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Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Um dia, o dito caso Marquês,  irá fazer jurisprudência. Irá mostrar como o poder judicial, escudado em normas processuais, pode exercer um poder discricionário. Ver-se-à que um juiz e um procurador todo-poderosos, com a conivência da Procuradora Geral da República, mantém preso preventivamente, sem apresentar uma prova do que é indiciado, um cidadão que até foi primeiro-ministro de Portugal.

No libelo de acusadores armados em justicialistas ,encontra-se uma vaga e difusa suspeita de corrupção. Suspeitam que o cidadão José Sócrates, terá recebido da conta de um amigo somas de dinheiro consideráveis, que na realidade lhe pertencem. Terá sido montado um esquema, no qual o ex-primeiro- ministro era  uma espécie de sócio secreto e clandestino do amigo empresário. No tal contrato, Sócrates receberia uma percentagem dos lucros, por ter aberto portas para negócios de empresas do fiel amigo. Todo este arrazoado está apenas baseado na "convicção" dos magistrados. Provas? Zero! 

O certo é que o homem, está atrás das grades, sem acusação à vista. As razões invocadas para esse acto limitador da liberdade individual são perigo de fuga e perturbação de inquérito. Perigo de fuga? Como é possível alegar perigo de fuga a um indivíduo que veio do estrangeiro para se colocar nas mãos da justiça? Mais que absurdo é caricato. Perturbação de inquérito? Ao que consta a investigação decorre à cerca de três anos. Então se durante esse longo tempo não houve perturbação porque pode haver agora? E se durante esse período, ao qual se acrescenta o tempo de prisão, não se colhe uma prova que permita acusação, porque persistem os dignos magistrados, na sua saga? Incompetência ou má fé?

Mas o mais absurdo é que o cidadão Sócrates já está condenado pela opinião pública. E tudo leva a crer esse era o principal objectivo da acusação. Totalmente cumprido. Desde a prisão mediática até às fugas de informação selectiva, passando pelos acórdãos da comunicação social, onde se distingue o Correio da Manhã, tudo parece controlado ao milímetro. Quando o caso marina em banho-maria, entra mais um ingrediente. Lança-se mais uma suspeita. É uma constante fuga para a frente, tendo sempre como prova a convicção.  Cheira a "vendetta" política.

Esta situação assusta e devia assustar até aqueles que, por ódios pessoais, rejubilam com a  humilhação de um cidadão que continua privado da liberdade, numa total inversão dos seguimentos processuais num estado democrático.  Isto é, em vez de se reunir provas e acusar, prende-se para investigar. Com esta justiça que inverte as normas, numa manifestação de poder sem limites, está em causa não só a liberdade do cidadão visado, mas a de todos nós. Por isso este é um caso estranho que ultrapassa as fronteiras do estado de direito. E devia preocupar os políticos eleitos democraticamente, que escondidos atrás do "para o justiça o que é da justiça, assobia para o lado. Está cada vez mais claro que este caso está refém de uma estranha justiça. De uma forma ou de outra fará jurisprudência.

MG 

 

14 Jun, 2015

Todos sabemos

Todos sabemos que o Presidente da República é apenas presidente dos seus correligionários partidárias. Só não sabe quem não quer saber. Todos sabemos que é o abono de família deste governo. Todos sabemos que de uma forma mais ou menos descarada, faz campanha eleitoral a seu favor. Todos sabemos que acusou o governo anterior de exigir demasiados sacrifícios. Todos sabemos que os redobrados sacrifícios impostos nesta legislatura não são demasiados. Antes pelo contrário, são virtuosos. Todos sabemos que usa dois pesos e duas medidas.

A desonestidade é uma das suas grandes virtudes e a sua matriz. Fala dos políticos como se ele não o seja, nem o tivesse sido. Desonestidade intelectual. É o político com mais anos de poder desde a queda da monarquia. Diz à boca cheia que só dá posse a um governo que tenha maioria, o que se significa que se o PS ganhar as eleições sem maioria absoluta, se prepara para manter este governo em funções até ao final do seu mandato. Desonestidade  política e golpe de estado se assim for. Acaba de ultrapassar todos os limites ao tomar partido no caso da TAP e mandar farpas de mau gosto ao líder do PS, como um vulgar politiqueiro..

Sua excelência pode ter sido eleito por maiorias, e isso pode encher-lhe o ego, mas não lhe dá o direito de entrar na luta partidária, beneficiando uma parte, nas funções que desempenha.  Desonestidade moral. Pelos vistos o facto de ter sido eleito dá só por si o poder de desrespeitar as suas competências institucionais. Interrogo-me se esta forma de agir não representa colocar-se fora dos poderes que a Constituição lhe confere.

 
 

Ir a uma feira do livro é, para um viciado em livros, como para um católico militante ir em Maio ao santuário de Fátima. Como o católico não vai à espera de uma benesse imediata, como um milagre, mas por sentir uma necessidade espiritual, o adorador da galáxia de Gutemberg não vai pela necessidade de  adquirir o livro A ou B, mas para um encontro especial com o espírito das letras. Num certo sentido, ambos cumprem um ritual.

 

Ir em Maio à feira o livro de Lisboa, mãe  de todas as feiras, tem um sabor especial. É como viajar por dentro dos livros. E para os amantes  de livros à antiga, estes são papel, tinta, letras, imagens. Existem, têm substância, satisfazem todos os sentidos: despertam o tacto, atraem o olhar, despertam a audição no restolhar das páginas, interrogam com a sua mudez, não são indiferentes ao olfacto. Ali estão discretos na sua sabedoria, humildes nas milhares de ideias e mensagens que guardam, disponíveis e ao alcance de qualquer mão. Deixam-se folhear sem protesto, felizes por um convívio aberto com a sua razão de ser, os leitores. Ali voltam a ter um feliz encontro com os criadores que lhes deram vida e asas para voar.

 

Os rituais alimentam a fé. As feiras de livros, em qualquer lugar, são para além de lugares de divulgação e comércio, sítios onde se retoma a ligação umbilical com a aventura humana. Ali está o ADN da humanidade, a palavra escrita, o registo da memória, a prova de temos um passado e a garantia de que teremos um futuro. No espírito daquelas páginas está o conhecimento acumulado e a alma de todos os que construíram. Hamurabi, Homero, Hesíodo, Vergilio, Heródoto, Sócrates, Arquimedes, Aristófanes, Cícero, Horácio, Santo Agostinho, Leonardo de Vince, Camões, Galileu, Newton, Stendhal, Vítor Hugo, Cervantes, Anderson, Eça, Saramago...são nomes que de repente me vêm à memória, entre tantos outros que é impossível enumerar.

 

Os livros na sua quietude de papel são organismos vivos . Se os entendermos, se os vivermos, se com eles convivermos, entramos na sua intimidade e viajamos, ao fim e ao cabo, por dentro de nós próprios. Em Maio esperam-nos no parque Eduardo VII, em Lisboa. De braços abertos.

10 Jun, 2015

O alfa e o ómega

No princípio era o caos, quero dizer a bancarrota. No fim era o paraíso, dito de outro modo a prosperidade. Entre o início e o fim era o nada absoluto. Logo nenhum pecado. A passagem do caos à ordem foi instantânea, como o pudim assim chamado. Não houve recessão, nem perda do poder de compra, nem baixa de salários. nem aumento de impostos, nem desemprego, nem dívida, nem empobrecimento, nem drama, sacrifício. Podíamos levar a ladainha até ao infinito que não encontrávamos uma réstea de luz. Só escuridão. Era como se alfabeto grego se resumisse ao alfa e ao ómega. Mas não é de alfabetos que estamos a falar. Falamos do discurso de sua excelência, o senhor presidente da República no 10 de Junho. Um zero quase absoluto. Um apagão de quatro anos. Não sei quantas palavras usou, mas o que disse de concreto cabe apenas numa linha e diz-se num segundo. Este governo, o de sua excelência, criou um novo mundo num passe de mágica. Deus precisou de sete dias. Formidável.

MG

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Este é o homem que prometeu o céu de deu o inferno. Este é o homem que garantiu que não aumentava impostos e aumentou. Este é o homem que afirmou que não cortava salários e pensões e cortou.

Este é o homem que diz que recebeu o inferno e chegou ao purgatório. Este é o homem que empobreceu o povo e diz que o vai enriquecer. Este é o homem que afirma que sem ele será o caos.  Este é homem que diz e desdiz. E ainda há quem acredite nele? Dos crédulos será o reino dos céus. Entretanto penitenciam-se no inferno. 

MG

 

 

Sou sportinguista sem filiação em qualquer facção do clube. Nem brunista nem anti-brunista. Não me identifico com comportamentos,e com certas atitudes do Presidente. No entanto, a forma como lidou com a situação financeira procurando equilibrar despesas e receitas e diminuir custos surpreendeu-me. Apesar disso, soube escolher bons treinadores e com os meios existentes conseguir bons resultados.

A sua atitude guerreira disparando em todas as direcções e arranjando conflitos judiciais por tudo e por nada, processos atrás de processos, começaram a deixar-me preocupado. A sua sede de protagonismo, a sua personalidade de superego, confundindo a sua pessoa com o Sporting, causaram-me fortes  receios. Contudo, continuei a acreditar. Ainda há pouco tempo dei a minha contribuição para a missão Pavilhão, mas já estou arrependido.

As minhas desconfianças comprovaram-se. O homem não respeita os contratos assinados. E nesse aspecto faz-me lembrar o senhor Vale e Azevedo de má memória. O despedimento com justa causa(?) de um jovem e promissor treinador, que acabou de vencer o primeiro título em sete anos, foi a cereja em cima do bolo. Ética, respeito, compromisso não fazem parte do seu vocabulário.

Depois da contenção, depois de recusar um único reforço ao seu treinador, eis que num estalar de dedos, o dinheiro começou a jorrar a rodos. Contrata-se um técnico que vai ganhar 15 milhões em três anos. Fala-se em mais dinheiro para reforços sonantes. Estranho. Sobretudo porque o dinheiro não brota das pedras. Mas pode brotar do petróleo. Não encontro outra explicação: há petróleo em Alvalade.

MG

Nos tempos do farueste havia um pistoleiro chamado Bruno The Kid. Julgava-se rápido no gatilho, embora o não fosse. Dizia-se defensor da lei e da grei, defensor da moral e dos bons costumes, dos fracos e dos oprimidos. Um dia, não se sabe bem como, chegou a sherife. De pistola no coldre tinha o vício de disparar. Por tudo e por nada. Mais por nada que por tudo.De crachá na lapela confundiu a lei consigo próprio. O lema era "a lei sou eu". Numa azáfama insana começou a disparar contra tudo e contra todos. Primeiro atirou contra os putativos inimigos. Depois passou aos adversários. Tudo tiros de pólvora seca. Virou-se então para os amigos, continuou a flagelar a família. Olhou e não havia mais ninguém em quem atirar. Estava só. Atirou então contra os próprios pés. Esqueceu-se que precisava deles para andar. A lei ainda ficou mais fora de lei.

Quando era criança passou na aldeia onde vivia, um filme projectado pelo cinema ambulante, chamado Chaimite sobre as campanhas em África. Uma das cenas mais fortes era a prisão do u. A moçada pegou na cena de caras e transformou-a numa brincadeira preferida. Ali andávamos todos atrás do Gungunhana para o prender e humilhar. Depois, terminada a brincadeira, voltávamos ao nosso rame rame.

Crescemos e que eu saiba somos todos cidadãos normais. Ninguém ficou afectado na sua personalidade ao ponto de andar a perseguir e a maltratar negros. Mesmo depois de uma sangrenta guerra colonial, passamos à frente e somos uma nação multicultural.

Vem isto a propósito da histerismo que por aí vai, sobretudo nas redes sociais sobre uma brincadeira aos polícias e manifestante, organizada pela polícia de Portalegre no dia da criança, Cerimónia programada cujo último intuito seria incutir nas crianças princípios de violência. Não é seguramente neste tipo que esses hábitos se adquirem. Haverá outras origens para fenómenos de agressividade muito mais subtis e não controlados.

A conclusão que tiro disto é que a vox populi que se enraizou no facebook, como quem tem o rei na barriga, toma posições radicais pautadas pela irracionalidade. Veja-se o caso do abaixo-assinado para evitar o abate de um cão perigoso, que matou uma criança. Preocupa-me este poder discricionário que só actua neste tipo de assuntos marginais e nunca mexe uma vírgula para lutar por objectivos sobre a exploração dos seus semelhantes.

MG

 

Em princípio uma boa notícia: Blatter demitiu-se. Ultrapassado pelas circunstâncias não teve alternativa. Governou a FIFA como um feudo pessoal. Estabeleceu relações de dependência de tipo vassálico. O resultado foi a criação de uma rede de interesses que colocou o particular, acima do geral. O governo do futebol mundial é uma autocracia. Os votos são comprados a corrupção é o sangue do sistema. Vamos ver o que vem a seguir.

Esta forma de gestão do mundo no pontapé na Bola, onde gira muito dinheiro, não tem, no entanto, reflexos directos na vida dos cidadãos. Já o mau governo de um país tem repercussões imediatas na qualidade de vida da sociedade. E se Blatter percebeu que o seu governo e as malfeitorias que lhe estão associadas, tinham os dias contados, os blatters que nos governam, depois de terem feito dos portugueses gato-sapato e capacho,insistem em continuar a passear a sua arrogância, sem um pingo de vergonha. Mais troikistas que a troika, apresentam-se como os salvadores da pátria que vilipendiaram. Apresentam-se como bombeiros, quando acenderam o fogo. O blatterismo anda por aí. Se a indignação não for uma palavra vã, se os eleitores não navegarem num mar de ignorância e de indiferencia, terão o que merecem: ser enviados para o limbo de que nunca deviam ter saído.

MG

Entre viver para comer ou comer para viver, a escolha é complicada. As duas opções fazem sentido. E eu como todos os viventes cumpro a lei da natureza pela sobrevivência. Mas também também não dispenso uma comidinha bem saborosa. Quem a dispensa?.E se o Senhor nos fez com papilas gustativas é porque não nos quis privar dos sabores dos alimentos. Pelos vistos só proibiu a maçã.

Digo porque sei, de fonte segura, que já nos tempos idos, se comia, quando havia comida, com imenso prazer. Uma das iguarias que fazia salivar os indígenas era uma lagosta mesmo ao natural. Dando um pulo no tempo, está ainda na memória de muita gente, o espectáculo gastronómico dado pelos roedores de crustáceos de Cacilhas, no tempo do PREC. Foram tempos de prosperidade, à sombra da valorização salarial da malta dos estaleiros navais. Que lhe tenha feito bom proveito. Nem sequer os invejo.

Fujo á regra geral. Esses bichos de casca não me abrem o apetite. A não ser que a lagosta esteja bem bronzeada e com sabor a sal. Mas seja como for, prefiro antes uma boa febra de porco ou porca pretos ou de outras cores, bem portuguesa, no primeiro ou no segundo sentido. Ao natural, com muito ou pouco molho. E como não sou esquisito, não faço questão de serem só das mais tenrinhas. Mesmo as mais maduras, se vierem, também são bem recebidas pelas, gustativas, olfactivas, ou tácteis. Isto porque todas têm direito a serem desejadas. Em qualquer sentido, bem entendido. E se cair alguma chouriça na ementa não deixa de ser um bom aperitivo.

Outro prato que me delicia, são as iscas com ou sem elas. Se for com elas melhor, é como atingir o paraíso, mas se não for é como se fosse. Usa-se a imaginação. E se vier uma lasca de bom lombo, nem penso duas vezes, não vá outro mais expedito deitar-lhe a unha. Maminha, um prato mais abrasileirado, também me tira do sério. E então bem aquecida faz-me sentir o calor dos trópicos, sem nunca lá ter estado.  

Para sobremesa não recuso uma barriga de freira. Um pitéu de fazer água na boca. É doce, cremosa e única. Ao que consta, o nosso rei D.João V, era grande apreciador, sobretudo das do Convento de Odivelas, onde ia comê-las frequentemente. Contudo, é um pitéu caro. Não está ao alcance de todas as bolsas. Pelo menos não há o risco de cair no pecado da gula. Diz-se que depois de provadas é comer e chorar por mais.

Enfim, concluo:  comer só para viver, pode ser necessário, mas é uma sensaboria. Viver para comer, em qualquer sentido, é o cerne da vida. E bem fez a Eva em dar uma dentada na maçã, desobedecendo às prescrições divinas. Até aí aquilo não atava nem dasatava. Digamos que sem saber escreveu direito por linhas tortas. Bem haja. Se assim não tivesse sido ainda por lá andavam num bocejo eterno. Nem as febras pululavam por aí, nem esta croniqueta podia ter sido escrita. 

MG  

 

 

 

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