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Romeu e Julieta-Happy end
I
Romeu Cavaco tinha uma vida igual a tantas outras. Vivia num T0 da periferia comprado com crédito bancário e com a ajuda das economias dos pais conseguidas em anos e anos de poupanças em terra alheia. Trabalhava no comércio da capital cumprindo, religiosamente, o horário da nove às sete. O seu parco vencimento não dava para grandes aventuras mas dava para viver dignamente. No seu dia despreocupado sentia contudo a falta de uma companhia feminina. Ou seja, desesperava por encontrar uma alma gémea .
Em tempos, andara enrolado com uma colega de trabalho que o trocara por um comissário de bordo, cinquentão, que trabalhava numa empresa de aviação americana. A segurança económica falou mais alto. Noutra ocasião fora traído por uma escriturária de Companhia de Seguros que fora apanhada a sentar-se no colo do chefe de serviço. A promoção profissional ganhou-lhe aos pontos. Ainda chegou a ser abordado por uma quarentona divorciada, que o amassou num baile de fim de ano no velho Monumental. Mas quando foi chamado a entrar no serviço, acobardou-se, e deu de frosque. Ultimamente arranjou uma paixoneta por uma lasca desconhecida que todos os dias via passar à frente da loja onde trabalhava. Estava em pulgas para lhe chegar à fala, mas não arranjava maneira. Um dia, por acaso e quando passava os olhos por uma página de um vespertino viu-se a ler anúncios de bruxas, videntes, astrólogos e outros vendedores de felicidade. "Se a sua vida anda enrolada, o professor Hórus dá-lhe a solução" ou " as cartas da menina Lobélia solucionam problemas de amor" entre muitos outros. Romeu encheu-se de coragem e tomou a decisão:"Vou consultar a menina Lobélia."
Tocou à campainha de um prédio antigo na zona histórica, subiu umas escadas de madeira carcomida por muito afago dos mais desvairados calcantes e parou junto à uma porta de madeira velha, onde o esperava a cartomante Lobélia. Conduziu-o até ao gabinete através de uma salinha de espera decorada com imagens de santinhos de devoção popular. Sentaram frente a frente separados por uma mesa redonda coberta com um pano. A menina Lobélia olhou Romeu com ar severo e interrogativo e após um curto silêncio perguntou : " o que pretende saber?" "Queria saber o que dizem as cartas sobre o meu futuro". Lobélia pediu-lhe para partir o baralho e a seguir distribuías sobre a mesa. Virou-as lentamente e com voz firme e autoritária disse, "as cartas afirmam que tem sido infeliz com as mulheres, temos traição, abandono, ingratidão. Pensa muito em fandangos(leia-se sexo real) e vejo aqui uma mulher que o traz embeiçado. "Certo?" Vou dar-lhe um conselho: salte-lhe pra cima para ela se apaixonar por si..."
Romeu saíu animado com o resultado da consulta da cartomante.Tinha recebido informações seguras sobre o passado mas "salte-lhe pra cima..." martelhava-lhe a cachimónia como um relógio de repetição. Saltar-lhe para cima podia fazer sentido, mas como? apenas a visionava em movimento e na posição erecta?" Faltava qualquer coisa no puzle, precisava de mais informação. Foi neste ponto que resolveu recorrer aos serviços do astrólogo Horus.
Continua...