Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Não sou um incondicional de Bruno de Carvalho, mas também não faço parte daqueles opositores que lhe dão ferroadas, a torto e a direito e por tudo e por nada. Mantenho uma atitude equidistante. quando tenho que elogiar elogio, quando tenho que criticar critico, apesar de Bruno se apresentar como uma espécie de apóstolo que acredita que sem ele acontece o caos.

Segundo vi na comunicação social, Bruno teria dito que, no futebol profissional, o "Sporting apenas atingirá as metas mínimas."  Se o disse, discordo. O que se passou esta época, na realidade, deve ter uma leitura oposta, isto é, se o Sporting mantiver o terceiro lugar, quase garantido, e se vencer a final da taça de Portugal, atingirá as metas máximas. Com base numa apreciação justa e realista e tendo em conta o orçamento e o plantel dos adversários directos, leia-se Benfica e Porto, não poderia fazer melhor. E se o fizesse, estaríamos perante um acaso com laivos quase milagrosos. Todos os observadores que têm dois dedos de testa percebem isto. Se Bruno de Carvalho não o vê é porque não quer. E o pior cego é o que se recusa a ver.

MG

Há uns tempos, um político convidado para dançar por um adversário, disse, para justificar a aceitação do convite: "são precisos dois para dançar o tango". Sendo correcta a justificação foi errada a decisão. Tanto dançou, que deixou o par passar-lhe a perna. De tal modo que já não dança mais. Nem tango, nem foxtrot. Está afastado de qualquer dança. Até ver.

O outro, o que o levou ao engano, é que dança a seu bel-prazer. Arranjou um novo parceiro para as suas danças. Agora, o dito cujo, prefere a valsa. E tanto a dançou que até foi acusado de ser mais "valsista" que os reais valsadores. E de tal maneira deixou o seu par a fazer de ama seca, que este, amuou e disse: com ele não danço mais, irrevogavelmente.

Mas a porra, pasme-se, é que, mesmo irrevogavelmente, voltou a dançar. É que na sua arte de dessimulação, o outro, prometeu, ao novo par, uma nova dança, o vira do Minho. Ou seja, ora agora viras tu, ora depois, logo se vê,se  viro eu. E como era de esperar, está-lhe nos genes, nunca virou gaita nenhuma. Continuou alegremente nas danças e contradanças bávaras.

E, irrevogavelmente, vão juntos para um novo baile. E, o outro, e o novo par velho, já ensaiam nova dança. Nem mais nem menos que a dança do ventre. Pensam assim distrair o pagode, prometendo-lhe mil virgens, um dia, lá para as calendas. Estou curioso para ver se o zé pagante tem o discernimento de interromper a "bailação" e os manda, mas é, dançar o corridinho.

MG

PS-E que este, que é o Dia Mundial da Dança, nos traga novos dançadores que dancem ao ritmo da nossa música.

28 Abr, 2015

Sorrir

Resultado de imagem para dia do sorrisoimagem net

 

28 de Maio. Simbolizou a revolução nacional que deu origem ao Estado Novo. Com a queda a do regime salazarista perdeu esse importante estatuto. Passou a ser apenas mais um dia, como tantos outros. Agora foi compensado, justamente, depois de tanto tempo associado a uma ditadura conservadora, com um novo título. E que título: Dia do Sorriso.

E há lá melhor coisa que o sorriso. Não há ninguém que não o possua e que não o possa usar. É das poucas dádivas divinas verdadeiramente socialista/igualitária. E das poucas que não podem ser sonegadas pelos senhores do mundo. Em suma, alegremo-nos por pudermos usar dessa bênção sem constrangimentos.  

Está provado, cientificamente, que rir faz bem à saúde. E o sorriso é a antecâmara do riso. Sorria pela sua saúde. Hoje e todos os dias.

MG

Passou mais um dia 25 de Abril. Alguém chamou à sessão solene na AR, a sessão soneca. Estas comemorações no hemiciclo merece bem o epíteto. Discursos de circunstância, sonolentos, vazios de conteúdo. Um frete que todos os presentes esperam que acabe depressa. Mas as manifestações comemorativas tocam pelo mesmo diapasão. Transformaram-se num ritual, onde os ritos se repetem, mecanicamente, de ano para ano. E apenas um grupo de fiéis se empolga com a cerimónia, igual a tantas outras a que os mesmos sempre comparecem quando convocados pelo seu clero. É a opção entre a soneca e a sonolência.

O 25 de Abril foi na sua essência um movimento libertador. Derrubou um regime que estava moribundo e se arrastava numa agonia à espera de misericórdia. Devolveu à nação o direito de escolher os caminhos do seu destino colectivo. Consolidou o processo democrático com os seus defeitos e virtudes. Agora, os portugueses, podem decidir a vários níveis quais são os seus governantes. É certo que nem sempre decidem bem. É certo que os oportunismos se aproveitam da ingenuidade dos eleitores. Mas na contabilidade do deve e do haver, o saldo a favor dos valores de Abril, é muito positivo.

Sem falsa modéstia, também me considero um cidadão de Abril. Tive a grande honra de ter visto cair o regime no largo do Carmo. E como outros, ter dado com a minha presença, uma pequena contribuição, para o êxito desse evento. Contudo, o 25 de Abril não foi apenas um momento, mas um processo atribulado até ao 25 de Novembro. E continua a ser um processo contínuo de actualização numa realidade dinâmica. E isso é o mais importante. As comemorações, com mais ou menos cravos, são o que são, cerimónias do foro do simbólico. E assim sendo, cada vez mais sonolentas.

MG  

 

  

 

 Ver Anexoimagem net

Às sete em ponto da manhã

Precisamente

Da noite sem fim emergiu o dia

“Inicial e limpo”

De luz, de sonho, de alegria,

E depois do adeus à iniquidade

O povo é quem mais ordena

Dentro de ti ó cidade?

Às sete em ponto da manhã

Pergunto ao vento que passa

Notícias do meu país

E vento não se cala

Em sons clamando diz:

“Aqui posto de comando das

Forças Armadas"

Liberte-se a liberdade

"Grândola vila morena

Terra da fraternidade".

Eram sete em ponto da manhã

Cai o Carmo e a Trindade

E o povo é quem mais ordena

Dentro de ti ó cidade.

MG

 
 

sem nome.png  teresa.jpg

capela.png

Zeca Afonso

No centro da Avenida
No cruzamento da rua
 Às quatro em ponto perdida
Dançava uma mulher nua
A gente que via a cena
Correu para junto dela
No intuito de vesti-la
Mas surge António Capela
Que aproveitando a barbuda
Só pensa em fotografá-la
Mulher na democracia
 Não é biombo de sala
Dizem que se chama Teresa
Seu nome é Teresa Torga

Muda o pick-up em Benfica
Atura a malta da borga
Aluga quartos de casa
Mas já foi primeira estrela
Agora é modelo à força
Que a diga António Capela
T'resa Torga T'resa Torga
Vencida numa fornalha
Não há bandeira sem luta
Não há luta sem batalha

 

O 25 de Abril de 74 começou por ser uma mensagem, em tons quase épicos, nas ondas da rádio. Depois foi ganhando corpo nas ruas e na euforia das gentes. Faz amanhã quarenta e um anos. Nesse dia a liberdade passou por aqui, gostou e ficou.

Teresa Torga começou por ser mais uma canção na voz de Zeca Afonso. "Mulher na democracia não é biombo de sala". Liberdade de manifestação, liberdade de expressão, "mas chega António Capela que aproveitando a barbuda só pensa em fotografá-la". Para além do simbolismo que a figura representa no episódio real que deu origem ao poema, "não há bandeira sem luta não há luta sem batalha", quem foi Teresa Torga?

Teresa Torga não é apenas um nome. Existiu e tem uma história. Artista do musical antes da revolução de Abril  "ela tinha sido fadista, actriz de teatro de revista e vivido durante algum tempo no Brasil. Reportava também a sua condição de paciente de um conhecido hospício".(citação do texto, gentilmente. enviado por Alan Romero em Abril de 2011) 

Teresa Torga deixou de ser apenas musa de canção e paradigma dos direitos da mulher, graças à divulgação do blog "Rua dos Dias que Voam" que recuperou uma entrevista sua dada à revista Plateia, e ao empenho do jornalista e investigador Alan Romero que lhe recuperou o rosto e a voz . Ganhou corpo e vida. Viverá .

Da lei da morte se libertou sobretudo devido à liberdade que Abril abraçou. Da liberdade de expressão que permitiu que fosse notícia de jornal (Diário de Lisboa) e personagem ficcionada por José Afonso "No centro a da Avenida  No cruzamento da rua As quatro em ponto perdida  Dançava uma mulher nua". Em mais uma efeméride do dia que pôs fim à ditadura, aqui quero recordar, de novo, Teresa Torga para que a sua memória viva no poema que a ressuscitou e no imaginário de todos aqueles que se tem interessado pela sua experiência de vida.

MG 

 

 

 

 

 

  

 

Os centros comerciais são hoje uma mancha na paisagem urbana deste país à beira mar. São uma espécie de Meca da sociedade de consumo. Ir a esses lugares de compras e encontros tornou-se um vício colectiva. Não me quero armar em iconoclasta. Não fujo à regra. Vai não vai dou comigo preso dentro desses espaços. Calcorreio corredores mais ou menos adornados por outros passeantes, mas fujo às promessas de felicidade, que como sereias da ilha dos amores, nos chamam a cada passo. Mas há uma tentação a que nunca resisto: veste-se de papel, alimenta-se de letras, odoriza-se de tinta.

A minha perdição nas catedrais da nossa ilusão de felicidade, são as livrarias. Dentro delas vivem os livros e dentro deles as palavras agrupadas em linhas, que nos permitem viajar por mundos reais ou imaginários. Linhas como carris por onde circula o olhar numa viagem sem limites. Nas páginas de cada livro mergulhamos num mar de saberes, de emoções,de memórias infindas. É aí que me perco, que esqueço noções de tempo e espaço, que vivo em mundos paralelos, que me esqueço de mim e das hipocrisias de um quotidiano de horizontes limitados. Perdido numa livraria, perdido entre livros e nos livros, acabo por me encontrar no encontro comigo mesmo.

MG   

 

No tempo em que o pudor era um travão à linguagem mais desbragada, costumava dizer-se de um cidadão com comportamento exemplar, diria quase ascético, em relação a vícios que "não fuma, não bebe e não...". A última palavra, da trilogia pecaminosa, ficava omissa, mas todos a percebiam. E se havia coisa que na puta da vida que um macho, para mais latino, não apreciava, era que pusessem em causa a sua masculinidade. E daí que a afirmação varonil, começasse, desde tenra idade, a ser comprovada com a iniciação de dar umas passas em grupo e a emborcar uns copos de tintol. E ás vezes até havia sessões para demonstrar a virilidade do instrumento. E para não ser acusado de sexista, esclareço que não me  pronuncio sobre o género feminino porque não falo do que não sei.

Vem este longo intróito a propósito de ontem ter sido o dia do café. Tal evento trouxe-me à memória que foi por aí que começou o meu vício na bebida. Para que não haja mal entendidos sobre o meu lugar na trilogia pecaminosa. Pequeno e inofensivo vício, que me foi incutido pelos meus avós, quando todas as noites antes de ir para a cama, me serviam uma saborosa tigela do precioso néctar. Claro que era um café pobre em cafeína e em consonância com quem era pobre de recursos e portanto de grandes vícios. Foi também com os mesmos anciãos que comecei a beber o meu copito de palheto. A ti Amélia, minha avó, a propósito, estalando a língua dizia "é este copito que me traz de pé". Quanto ao tabaco, apesar de ter chupado umas fumaças, nunca me tornei dependente da nicotina, graças à estratégia da minha mãe que me salvou desse vício.

Fiquei consumidor de café e de vinho qb. Não nego que algumas vezes, especialmente em eventos sociais, ultrapassei os limites e pelo menos uma vez, sem exemplo, pisei a linha do coma alcoólico. E se é verdade que num jantar de fim de curso derramei, desastradamente, um copo de carrascão no vestido de seda de uma colega, no fundo fui sempre um"bêbado" divertido. Contudo, não me considero um viciado da bebida, café ou vinho, mas o mesmo não posso dizer do vício omitido da trilogia. Essa foi sempre a minha grande fraqueza, pois nunca consegui resistir à sedução de qualquer cara linda, independentemente de etnias ou religiões. Não consegui resistir e ainda hoje, na idade para ter juízo, não resisto. Consola-me o facto de ninguém ser perfeito. Uns porque se esquecem de pagar impostos, outros porque se perdem nos prazeres da carne.

Enfim, fico feliz por o café, esse companheiro de longa data, finalmente ter o seu dia. E ainda hoje é a cereja em cima do bolo, isto é, remata a refeição, regada com um bom vinho português. Já o tabaco, mesmo depois de uma sessão tipo 50 sombras de Grey, quero que se foda.

Longa vida para o café, viva o senhor vinho e vida eterna para aquela coisa que por pudor, adquirido na formação tradicional, não posso nomear.  

MG

Resultado de imagem para eduardo galeano frases  Mesmo os livros maus são livros e por isso sagrados

                                                                                                           Gunter Grass

 

 

 

O que têm em comum Gunter Grass e Eduardo Galeano? Nasceram  em continentes diferentes. Viveram realidades diversas. Tiveram percursos de vida ímpares. Apesar de todas as diferenças, comungam do mesmo amor às artes, da mesma entrega à escrita. Seguramente venderam a alma aos livros. Comprovadamente caldearam-se em inícios de vida atribulados e difíceis, mas ricos das experiências que permitem ficcionar o real, sem o desfigurar. Parafraseando Galeano "não são feitos de átomos mas de histórias".Partiram no mesmo dia para parte incerta. No entanto, continuam por aí, pois são feitos de histórias.

MG

Pág. 1/2