num título com muitos símbolos pode parecer insignificante. Mas não é. O til atribui à palavra manha o estatuto de manhã, principio de dia, com conotações positivas. Já com o til ausente, de uma penada, manhã não passa de manha. Ou seja, uma imagem de pureza é substituída por sonsice ou embuste. Digamos que o til dá ao Correio da Manhã uma marca de honestidade, coisa que não está na sua natureza.
Hoje o Correio perdeu o til. A Manha assumiu-se em plenitude. Foi proibido de divulgar notícias sobre o processo Marquez. Caiu o Carmo e a Trindade. Sem o til, comportou-se como puta ofendida. Aqui d`el Rei que está em causa a liberdade. De escusos esgotos saem fundamentalistas que falam de censura prévia. De olhos vendados não veem o que está em causa. Que que este órgão de maldicência vive à conta dos "milhões" de Sócrates. Sem Sócrates, sem as suas malfeitorias, sem as suas conversas telefónicas, sem as suas histórias de amor e dasamor, sem os seus opíparos jantares, o CM fica sem assunto. É certo que restam os casos passionais, a coscuvilhice cor de rosa, mas são coisas menores. Este jornal sem Sócrates é um não jornal que nunca foi. É um naufrago sem destino. E de qualquer modo, apenas está proibido de falar do processo judicial. De resto pode continuar a borboletear à volta de Sócrates, como um pirilampo à procura de luz.
A mim ensinaram-me, talvez mal, que a nossa liberdade acaba onde começa a liberdade dos outros. Esta definição significa, que a liberdade não é um conceito absoluto mas relativo. A relatividade pauta todos os sectores da vida. Contudo, na sua manha disfarçada por til, este jornal, considera que pode devassar a vida alheia, fazer acusações sem provas, traçar ficções como se fossem realidades, julgar sem ser tribunal,insultar, denegrir, invadir, no fundo, a liberdade dos outros com total impunidade.
O que o CM pratica não é a liberdade de expressão é a liberdade de opressão e é isso que está em causa. Quando entender que liberdade significa respeitar os outros, independentemente, de quem são, que liberdade não é sinónimo de ódio pessoal, de vingança, de perseguição, pode pretender dar lições de liberdade. Quando praticar um jornalismo sério, rigoroso, credível, independente, nem precisa de til para ser, de facto, um jornal. O que não é, nem nunca foi.
MG