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Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Os rapazes do pin na lapela ganharam as eleições legislativas montados em mentiras e equívocos. Colocaram estrategicamente os seus tentáculos de comunicação. Criaram uma ficção, que proliferou como bolha salvadora, no desânimo latente, propiciado pela crise internacional. Conseguiram passar a ideia, que as razões da austeridade que começava a proliferar, se deviam à dívida externa e aos gastos excessivos dos cidadãos e do Estado. E como responsáveis por essas dívidas havia apenas um responsável. Como escrevia uma das suas apóstolas era um delinquente político que respondia pelo nome de Sócrates. Curiosamente, esses profetas das malfeitorias socráticas, estão, agora, desaparecidos em combate. Mas tiveram um papel brilhantes: venderam bem o presente envenenado que ofereciam à nação.

 

Passaram três anos que parecem trinta. Eis o resultado em síntese: empobrecimento dos mais pobres, destruição do tecido  económico, redução de postos de trabalho, cortes e mais cortes salariais e dívida cada vez mais dívida. Com excepção feita ao Tribunal Constitucional, não tiveram qualquer oposição. Contaram com uma extrema esquerda egocêntrica e desmiolada, que teima em viver na estratosfera, composta por seguidores lobomotizados e que obedecem e pensam por uma única cabeça. Beneficiaram do apagamento de um PS incapaz de assumir o passado (bom e mau) e que se eclipsou em indecisões, que o cristalizaram num presente virtual sem futuro. Respaldaram-se à sombra de uma presidência da República amorfa, caquéctica e colaborante. Que melhor caldo de cultura precisavam para fazerem desta nação secular uma espécie de Tecnoforma institucional?  Que melhor ambiente podiam desejar para se arvorarem do alto dos seus pins em  impolutos salvadores da Pátria.

 

O fim anunciado da direccão socialista, que ajudou ao regabofe, trouxe uma lufada de esperança a um povo aviltado e desrespeitado sem escrúpulos e sem vergonha. A direcção que aí vem tem um trabalho hercúleo para repor a dignidade perdida, e colocar o país na rota do desenvolvimento. Mas não se espere de Costa e da sua equipa uma espécie de milagre dos peixes. Não é um Messias. Antes pelo contrário. É tão humano como qualquer um de nós. Não se peça à Costa, como tenho visto em muitos debates, que apresente já um programa de governo detalhado. O que cabe a Costa é começar a construir a alternativa de mudança a médio prazo. É preciso sair deste ciclo de governação de vistas curtas, balizado por interesses obscuros, que marca cada legislatura. Cabe a Costa aproveitar a dinâmica criada com as primárias, para manter acesa a esperança, de que se pode mudar e que há outros caminhos. Por esses caminhos, temos que ir, dando um passo de cada vez. O mais imediato é mandar os rapazes dos pins brincar aos símbolos da nação, para o recreio da infantibilidade política.

 

MG

27 Set, 2014

O efeito Irina

O Cristiano Ronaldo tem como imagem de marca, para além de outras qualidades, marcar muitos golos. Daí que parecesse estranho a sua irregularidade concretizadora e exibicional,  pelo menos desde o campeonato do mundo. E não faltaram explicações. Para uns era a coxa, para outros o rotuliano. Coisas relacionadas com as pernas do artista. Nunca concordei. Sempre pensei que o problema estava na cabeça. Ou dito de outro modo, é a psicologia estúpido.

 

O facto é que não se vislumbrava qual a razão desse eventual distúrbio. O rapaz tem uma vida digna de inveja. Eis senão quando, a imprensa cor de rosa, levanta um pouco do véu, do possível  transtorno emocional. Começa a circular a noticia que o namoro do craque com a Irina já tinha tido melhores. Havia até quem adiantasse que esse relacionamento era chão que já tinha dado uvas. E aí podia estar a ponta do iceberg da seca de Ronaldo. E com razão, pois a moça é de fazer parar o trânsito.

 

Mas perante o espanto geral, o Ronaldo, volta a mostrar de que matéria é feito, com a marcação de uma mão cheia de golos. Aleluia, o moço ressuscitou. Onde estaria o segredo desta nova vida. A resposta surgiu outra vez na imprensa que se dedica a vasculhar a vida dos famosos. Em fotografia a cores, lá estava estampado o Ronaldo com a sua Irina a acompanhar Ronaldinho à escola. Está exemplificado o regresso aos golos do melhor do mundo da bola. A Irina voltou a pôr a cabeça do Ronaldo no lugar. Bendito efeito Irina. Só pecou por tardio.

 

MG

 

 

Não sou indivíduo de emprenhar pelos ouvidos. Antes pelo contrário. Portanto, declaro que sou povo, mas não me revejo no povoléu, que toma como verdades, insinuações/condenações propaladas por certos meios de comunicação social, de que o Correio da Manha é o paradigma. Por isso vou tratar o assunto com pinças.

 

O que se sabe, pela informação que circula, é que o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, cometeu eventual ilícito, quando exerceu funções de deputado. A ser assim, significa que comeu a dois carrinhos. A ser assim, beneficiou do estatuto de exclusividade no exercício de funções públicas, com as inerentes vantagens. Esta situação parece comprovada pelo seu pedido de subsídio de reinserção. O que constitui uma nebulosa é a sua colaboração na empresa Tecnoforma. Corre que recebia cerca de cinco mil euros mensais dessa empresa. Corre que não pagou impostos. Mas quem melhor que o visado pode esclarecer, de vez, a situação? O facto é que sua excelência não esclarece porra nenhuma. Todas as suas declarações são dúbias e propícias a confundir a opinião pública. Não se lembra se recebeu ou não. Não se lembra? Mas alguém acredita? Recebe-se uma quantia assinalável durante três anos e não se sabe? A não ser que seja portador da doença de Alzheimer.

 

Esta forma de lidar com a acusação de crime fiscal acaba por adensar o mistério e gerar ainda mais suspeitas. Pode-se, justamente, desconfiar que está a empurrar o problema com a barriga. O acto de pedir à Procuradoria da República para investigar a denúncia de possível ilícito que já prescreveu, não lembra ao diabo. O que tem que fazer é responder a uma pergunta simples: colaborou ou não com a Tecnoforma e recebeu ou não recebeu pagamentos desta empresa? Ponto. Enquanto não o fizer, vai alimentar uma novela, que desgasta ainda mais a credibilidade da classe política. Em última análise descredibiliza a própria democracia.

 

MG

 

MG

Não sou indivíduo de emprenhar pelos ouvidos. Antes pelo contrário. Portanto declaro que sou povo, mas não me revejo no povoléu que toma como verdades, insinuações/condenações propaladas por certos meios de comunicação social, de que o Correio da Manha é o paradigma. Por isso vou tratar o assunto com pinças.

 

O que se sabe, pela informação que circula, é que o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, cometeu eventual ilícito, quando exerceu funções de deputado. A ser assim, significa que comeu a dois carrinhos. A ser assim, beneficiou do estatuto de exclusividade no exercício de funções públicas, com as inerentes vantagens. Esta situação parece comprovada pelo seu pedido de subsídio de reinserção. O que constitui uma nebulosa é a sua colaboração na empresa Tecnoforma. Corre que recebia cerca de cinco mil euros mensais dessa empresa. Corre que não pagou impostos. Mas quem melhor que o visado pode esclarecer, de vez, a situação? O facto é que sua excelência não esclarece porra nenhuma. Todas as suas declarações são dúbias e propícias a confundir a opinião pública. Não se lembra se recebeu ou não. Não se lembra? Mas alguém acredita? Recebe-se uma quantia assinalável durante dois anos e não se sabe? A não ser que seja portador da doença de Alzheimer.

 

Esta forma de lidar com a acusação de crime fiscal acaba por adensar o mistério e gerar ainda mais suspeitas. Pode-se, justamente, desconfiar que está a empurrar o problema com a barriga. O acto de pedir à Procuradoria da República para investigar a denúncia de possível ilícito que já prescreveu, não lembra ao diabo. O que tem que fazer é responder a uma pergunta simples: colaborou ou não com a Tecnoforma e recebeu ou não recebeu pagamentos desta empresa? Ponto. Enquanto não o fizer, vai alimentar uma novela, que desgasta ainda mais a credibilidade da classe política. Em última análise descredibiliza a própria democracia.

 

MG

 

MG

Hoje não tenho programa. Não é habitual. E não há razão objectiva. Foi concerteza um percalço. Acredito que será ultrapassado. Para já tenho uma consolação. Também a excelentíssima senhora ministra da justiça meteu o mundo judiciário num buraco negro. Processos que não se vêem, nem se sabe quando voltarão a ver-se. Mas foi apenas um percalço. Também envolto numa nebulosa se encontra a eventual fuga de Passos Coelho aos impostos quando era deputado. O mais certo foi ser mais um percalço. E podia ainda trazer à luz do dia o caso obscuro dos submarinos. O percalço da Troika ou do governo que nos saíu na rifa. Percalços e mais percalços.

 

O meu percalço, porém, comparado com estes é questão de lana caprina. Apenas incomoda a minha pessoa na ocupação dos tempos livres. Por isso afigura-se de fácil resolução, se alguma dama ocasionalmente sem programa, responder ao meu repto. É fácil e sem custos. Se por um qual quer Vá lá. Se hoje não tem programa junte-se a mim. Vamos fazer um programa conjunto. Para fazer o quê? Logo se vê. Vamos por aí. Pintamos a manta, a colcha, o banco de jardim e o mais que precisar de pintura.

 

Mais percalço menos percalço não fugiremos aos impostos. Nem nos deixam. Não interviremos na aplicação da justiça. Nem podemos. Não atiraremos nenhum submarino ao fundo, a não ser no jogo da batalha naval. Por isso não hesite nem se atrase. Aproveite a oportunidade. Tenha coragem. Ajude-me a concretizar um programa alternativo. Mas apenas hoje, porque amanhã volto a ter programa. E não se arrependerá.

 

MG

[iniciacaosexual_ilustracao_rcarvalho.jpg] Naquele dia de Junho, dos anos 60 a camioneta da carreira da tarde esgotou a lotação. Ao longo do seu percurso na serra algarvia foi-se enchendo de mancebos que demandavam a sede do concelho, onde no dia seguinte se apresentavam às sortes. Entre eles viajava Aníbal Cavaco, jovem ainda imberbe mas que ia ser sujeito à prova de aptidão para soldado da nação.

Na sede do concelho, Aníbal e o grupo da sua aldeia dirigiram-se à pensão Maria Ana, nas margens do sapal,  onde pretendiam pernoitar . Bateram com a mãozinha de Fátima, resquício da passagem muçulmana e esperaram breves instantes.  Na soleira entreaberta, divisaram uma mulher baixa, alourada e montada nuns chinelos de pana, made in Espanha, que os olhou com bonomia. -D. Mariquinhas,  disse o Chico Rufia um latagão de quase dois metros e que se assumia como chefe, esta malta precisa de camas para descansar os ossos.  Mariquinhas que já o conhecia de outros Entrudos balbuciou: -para ti Chico dá-se sempre um jeito. Mas quantos são os alarves. - Mais de uma dúzia, disse o Rufia, olhando em redor e calculando a olho. -Só se não se incomodarem de dormir aos pares ?

-Homessa ti Mariquinhas, isto é malta séria.  - Mariquinhas conduziu-os por um longo corredor alumiado por telhas de vidro e distribuiu-os por pequenos quartos mobilados com uma cama e um lavatório de ferro. De cada lado da cama, encimada por um quadro da última ceia, indispensável num lar católico, havia uma mesinha de madeira pintada. Do tecto pendia presa num fio eléctrico uma lâmpada de luz bruxuleante. Os moços das sortes foram-se instalando com a sua bagagem, enquanto Ana a filha de Mariquinhas que optara por ficar solteira, à falta de pretendente, preparava o jantar de caldo de repolho, bem condimentado com toucinho de porco serrano.   Acabada a refeição o Rufia, aproveitou a saída das mulheres, levantou-se e ciciou: - Agora como é da tradição vamos às putas. Quem ainda os não perdeu, tem que ser hoje ou não faz jus ao bom nome do soldado português. Vinte paus  é  quanto leva a Mercedes para esfolar cada bezerro. Faço-me entender? Então vamos que se faz tarde e hoje a procura é muita. 

Mercedes uma matrona de meia-idade, bem nutrida,  mas ainda viçosa e prestável para a função, supria a menor juventude com muita experiência. E o facto é que até então nunca tinha havido queixas. A encartada do sexo, tinha casa aberta e autorizada, sujeita a imposto municipal nas faldas do velho castelo que já fora dos castos monges Templários.  Naquela noite Mercedes não dava mãos nem pernas a medir.  A clientela vinda de todo o concelho compareceu em peso. Mas não podia dar-se ao luxo de perder um dia assim tão farto. Só acontecia em ocasiões festivas. Começou a atendê-los a todos, um de cada vez, claro. - O próximo, chamou Mercedes. Levantou-se algo atrapalhado Aníbal Cavaco, enquanto arrastava os pés para dentro do consultório. 

Esparramada na cama, estava uma dama tal como veio ao mundo.  A cor do rosto esfíngico de Aníbal escorregou-lhe até aos pés e ficou como que pregado ao soalho de  tábuas enceradas. A únicas fêmeas que vira nuas, eram cabras, vacas e outros animais de pasto.  - Então moce que estás a fazer aí especado? Vieste para biombo de sala? Despacha-te  que há muita gente à espera. Passado o primeiro impacto Aníbal lá se foi despindo sempre em crescendo.   - Ó móce dum raio pelos vistos és melhor de coiso que de conversa. Anda cá que eu tiro-te da aflição. Aníbal atirou-se prá frente como potro no cio e descarregou na matrona a sua ansiedade quase sem a deixar tomar ar. "-Mais devagar rapaz, não vás com tanta sede ao pote, conseguiu balbuciar a experiente donzela." 

A maltesaria satisfeita de corpo e mente,  saiu para ir dormir e retemperar forças para a prova do dia seguinte. Mas Aníbal Cavaco recusou-se a acompanhá-los. -Eu ainda fico, disse convicto. Bem  tentaram demovê-lo, mas em vão. Esperou que todos saíssem e voltou a entrar, agora mais afoito, no aposento da matrona.  -Que se passa, disse ela, ao ver de novo aquela inconfundível figura. Vens fazer alguma reclamação? -Nem pensar, disse na sua pose lingrinhas, eu só queria repetir…-Tá bem desde que tenhas dinheiro para pagar, replicou Mercedes. Voltaram a rolar na cama enquanto rolaram notas de vinte escudos, acabando por adormecer, ambos, de cansaço.  

-Vamos levantar cambada, está na hora da inspecção,  gritava D. Mariquinhas enquanto abanava, freneticamente, um chocalho de vacas. Chico acordou assarapantado e mais assarapantado ficou quando não viu Aníbal que lhe calhara como parceiro de cama.

-Malta, alguém viu o Anibal ? perguntou o Rufia, denotando preocupações de chefe.

-Não, afirmou um coro de vozes desafinadas, "se calhar já foi"! 

O sargento cumprimentou os jovens com jovialidade e boas maneiras, dizendo: tirem-me essa roupa, lesmas de merda. Quando todos libertaram o corpo o inspector começou a tomar notas, enquanto um cabo media, pesava, observava. Um capitão de meia-idade e cabelo grisalho, assistia discreto toda a operação. Já a inspecção ia a meio, quando no limiar da porta da sala surgiu Aníbal Cavaco, trôpego, macilento com os olhos a sair das órbitas, mais zombie, que futuro soldado da nação.  - Quem é esta alma penada, berrou o capitão, espantado, enquanto rodava furiosamente o pingalim. -"Perdão senhor...é que"...balbuciou Aníbal.

-Desembucha, se não ainda te parto este chicote no lombo, campónio armado em chico-esperto. -"É que passei mal a noite, caiu-me mal o rap olho"...uma risada bem sonora ecoou por toda a sala e até os reposteiros às flores começaram a tremer. O capitão não resistiu a tanta hilaridade e a custo balbuciou: -Despe-te lá, nabo encartado. Pensava que já não havia disto.   Acabada a inspecção os mancebos foram recebendo uma folha que os habilitava como futuros defensores da pátria. Aníbal Cavaco, recebeu a sua folha olhou e leu, em letras vermelhas: INAPTO.   Nesse longínquo dia, Aníbal não conseguiu ter a suprema honra de ser soldado português, mas demonstrou invulgar capacidade de participar em rituais iniciáticos e deles tirar todo o proveito.

 

MG

Naquela manhã fria de 1971, o meu FIAT coupé, teve um encontro imediato de terceiro grau, com um velho volkswagen carocha que ia no sítio errado à hora errada. Tinha saído pouco antes do apartamento J.Pimenta (pois pois J. Pimenta) com a Leonilde que comigo partilhava a habitação em Paço De Arcos. Ao entrar, intempestivamente, na marginal, não respeitei a prioridade e pronto, bate chapas e tinta robbialac.

A culpa, em parte foi da Leonilde, uma colega/namorada problemática, que me punha os nervos em franja. Mas aconteceu e não valia a pena estar a chorar sobre o leite derramado. Tinha que resolver o acidente e para isso convinha despachar a Leonilde. A solução, parece que caiu do céu, quando parou junto a nós um bólide chamado Porsche. De imediato me dirigi ao condutor que viajava sozinho e lhe pedi boleia para a Leonilde. Ainda o pedido não estava aceite quando me deu um feroz arrependimento. Então não é que o personagem que me ia transportar a minha namorada/colega era o Caldeira, que não via desde os tempos comuns do serviço militar. Na minha memória acenderam-se as luzes que me fizeram ver em 3D o filme do ano de 1967 em Tavira.

Foi lá que  fiz a recruta militar. Nessa época, o quartel era um viveiro de juventude, que muito animava ass ruas tortuosas e pejadas de igrejas da cidade. Quando nos deixavam transpor a porta de armas, saíamos  aprumados com a nossa farda número um e com as grandes botas cardadas  que nos punham nos pés, marchávamos com ar gingão para atrair os olhares das moças que, atrevidas e curiosas, nos espreitavam debruçadas nos parapeitos das janelas. Depois de algum tempo de clausura e aplicação militar, sem a presença de um sorriso feminino, aqueles risos, às vezes trocistas, eram como uma bênção para a nossa solidão do charme das formas femininas.

 

Depois de regressarmos da passeata e durante a refeição da noite, aproveitávamos para falar das experiências desse regresso à normalidade. Embevecia-me, particularmente, com as aventuras do Caldeira, que era natural de Alcabideche. E porque um homem não é de pau, para além da mulher que deixara, saudosa, à espera, gabava-se de se ter envolvido com umas moças de Tavira e afirmava que até estava de cama e pucarinho com uma dama divorciada. Ora para quem não conseguia molhar a sopa, o sucesso do Caldeira com as damas, causava-me alguma inveja, mas não conseguia-deixar de o admirar.No dia em que, acabada a recruta, partimos para outros destinos, e enquanto observava as janelas fechadas, imaginei-me a a ver por detrás das cortinas, damas chorosas pela perda do Caldeira de Alcabideche.

 

 Por ironia do destino eu e o Caldeira fomos transferidos para a mesma unidade militar sediada em Alcabideche. Eu, Félix Lagos, e o grande sedutor tínhamos sido colocados no Regimento de Artilharia de Costa, única unidade que não dava mobilização para a guerra colonial . Nunca percebi porque recebi essa benesse, mas o meu companheiro, disse-me que  era protegido de uma alta patente militar. No novo quartel, fizemos juntos a especialidade. Ele ficou a cumprir o serviço militar na sua terra natal e muitas vezes no aconchego dos seus lençóis e a mim coube-me rumar a outras paragens, por curiosidade bem mais agradáveis. Não voltei a vê-lo desde esses meses em que convivemos no serviço militar.

 

Depois de ter arrumado as galochas, desenvolvi a minha profissão em Lisboa. Após conhecer a Leonilde, passei a residir, com ela, no seu apartamento de Paço de Arcos. Naquela manhã, fria e nevoenta, em que o meu coupé se atirou ao carocha, fazíamos a viagem para a capital, onde íamos iniciar mais um dia de trabalho. Quando, depois do acidente, o Porsche, se aproximou, até pensei que era um craque de futebol de um clube grande. Quando olhei para a cara do ocupante até exclamei; “caramba eu conheço esta fronha, mas não me recordo do nome”. Aí o fulano olhou-me e disse com ar algo enjoado. “é pá, mas tu és o Félix Lagos”. Foi então que se me abriu a carola. O gajo era, nem mais nem menos, que o engatatão do Caldeira. A nossa relação foi apenas conjuntural. É tipo com quem não vou à bola. Aliás nunca jogámos no mesmo campeonato. Fui directo ao assunto:” estou acidentado, se vais para Lisboa podes levar a minha namorada?” “Claro, disse num tom que me pareceu um pouco amaneirado.

 

Uma desgraça nunca vem só, pensei. Já não me basta a chatice do abraço entre as viaturas. Agora dá-se um encontro de terceiro grau, imediato ou não, entre a Leonilde e o garanhão do Caldeira. O homem das mulheres, ainda  me rouba a namorada/amante/companheira. Ao chegar ao local de trabalho perguntei à Leonilde: "Então, o correu tudo bem? O rapaz do Porches não te deu nenhuma “cantada”? “Não. E é pena, porque o moço é um bom pedaço, eu ainda puxei por ele, mas conversa puxa conversa descobri que o homem é florzinha, ou seja, gosta mais dos belos corpos masculinos e nem tinha sido preciso confessá-lo, pois os seus maneirismos não enganam ninguém”. Fiquei boquiaberto. Como foi possível lidar algum tempo com o fulano sem uma leve suspeita. Só então percebi que aquela fanfarronice das conquistas não passava de uma forma de esconder a sua verdadeira vocação sexua,l num meio que poderia ser-lhe hostil. Naquele momento, respirei de alívio, por a Leonilde não ter caído nos braços do Caldeira. Acabaria por cair nos braços de uma hospedeira de bordo que conhecemos numa viagem à Madeira, mas isso são contas de outro rosário.

 

MG

 

 

No campeonato do mundo no Brasil a selecção nacional de futebol sucumbiu ao clima e à incompetência. Lá estiveram não os se encontravam em melhores condições, mas os que possuíam condição privilegiada. O desastre tinha e teve que acontecer. Contudo, tapou-se o sol com a peneira, e a culpa morreu solteira. A culpa foi de um banco mau. Assobiou-se para o ar com a criação de um novo banco.

 

Começou uma nova campanha com dois bancos: o bom e o mau. Mas quem foi a jogo foi e mau. E bem mau. O bom, se é que o é, ficou sentado. No banco. O resultado aí está. A derrota com a selecção mais fraca do Grupo. A opção tem alguma lógica. Atiram-se para o banco mau os resultados tóxicos. Protege-se o bom. O problema é que não se pode criar um novo banco sem substituir os responsáveis pela falência do banco antigo. Estão lá todos. Que o Espírito Santo os ilumine.

 

MG

 

 

Imagem NET

 

Lumiére pôs imagens em movimento. Depois, depois veio o cinema, dito sétima arte. Arte democrática por excelência, arte acessível a todas as bolsas e por conseguinte arte popular. A maior indústria de entretenimento, rompe barreiras linguísticas e culturais, despreza fronteiras e globaliza o espectáculo. Instala-se em salas que pululam como igrejas de culto da felicidade em todas as principais povoações. Mas não marginaliza as terras mais recônditas, onde o cinema aparece como vagabundo em movimento. 

 

Quando as luzes se apagam a vida de sombra e luz mostra o seu esplendor. O escuro esbate diferenças sociais, e em uníssono, os espectadores expectantes, viajam do presente ao passado e ao futuro. Ali sofrem as agruras de BEN-HUR nos tempos áureos do império romano, ali se sentem vingados com o castigo dos exploradores por ROBIN HOOD. Descarregam tensões com o humor de CHARLOT. Lavam o rosto com lágrimas com os grandes dramalhões, especialmente os made in India. Cavalgam pelas pradarias com os grandes mestres do WESTERN. Sonham com as espectaculares comédias musicais, como My FAIR LADY. Deliciam-se com ET,assustam-se com ALLIENS e interrogam-se com ENCONTROS IMEDIATOS DO TERCEIRO GRAU.  E tantos, tantos outros, que durante a brevidade de um sonho, despoletam as mais variadas emoções. E quando as luzes se acedem TUDO O VENTO LEVOU. Cada qual volta à sua realidade, logo ali representada pelo lugar que ocupa: primeiro, segundo ou terceiro balcão. Mas as emoções despoletadas vão persistir. Parzinhos de mãos dadas entram revêem-se em HAPPY ENDS. Casais de meia idade renascem com as LOVE STORIES. Espectadores solitários apaixonam-se pelas grandes estrelas.

 

O cinema teve o seu apogeu. Hoje arrasta-se decadente e maquilhado por guetos da sociedade de consumo. As fitas rodam nos mesmos projectores e ganha dimensão nos mesmos écrans. É o que, penosamente, sobrevive. No escurinho destas salas, os últimos resistentes do verdadeiro cinema, alimentam tanto o corpo como o espírito. Devoram pacotes de pipocas ao ritmo da velocidade das imagens. Afogam as emoções em qualquer bebida ocasional. São espectadores sem alma de cinéfilos. O cinema, nestes moldes, tem os dias contados. É certo que agora entra em nossa casa agregado às novas tecnologias. Está à mão de um click. Pode ser. Mas já não é a máxima expressão da cultura de massas que foi no século XX. Há quanto tempo não entro no CINEMA PARAÍSO.

 

MG

 

 

 

02 Set, 2014

Simplesmente Banco

Antes era o Banco. Simplesmente o Banco. Agora é o três em um: o original, o mau e o bom. Uma espécie de mistério da Santíssima Trindade que sendo apenas um também são três. De facto o original, dito BES, podia parecer apenas um, mas nunca o foi. Porque além de ser Banco Já era Espírito Santo. Continua a ser Banco, novo Banco e Espríto Santo. Há contudo uma diferença. No mistério da Santíssima Trindade são todos bons porque são essência da bondade. Na tríade bancária há um bom e um mau, abençoados pelo Espírito Santo, e acolitado pelo Bento.E no fundo não sabemos qual é o bom ou qual é o mau. Será o novo, será o velho? Mistério! Será o pai, será o filho ou essa entidade chamada Espírito Santo? Mas o bom crente não interroga, nem contesta. Acredita. E paga. É para isso que existe. Existe?

 

MG

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