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Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Ficção

 

-Bom dia, sou o comissário Vasco da PSP. Foi o senhor que nos telefonou a pedir ajuda…

Sim. Sou Mário Soares, único sócio, gerente e recepcionista desta pensão residencial decadente. Agradeço a prontidão

-Diga-me senhor Soares, conhece o homem que está a ameaçar atirar-se do telhado?

Conheço-o como a palma da minhas mãos “messieur gendarme”, pardon  senhor comissário, mas fui emigrante em França no tempo da outra senhora, entende-me?, e às vezes confundo as o línguas.

-Não há problema. Sabe o que levou o indivíduo a praticar este acto?

É uma longa história. O Fernando, é assim que se chama, foi dos primeiros hóspedes da Brisa de Paris. Chegou aqui depois de fugir das colónias após a descolonização. Uma mão atrás outra à frente, entende-me? Eu tinha aberto esta residencial com as economias que ganhei como emigrante. Estava em Paris tal como o meu homónimo Soares na condição de refugiado político e quando ele regressou como herói, pensei, chegou a minha hora, nem é tarde nem é cedo se “monami Soarous” pode, eu também posso.

-Peço desculpa senhor Soares, mas não estou aqui para ouvir a sua história mas para tentar salvar o pretenso suicida. Tenho na minha equipa o doutor Otelo, especialista em acção psicológica, que tem que começar a agir. Pode indicar-lhe o caminho para o telhado?

“Pardon messieur gendarme”. Felice um velho hóspede vai acompanhar o doutor. Como lhe estava a dizer, o Fernando, na altura da abertura veio hospedar-se, como muitos outros, às custas do Estado. Chamavam-lhe retornados. Bons tempos. O Fernando começou a trabalhar como tipógrafo no DN onde conheceu a Eunice que trabalhava nas limpezas e tinha uma filha de pai incógnito, a Clarinha. Lá se entenderam e começaram a viver juntos. Garanto-lhe que era um casal feliz até chegar o Basílio…

Senhor Soares o que é que isso tem a ver com o que está a acontecer?

“Messieur”, a vinda do Basílio tem a ver e muito. O Fernando pediu-me para o deixar ficar no seu quarto por uns tempos, pois estava a passar dificuldades. Apresentou-mo como um amigo da máxima confiança. Não pude dizer-lhe que não. Que homem! o Basílio, uma estampa, embora o Fernando não seja de desprezar e sem desmerecer o senhor comissário que não lhe fica atrás…

-Seja objectivo

…voilá, eu achei que era difícil acomodarem-se todos num espaço tão pequeno mas lá se acomodaram. Algum tempo depois veio a saber-se, mais tarde ou mais cedo tudo se sabe, que dormiam todos na mesma cama, entende? Ménage à trois, está claro.

-Por este seu depoimento vejo que o meu amigo errou a profissão. Está a demonstrar jeito de contador de estórias, e aptidão para a dramatização.

Assim foram vivendo na paz dos deuses e indiferentes a falatórios até ao dia em que Eunice, que trabalhava até mais tarde, teve de vir mais cedo para trazer a filha que tinha adoecido na escola, e aí teve uma grande surpresa…

-Avance que já estou a ficar em pulgas.

…não queria estar no lugar da pobrezinha, pois os seus dois homens estavam enrolados num grande tête-à-tête, comprend?

-Espere um momento senhor Soares, preciso de contactar o doutor Otelo

-Está doutor? Está no telhado? Como vai a acção?

-Com toda a normalidade comissário.

-Vou-lhe dar uma informação que pode ser útil? O sujeito é invertido!

-Defina invertido!

-Porra doutor, quero dizer,  florzinha, mariconço. Percebeu ou quer que lhe faça um desenho

-Se quer dizer indivíduo com capacidade para interpretar as relações íntimas numa perspectiva abrangente e descomplexada, percebi.

-Faça o seu trabalho e deixe-se de ironia de telhado.

-E que sucedeu então senhor Soares, se isso for relevante para entender as razões do suicida?

Esse acontecimento não tem relação directa com o que está a acontecer. A Eunice acomodou-se. O que podia fazer? Mas o pior estava para vir. O desenlace que levou ao que se está a passar deu-se hoje de manhã. Quando o Fernando chegou da tipografia não encontrou o Basílio, a Eunice e a filha. Apareceu-me aqui branco como a cal com uma carta que me deu para ler. O infeliz só dizia: “amigo Soares, a minha vida acabou”. Li.

 

Fernando,

A situação existente está a ficar insustentável. A Clarinha precisa de uma família que tenha estabilidade e que lhe dê segurança. Eu e o Basílio resolvemos refazer a nossa vida juntos. Fazemo-lo porque nos amamos mas sobretudo pela Clarinha. Desculpa mas não era possível deixar as coisas como estavam. Vai ser doloroso para todos mas a vida continua. Desejamos-te o melhor.

Eunice

 

-“Amigo Soares a minha vida acabou. Fui traído.”  Ainda tentei consola-lo e até estava disposto a recebe-lo nos meus braços. Não me ouviu. Foi aí que subiu para o telhado.

Com licença senhor Soares, tenho de atender o telemóvel:

 

Sim doutor.

Está tudo resolvido. Vamos descer.

Parabéns. Fico à espera.

 

Tudo vai acabar bem. Ai vêm eles. O doutor Otelo é um grande profissional e sempre mereceu a minha confiança. –“ Então doutor que trâmites vamos seguir?”

-Assunto encerrado comissário. O Fernando vai viver comigo para minha casa. Vivo lá sozinho e tem muito espaço. Vai correr bem, somos pessoas descomplexadas.

-Sabe o que lhe digo mon ami Soares. O pior,de forma descomplexada.  estava mesmo para vir.

 

 

Define-se país como um território social, política e geograficamente delimitado, habitado por uma população com cultura comum e associado a um Governo. O deputado do PSD Luís Montenegro disse numa entrevista ao Jornal Expresso, que a vida das pessoas não está melhor mas a vida do país está muito melhor. Ao fazer uma distinção entre população e país cria o conceito de um país sem população. A ser assim, Portugal tem apenas um território  e um Governo. E não se conseguindo encontrar uma melhoria em relação ao território, que mantêm as suas características naturais, o que resta? É fácil concluir que o que sobra é o Governo cuja vida está muito melhor. E sendo o Governo composto por políticos profissionais do PSD e do CDS compreende-se, em substância, quem beneficia das melhorias.

Afinal não se identificando os portugueses à nação portuguesa, senão teriam de comungar da sua situação fosse ela boa ou má, qual o seu papel como  habitantes de um território que se chama Portugal? Aí está uma equação difícil de resolver ou uma autêntica quadratura do ciclo. No limite serão uma espécie de zombies apátridas cuja existência se justifica para garantir que haja um Governo. Nesta perspectiva, pouco interessa se a sua vida melhora ou não. Nesta perspectiva cumprem a sua função de sub-espécie ao serviço de um país que se limita a ser um território com o seu Governo. O cidadão de pleno direito, Luís Montenegro, sem saber como, fugiu-lhe a boca para a verdade.

 

MG    

 

 

24 Fev, 2014

Talk show

O Governo não governa, governa-se. Falhou em todos os indicadores que traçou como metas. E digo em quase porque conseguiu concretizar dois: empobrecer os portugueses e aumentar o número de ricos. À míngua de dados positivos concretos refugia-se na fantasia. O exemplo mais mediático é o último congresso PSD. Congresso, qual congresso? Aquilo foi um talk show com todos os ingredientes. Realidade virtual com música a condizer e piadolas com algum mau gosto. Perante uma plateia de figurantes bem comportados os artistas fizeram os números previamente ensaiados. Aplausos e risos. Os portugueses que se lixem.

 

O talk show vai continuar. Vai ser um festival de pão e circo. Aliás muito circo e pouco pão. Estão à porta os sorteios de automóveis para os espectadores que peçam factura. Transformam o país numa casa de nifomaníacos. A pergunta mais frequente nos locais de compras é: quer factura com NIF. Não quero. Que se f****. Preferia ser ninfomaníaco.

Rosalita (nome fictício) é viciada em sexo. Eu acho, sem qualquer juízo moral. Claro que não posso comprovar com saber de experiência feito. Digo-o por fragmentos de factos que me vão chegando por fontes que devo omitir. E por isso digo-o com reservas. Colando os fragmentos leio que Rosalita entre duas aulas (dá aulas a jovens imberbes) traz sempre à conversa assuntos de sexo. Nada relacionado com abordagem pedagógica, mas antes com erotismo.

 

Além disto, há outro indício que me leva a acreditar na minha tese meramente casuística e digamos coscuvilheira. Rosalita já vai no quarto companheiro. O primeiro marido, no fim da adolescência, foi amor de pouca dura. O segundo povoou-lhe a juventude madura e  partiu apenas um pouco, porque lhe deixou os genes num filho para criar. O terceiro trouxe-lhe a ternura dos quarenta, mas saiu cedo desta vida. Rosalita reagiu e remoçou. Tirou umas pequenas rugas do rosto. Melhorou o visual e recuou dez anos no uso do vestuário. Depressa atraiu um novo galanteador com o seu novo brilho. Homem de muitas viagens, por obrigação profissional, tanto está como não está, o que dá a Rosalita tempo para refinar as suas técnicas.

 

Rosalita é viciada em sexo? Pois que seja se isso a faz feliz. A conclusão definitiva na minha observação pessoal (afinal o que é definitivo?) bateu-me quando recebi a última informação. Rosalita andava a convencer outras damas a fazer uma reunião da "Mala vermelha". E o que é a "Mala vermelha"? Se forem tão botas de elástico quanto eu é justo que perguntem. É simples. Basta goglar. Em resumo trata-se de uma empresa que promove reuniões com damas, no domicílio, para lhes facultar produtos eróticos,  com o objectivo de alterarem sexualmente a dinâmica do casal.

 

Se a informação que me chega é fidedigna, Rosalita tenta formar um grupo para participar num chá à volta da "Mala vermelha". Pelo que indaguei (mera curiosidade) uma demonstradora traz na dita mala cremes eróticos com diversas funções, e outros objectos que por pudor e educação  nos bons pricípios me recuso a nomear. Para eventuais interessados, a informação está disponível ao toque de um click. O que posso acrescentar é que as intervenientes têm direito a experimentação.

 

Não sei se Rosalita encontrará acompanhantes para tomar o chá da "Mala Vermelha". Nem sei se tudo isto significa muita parra e pouca uva, isto é, deitar conversa fora, uma estratégia de fuga à realidade que todo dia serve a Rosalita e a todos nós um chá de mala de cartão. Em resumo trata-se de uma "empresa" que promove a pobreza como modo de vida. E se houver alguém que prefira chá de mala de cartão ao chá de mala vermelha que atire a primeira pedra.

 

MG  

 

 

21 Fev, 2014

Caça aos Tordos

Fernando Tordo é um músico com idade sénior. Ganhou a vida como cantor, uma profissão tão digna e tão honesta como qualquer outra. Com sessenta e cinco anos e escassa reforma teve de emigrar, como outros milhares de portugueses. O seu filho, João Tordo vive da escrita, um trabalho que merece todo o respeito e consideração.

A propósito de um texto escrito por João Tordo sobre a situação do seu pai gerou-se, nas redes sociais, uma parafenália de prosas bárbaras. Pelo conteúdo e pelo tom podem considerar-se caça aos Tordos. Apenas aos tordos, porque coelhos e outros bichos rastejantes continuam isentos. Estes caçadores, de mira afinada, não puxam uma única vez pelo gatilho contra quem rouba a dignidade dos outros. Estes atiradores são a imagem de um país que venera as coutadas e despreza os seus iguais. Uma apagada e vil tristeza. Mais vil que apagada.

 

MG 

mar-la-vento blogspot.com

O homem pensa em grande, gasta em grande, mente em grande. Foi assim que comprou dois submarinos para um país que não tem, nem dispõe de condições para ter frota de guerra. Foi assim que se demitiu, irrevogavelmente, e se retratou descaradamente. É assim que anda por aí a vender a banha da cobra da recuperação. Inchado de vento, tece loas ao grande feito do seu governo. Atira a crise, em três tempos, para o fundo do mar. E graças  ao seu porta-aviões das exportações. Mas em oportuna hora o disse porque logo a seguir o FMI, a quem deve vassalagem, o desmentiu com um tiro no porta-aviões. Afinal, as exportações, são mais um barquinho de papel, onde mais de metade corresponde a reexportações de produtos petrolíferos transformados e já no seu limite. Ou seja, não é apenas por aí que se recuperará a economia. Aliás, a única recuperação é a da falta de vergonha na cara de quem se especializou em fazer dos outros parvos.

 

MG

cartoon de João  Fazenda (Visão)

 Texto imaginado a partir deste cartoon.

 

Vós sois os meus ouvintes preferidos: não falais, não ouvis, não sentis fome, nem sede, não "olfactais" o cheiro discreto do dinheiro, não vedes o opróbrio as injustiças a "sacanagem" a exploração. Em verdade gosto de vocês pois sois verdadeiramente simples. A vós que não tendes os defeitos dos homens, que ouvis sem ouvir, digo-vos que menti com quantos dentes tenho e são muitos, para chegar a esta função. E se pudésseis falar que não podeis o que me permite falar por vós, perguntar-me-íeis: mas é ético e correcto subir na vida enganando o semelhante? E eu digo-vos, mesmo que não ouvis, que nunca enganei o meu semelhante, pois na vida todos somos aparentemente semelhantes mas alguns são mais semelhantes que outros. Os que de facto enganei foram os, digamos, menos semelhantes, os eternos crédulos, os que se perdem nos cantos das sereias, os que deram, dão e darão sempre para o mesmo peditório. Porque, em verdade, é assim o mundo e não fui eu que o fiz. Acreditai!

 

Vós sois simples e felizes. Viveis num mundo de faz de conta. Tendes boca mas não comeis. Isso é bom, muito bom, porque nunca podeis sentir um murro no estômago como aquele que dei com toda a gana aos reformados, funcionários, os que se puseram a jeito e os que não se puseram. Sorte de vós que não tendes estômago, problema daqueles que o têm. E mais uma vez vos digo, que não fui eu que os fiz assim, com boca e estômago. Melhor fora que como vós não o tivessem. Melhor fora que tivessem apenas braços e pernas. E se vós que tendes boca mas não falais, como deve ser, pudésseis falar certamente me perguntaríeis se também poderiam viver sem cérebro. Não só poderiam como seria de todo conveniente. Vós não conseguis imaginar,  o que se poupava no ensino. Até se podia implodir o Ministério da Educação como era vontade do ministro no tempo em que estava na oposição. Nem precisaria agora de estar a mandar esses tipos, que se querem manter como professores, para o mercado de língua portuguesa. Exportar  tudo o que mexe é que é. E depois para que serve o conhecimento à plebe? É só para complicar. Até os governantes não precisam dele para nada. Se até houve um ministro quem sem pôr o pé numa Universidade se  licenciou para que serve andar a derreter dinheiro com investigação?  Acreditai!

 

Vós sois simples; mais que simples sois simplórios. Ainda não podeis votar, mas se pudésseis, certamente votaríeis em mim como outros tansos o fizeram e espantai-vos! continuam dispostos a fazê-lo. E isto mesmo depois de lhes cortar os subsídios de férias. Ainda há para aí uns ignorantes que teimam em protestar. Ignorantes porquê? Eu digo-vos: ignorantes, ingratos e piegas. Vede que nem percebem que os estou a aliviar de vícios que nunca deviam ter adquirido. "Às vezes parece que gostam de sarna para se coçar". Não querem se exigentes e choram lágrimas de crocodilo. " Nós nunca seremos piegas, nem nunca teremos pena desses coitadinhos". A nossa missão é fazê-los sofrer. No sofrimento está a salvação. Acreditai! 

 

Vós que sois simples, ingénuos, patetas alegres, pobres de espírito, estais no bom caminho. Apoiais-me sem reservas. E aqueles que pensam que eu governo para ganhar eleições estão enganados. "Que se lixem as eleições". Se as houver logo se vê. Perguntai, perguntai? Quereis saber se as eleições não são um desiderato constitucional num Estado de Direito? Ouvi esse santo profeta de nome Medina Carreira: Estado de Direito e Constituição não enchem barriga. E os parolos que fazem andar a engrenagem ainda a têm. E não fui eu que os fiz assim. Tenho é de salvar Portugal e quando acontecer "Todas as dificuldades por que passámos servirão para alguma coisa quando mantivermos boa consciência do que se passa à nossa volta, quando não nos comportarmos como baratas tontas e soubermos bem para onde ir". Vós que sois simples não sabeis, mas eu sei muito bem o que quero e para onde vou. E a vós que sois bonecos e me ouvis (ou não) em silêncio digo que o rumo está traçado: vou salvar-vos, quer queirais quer não. Olhai para os sinais: já se anuncia com trombetas a recuperação; já se vê o emprego a bater à porta; Diríamos se tivésseis voz que a dívida aumenta, que os rendimentos dos cidadãos diminuem, que a emigração leva a alma e os cérebros da nação. Digo-vos porque não podem ouvir que é verdade. Mas o povoléu come todas as tretas que eu debito. E gostam. E merecem. Acreditai!

 

MG

 

PS Texto publicado em 2012. Em face do foguetório que por aí grassa é hoje reposto depois de revisto e actualizado 

em "roupas femininas loja"

 

 Sala de professores de uma escola. Intervalo. Os professores chegam das aulas onde acumulam imenso stress. É altura de deixar sair a pressão. As conversas tendem a pender para o chinelo. Manda-se às malvas o racionalismo, o pensamento estruturado, o rigor da análise, a crítica política. Mesmo a terapia sobre a indisciplina, o significado de respeito, a ideia de educação reserva-se para reuniões institucionais. O que predomina nas no bate papo são as emoções feitas banalidades do quotidiano: amores, humores, sexo, aventuras e outras coisas boas da vida. 

 

Dia dos namorados. O assunto está na ordem do dia. As mulheres em grande maioria enredam-se em considerações sobre a sua condição de namoradas. Trintonas quarentonas e cinquentonas discutem qual a lingerie mais adequada para esse dia. Há quem se lembre dos sutians que reagem a estímulos externos da pessoa amada. Uma dama das mais bem informadas disse que a nova tecnologia estava nos seus planos, mas fora do alcance da sua bolsa. Contudo, já tinha preparado uma alternativa. Usando a sua capacidade criativa ia colocar por cima de uma lingerie sexy apenas uma gabardine. Logo aí outra namoradinha contestou o êxito da técnica no seu caso pessoal, pois tendo em consideração que o seu marido estava muito entrosado com a arte de bem beber, teria que se disfarçar de garrafa. Uma outra dama, discreta, tímida, silenciosa e que parecia pouco à vontade, pediu licença para dar opinião acrescentando: "conserva essa ideia da garrafa...quem sabe se ele não resolve usar o saca-rolhas? Ipsis verbi. Gargalhada. Corou! O que foi que eu disse? Campainha. Dispersão. Salva pelo gong. Nova corrida, o dia dos namorados pode esperar.

 

MG   

          imagens net  

Hoje o namoro já não tem o encanto de outrora. Pulsa ao ritmo alucinante das novas tecnologias. Assume muitas vezes um carácter quase informático. Nasce e morre à velocidade das ondas electromagnéticas. E mesmo quando se desenvolve no contacto "directo" das novas redes sociais, é muitos vezes efémero e fugaz, como o bater de asas de uma borboleta. Reflecte a sociedade de consumo, do imediatismo, do compra e deita fora. Do descartável. 

Viajando pelo Minho encontrei os tradicionais lenços de namorados.  Hoje não são mais que um souvenirs  para turistas acidentais ou saudosistas dos velhos tempos. Vejo recordado nestes lenços, na sua riqueza pictórica de mensagens ingénuas, uma forma mais autêntica, mais singela, mais ternurenta e até mais genuína do namoro em Portugal. E numa perspectiva mais prosaica não deixam de ser um documento relevante sobre os usos e costumes das nossas gentes. Pode encontrar informação mais detalhada sobre esta  interessante tradição aqui

 

MG

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