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Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

O meu Sporting  estava sentenciado a concluir o campeonato no terceiro lugar na melhor das hipóteses. Isto se conseguisse ultrapassar os clubes considerados concorrentes directos. Nem outra coisa seria de esperar com uma equipa low cost O facto relevante é que com essa equipa de tostões colocou-se no segundo lugar e esteve quase a ficar no primeiro. Faltou-lhe só um bocadinho assim. Lutando com uma equipa cheia de craques esteve à beira de fazer história. E apesar das suas insuficiências, não fosse ter sido prendada com algumas arbitragens desinspiradas, não sei não. Precisavamos de ter mais oito pontos. Não tivessem esses pontos sido sonegados com o Rio Ave, O Nacional, a Académica, o Vitória de Setúbal, hoje estaríamos a disputar o primeiro lugar. E mesmo considerando algum benefício no jogo de Alvalade com o Benfica, tem de se considerar que este clube também teve benefícios. Em conclusão, na liga real estávamos na luta, na liga do vale tudo o campeonato já foi. E a taça idem, num jogo em que o senhor do apito deu bónus ao adversário. E na taça da liga idem idem. Todos os árbitros erram mas alguns erram sempre contra o meu Sporting. Irra!

 

imagem retirada da net

 

 

Fazes hoje quarenta anos. Nascestes no dia 25 de Abril de 1974. Tive o raro privilégio de te ver nascer naquela tarde primaveril de Abril. No largo do Carmo assisti ao teu parto sem dor. Parabéns democracia. Quarenta anos é cerca de metade da vida de um cidadão. Mas para um regime político é ainda o início da infância e da enorme ternura que merece. Tivestes pais generosos, que sem egoísmo, te entregaram a pais adoptivos para te ajudarem a crescer. Nem sempre o fizeram da melhor maneira. Cometeram erros de que não és culpada.

 

Baptizaram-te com o nome de Liberdade Igualdade Desenvolvimento. Foste fazendo jus ao teu nome. A liberdade instalou-se com firmeza e em certos aspectos com algum exagero. Confundiu-se com libertinagem. A igualdade fez-se direito, mas não facto. Mas, reconheço, deram-se passos importantes na aproximação de diferenças. O desenvolvimento foi avançando, mas marcou passo. Podia e devia ter ido mais longe. Escorregou em maus investimentos, em opções erradas, em corrupções descaradas. Ainda és jovem e precisas de beber inspiração, no ponto de partida, para fazeres jus ao teu nome.

 

Quarenta anos depois foste entregue a pais padrastos. Tiraram-te o sonho que devias cumprir. Ainda te chamas liberdade, mas condicionada. O segundo apelido foi mudado para desigualdade necessária. O terceiro, aprisionado e substituído por Austeridade. A democracia que devias e ser já não és encontra-se enredada em estranhos conceitos de liberalismo. A democracia que afinal somos todos nós, reduziu-se à deposição de um voto que não respeitas. Desvalorizas-te, todos os dias, com a apatia, a descrença, a ausência de participação. Mas apesar disso dedico-te uma enorme ternura. Afinal tive a honra de te ver nascer e agora acredito que renascerás. Não pode ser de outra maneira sem me negar a mim próprio que também sou democracia.

 

MG

Capitães do meu país

Soldados da minha terra

Viram o povo infeliz

E com paz fizeram guerra.

 

No alvor da madrugada

Acordaram a cidade

E sem nunca pedir nada

Ofereceram liberdade.

 

No força que idealizaram

Esperança de mil cores

Quando as armas dispararam

Delas saíram flores.

 

E no seio da revolução

Nasceu uma democracia

 E com ela a convicção

Que é real a utopia.

 

E quem nunca viu Abril

Nem sabe a revolução

Urdiu artimanhas mil

Subjugou a nação.

 

É tempo de ir para a guerra

E levantar a cerviz

Ó gentes da minha terra

Capitães do meu país.

Pensei que aceitasses "que trocássemos umas ideias sobre o assunto". Disse-o com a esperança de merecer alguma atenção do escritor Mário de Carvalho. "Era bom", seria a resposta esperada. Eu sei que ele é o autor único e indivisível e eu apenas um, entre milhares de leitores. Mas também li, seja ceguinho se não li, que um livro uma vez parido, deixa de ser apenas de quem o gerou, para ser de todos, os que o de corpo e alma, o manuseiam. Um pouco como um filho, que depois de sair da barriga da mãe, se torna  cidadão do mundo e de certo modo, propriedade da nação, para o a que der e vier.

E é nesse sentido, que ouso invadir o lugar de conforto do autor, e perturbá-lo no seu solilóquio. Primeiro senti-me agastado, por este, só ao fim de dezoito páginas de descrição contestável de ambientes, introduzir na história as personagens. E ainda mais agastado fiquei quando me pespegou, no focinho, que o fazia deliberadamente, como um recurso anti-criativo. E por falar em recurso, ainda me atira com um discurso sobre o uso da analepse. Porra pá! Não seria mais civilizado aplicá-la, como fazem todos os outros? Não deve o criador usar as figuras de estilo que lhe der na mona, sem ter de explicar e justificar a sua utilização? Sobre o assunto, gostaria que trocássemos umas ideias. E por falar em figuras de estilo, estou carente de conhecimento sobre a captura das metáforas, pelos fazedores de poesia e pela razão de esta não o ser se não tiver sido emprenhada por essas figuras. Do mesmo jeito, mas num contexto mais abrangente, nem entendo o papel castrador dado às regras gramaticais. Mas que crédito se pode atribuir a uma Senhora que está sempre a mudar. Agora diz que é tlebes, mas em tempos foi generativa e não quero ir mais aquém, nem predizer mais além, para não falhar na previsão.

Pois, gostaria que trocássemos umas ideias. Sim, porque uns são filhos da mãe e outros filhos da outra. Ou seja, uns podem mandar a dita para as urtigas e são um génio e outros, se o fizerem, são acusados de maltratar sua excelência. Não entendes? Eu explico: se eu colocar uma vírgula entre o sujeito e o predicado, aqui d'el rei que cometi erro grave sem perceber porquê. Afinal, porque raio o desgraçado do sujeito e o infeliz do predicado têm de passar a vida separados por um muro. Bem,  mas quando o grande Saramago resolveu escrever sem passar cavaco à pontuação, aleluia que é inovação. É o que digo: dois pesos e duas medidas. Se um obscuro escriba falhar na utilização de maiúsculas, está a ofender a santa gramática. Agora quando o Valter Hugo Mãe não as usa a seguir aos pontos, merece encómios. Deve ser por essas e por outras, que o dito cujo, não aprecia os meus contos no concurso FNAC onde é júri, já que entre mil nunca ficaram nos dez melhores. Dá próxima vez vou dar tratos de polé à dita cuja.

A não ser que trocássemos umas ideias sobre o assunto, porque os personagens principais, (ou serão secundárias?), passam a vida entre analepses, a não fazer coisa nenhuma. E como é que um bibliotecário, com uma vida de merda, um filho preso por tráfico de droga, e que quer entrar para o PCP, um velho professor comunista, divorciado, e com uma filha armada em missionária, a apanhar picadas de mosquito, que quer sair do PCP, uma tipa que pensa que é jornalista e que se mete na cama do Professor (quando tem P grande) para que lhe componha a entrevista a Agustina Bessa Luís, (entre outras) de que não percebeu pevide e dois burocratas do PCP, que descobrem que o bibliotecário andou na juventude a rasgar cartazes do partido e a escrever em jornais de província, artigos contra o KGB, acabam a história como a começaram. O comunista continuou a ser o militante que não queria ser, a jornalista que deixou de o ser quando se levantou da cama do professor e o bibliotecário que não conseguiu entrar para o partido, suprema humilhação. Ao fim e ao cabo nem mortes, nem traições, nem adultérios, nem porrada de criar bicho, nem uma verdadeira cena de sexo. Nem percebo como cheguei ao fim desta história, mas sei que queria era que o fim não chegasse porque "Era bom que trocássemos umas ideias sobre o assunto".

 

MG

imagem net

 

 

" O primeiro da estirpe amarrado a uma árvore e o último comido pelas formigas". Eis a síntese da saga dos Buendia. No palco de Macondo que criaram e onde se desenvolveu a sua "estória". Ali se cruzaram as realidades de uma Colômbia dilacerada por infindáveis conflitos. Ali se fez e se desfez um progresso de redenção e destruição. Ali se inventaram sonhos, se realizaram magias e se cumpriu o "evangelho" de destruição de Melquíades.

 

Das cinzas de Macondo, ou melhor Aracataca, renasceu o "amor em tempos de cólera". O amor entre Florentino e Fermina sobreviveu aos anos de solidão e triunfou no ocaso das suas vidas, em plenitude. Já o velho coronel das guerras civis esperou até ao fim dos seus dias, por uma prometida recompensa do Estado. Dia após dia esperou a ansiada carta que nunca recebeu.

 

"O Outono do Patriarca" chegou ao fim. Morreu numa quinta-feira santa, sem anos de solidão. Decerto ressuscitará no sábado aleluia, porque as estirpes nascidas para dar vida às vidas, são eternas, e precisam de "viver para contá-las" mesmo quando morrem de uma "morte anunciada" numa crónica com a marca de Gabo.

 

PS: A minha relação com os "Cem anos de Solidão" foi além da simples leitura. Na concretização de um trabalho colectivo, na universidade, tive de descobrir a partir do romance de Gabriel Garcia Marquez, parte da história da Colômbia. Ir da ficção para a realidade foi uma agradável experiência que hoje continua viva na minha memória e que anos mais tarde tive o prazer de ver, em alguns aspectos, confirmada em "Viver para contá-la".

 

MG

Chegou o dia de ir ao dentista. A cadeira do dentista é para mim a tortura made in século XXI. Estou convicto que se Torquemada andasse por aí, com acesso a tal instrumento acabava com os hereges em três tempos. Mas a verdade é que não anda, pelo menos até ver, pois como as coisas estão  não sei não. Enfim, tem que ser tem que ser. Porém não me armo em herói e confesso que vou transido de medo. Bem se alguém não vai, com medo, para essa cadeira, que atire a primeira pedra. Pela minha parte, preparo-me o melhor que sei: faço um retiro espiritual, invoco todos os santos, enebrio-me de pensamento positivo e à cautela tomo um xanax. Depois, entrego-me nas mãos da minha dentista, que as mulheres agora estão de corpo e alma em todas as profissões.

 

A minha dentista é a doutora Isabel Alçada. Para o caso o nome tem pouca relevância, mas aproveito para aplicar umas técnicas que aprendi num seminário de escrita criativa. A doutora para além da competência em bem manejar as brocas e outros instrumentos picantes, tem uma indisfarçável paixão por um clube de futebol com o qual também me identifico. Para não ser ostracizado por algum leitor, não vou dizer se somos benfas, lagartos ou "dragons" carago. O que digo é que temos grandes bate-papos a propósito. Ela descarrega a tensão e a pressão de mais uma jornada e eu dou-lhe corda e vou adiando a hora da broca me perturbar a paz bucal. E entre golos falhados, bolas no poste, juízos de árbitros acima de qualquer suspeita (gatunos) remato, para impressionar, que o futebol moderno vive menos de tácticas e mais de dinâmicas, coisas que aprendo com os comentadores de futebol. Remato mas sempre ao lado que a doutora está sempre à defesa e não me deixa marcar nem um golito. Adiante, que já vou na linha doze  e ainda não se passou nada que agarre o leitor. Nem um "enrolanço" repentino, na cadeira, com a doutora, na altura em que entrava de surpresa o eventual companheiro e que me dava uma surra de criar bicho e me partia o resto dos dentes sãos.  Nem sequer aconteceu uma tentativa de assassinato da dentista por um cliente tresloucado. Vontade não tem faltado, a chatice é que ela é de carne e osso e não uma personagem de enredo literário. Nem sequer se sabe da densidade da personagem, ou se é loura ou morena. A continuar por este caminho já tinha chumbado em escrita criativa

 

Assim que entro no consultório, sou informado pela assistente, que a doutora teve que se ausentar. Aí pensei, hoje é o meu dia de sorte. Pensamento não era completado e já a solícita assistente me informava sem deixar cair o verbo: -a doutora fez uma escapadinha mas deixou uma substituta e está à sua espera senhor José, concluiu. Uma vez que a assistente identificou o narrador, que queria ficar incógnito, vamos enfrentar a nova torturadora. Enfrentei-a de nariz empinado para não dar parte de fraco. Cumprimentou-me com um sorriso tímido. -Chamo-me Ana Maria Magalhães e estou a substituir, provisoriamente a Isabel Alçada. Então qual é o problema? Abri a boca e mostrei-lhe a cratera que me dava a imagem de anti-drácula. -Ainda se pode fazer alguma coisa doutora? Pouco, respondeu. Foi apenas o que lhe ouvi dizer. Depois, só se ouviu o som dos instrumentos num frenesim ininterrupto. Não sei se a doutora substituta sofre por algum clube, se é apoiante do governo ou se tem página no facebook. Estava ainda embrenhado nas minhas especulações quando a dentista voltou a falar: -Já tem de novo o seu dente. Não vi. Os dentistas não têm, como os cabeleireiros, um espelho para mostrar a obra. Uma falha. Mas senti o buraco tapado e pareceu-me boa a reconstrução. Antes de sair arrisquei perguntar: quando volta a doutora Isabel Alçada? No seu estilo economizador de palavras disse: -quem sabe? Está presa preventivamente. Foi considerada arguida na morte do marido. Questões passionais. Bolas, agora que a aventura acabou é que aconteceu algo capaz de fazer progredir a história...

 

MG

14 Abr, 2014

Em play-back

         Podes não governar bem

         Desde que digas amem

E representes o papel de um zé ninguém

Em play back, em play back, em play back!        

 

            Vais até muito além

       Com a bênção do vôvô de Belém

Do que exige a troika, e o teu estilo do cacém

Em play back, em play back, em play back!

 

           Vai dizendo ao microfone

           Que a vida é feita de fome

           E o bom é ser pobrezinho

                 Com carinho

                 E juizinho

 

      Em play  back tu és um ás

      Dizes o contrário do que se faz

               Em play-back

               A fazer play-back

               E viva o play-back

    És bom artista a papaguear

    O que mandões te mandam falar

    Nunca perdes a compostura

            Em play-back

            A fazer play-back

            E viva o play-back 

         Durante a legislatura

 

   E como grilo falante e elegante

   Não abandones essa tua manha

      Vais ser bem recompensado

             Sem enfado?

             Na Alemanha!...

  Em play-back é que tu brilhas

  E o sucesso com o que pilhas

          Em play-back

          A fazer play-back

          E viva o play-back

    E nos mercados ficas bem

    Apenas sabes dizer amém

         O povo está infeliz

         Em play-back

         A fazer play-back

         E viva o play-back

         E tu lixas e sorris.                                         

 

Em homenagem a Carlos Paião

 

 

 

(ortugrafia bê antígua)

 

No dia trinta do mês passado

Acabei o mês memo todo estafado

E fiquei à espera dum bom ordenado

Mas assim que recebi a foulha            

Fiquei danado

E gritei co mum desalmado

 

Chamem a poliça, chamem a poliça

Que já fui róbado

Mas a poliça nan veio nan

Estava a invadir a acemblea

Da naçan

 

Olhei para a folha

Do meu vencimento

Lã estabam as contas

Do meu sufrimento

O ierreiesse levava mitade

E o que restava levavao o vento

Junto com a tacha de solidaridade

Pra ajudar a malta da treceira idade

 

Chamem a poliça, chamem a poliça

Róbem à vontade

Vivam carteiristas

da minha cidade

 

E vom põr os cortes em definitivos

Que os porvisórios

Já son muito antigus

Fumem mata ratos

E sejam mendigus cumo eram antes

Pois já non som patos

Mas cisnes legantes

Chamem a poliça, chamem a poliça

Para pôr na linha

Alguns protestantes

 

cume a min

Rapidamente passámos da condição de patinhos feios para uma espécie de cisnes elegantes aos olhos dos investidores",

 

Pires de Lima, ministro da economia

 

No princípio havia os patos livres e bravos. Voavam pelas terras do sul de clima ameno e suave. Quando inventaram os automóveis alguns (poucos) transportavam-se em poderosos "" que compravam aos passarões do norte. A maioria desfrutava da vida modestamente e sem grandes luxos. Assim era e assim foi até um dia. Um dia, os passarões, enriquecidos pela prática da rapina acharam que os pássaros do sul já não eram patos bravos mas patos feios. Davam-se cada vez mais à lassidão, andavam gordos e anafados, estavam a ficar pouco saudáveis. Puxando da sua autoridade, supostamente moral, tinha chegado a hora de dar uma lição aos patinhos cada vez mais feios. Tinham de começar a fazer dieta, pela sua saúde. Emagrecer era o caminho. Manter a linha um objectivo. E assim se fez, que os passarões não brincam em serviço. E da dieta passou-se ao jejum. E também não levaram o sol porque isso fugia ao seu controle. E os patos emagreceram tanto que ficaram transparentes. Foi aí que mandatários locais dos passarões, contratados por dez reis de mel coado, pela voz do seu ministro da alimentação disseram: melhoramos tanto que agora não somos patinhos feios mas cisnes. É assim que nos vêem e é assim que nos querem. Nunca mais voltamos a ser patos. Nem bravos, nem livres.

 

MG

07 Abr, 2014

Vou levar-te

Vou-te levar às Docas

Pra abanar o capacete

E ver os barcos do tejo

À noite as águas beijar

E que morra aqui

Se lá não te levar

 

Vou-te levar num barco

Sem remos e sem radar

Perdido no oceano

Tendo como tecto as estrelas

E como leito o mar

Morra se não te levar

 

Vou levar-te à lua

Nas asas do avatar

Pra que sonhes com o amor

Viciada de luar

E morra aqui

Se lá não te levar

 

Vou-te levar ao céu

Com um anjo a anunciar

A loucura do amor

Que tu me quiseste dar

E morra aqui

Se lá não te levar

 

Porque gosto de ti

Comigo quero-te levar

Às galáxias sem fim

Às profundezas do mar

Que o sonho não tem limite

Limite não tem amar

 

Mas se não quiseres ir comigo vai com este.(s) Não te vais arrepender!

 

 

 

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