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Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

O verão é um período de incêndios. Acontecem devido a múltiplos factores. Às condições naturais favoráveis associa-se a acumulação de combustível, a desordenada mancha arbórea, a falta de limpeza florestal. Contudo, nenhum incêndio nasce de geração espontânea, isto é nenhum incêndio começa sem ignição. Esta, excepto em casos muito raros, não sucede sem a intervenção da mão humana. Por mais combustível que exista, este só arde se for ateado. Por incúria ou propositadamente. É este o cerne do problema.

 

Para além da ordenação, para além da limpeza, para além da vigilância, para além da eficácia no combate ao incêndio, a tragédia dos  fogos não tem solução enquanto estiver sem controle a fase da ignição. Esse controle, passa por uma acção pedagógica junto dos cidadãos, que inadvertidamente provocam incêndios. Passa também e sobretudo por fazer o recenseamento dos incendiários compulsivos detectados. E porque se trata de doentes mentais, é necessário tratá-los e mantê-los sob rigorosa vigilância. Se assim não for, sempre que as condições naturais o permitam, corre-se o risco de estar, ano após ano, a lamentar a destruição que o fogo provoca, incluindo as lamentáveis perdas humanas.

 

MG

22 Ago, 2013

Desfado

O fado é património oral e imaterial da humanidade. As suas origens são indefenidas e têm dado azo a várias explicações. Nascido em Lisboa, o certo é que o fado se torna canção nacional.  "O fadista canta o sofrimento, a saudade de tempos passados, a saudade de um amor perdido, a tragédia, a desgraça, a sina e o destino, a dor, amor e ciúme, a noite, as sombras, os amores, a cidade, as misérias da vida, critica a sociedade…" O fado marinheiro é considerado o primeiro fado.

 

 

Fado do   marinheiro


  Perdido lá no mar alto
  Um pobre navio andava;
  Já sem bolacha e sem rumo
  A fome a todos matava.

Deitaram a todos as sortes
  A ver qual d'eles havia
  Ser pelos outros matado
  P´ró jantar daquele dia


  Caiu a sorte maldita
  No melhor moço que havia;
  Ai como o triste chorava
  Rezando à Virgem Maria.


  Mas de repente o gageiro,
  Vendo terra pela prôa,
  Grita alegre pela gávea:
  Terras , terras de Lisboa.6  

— Cancioneiro popular

 

Durante a primeira metade do século XX, o fado chega ao grande público através do cinema, do teatro e da rádio. Na segunda metade do século XX galga fronteiras, emigra e conquista ao mundo. Uma nova geração de fadistas apresentam hoje o fado com novas roupagens, sem lhe tirar a sua genuinidade. É o que acontece com este desfado, cantado por Ana Moura, com letra e música de Pedro Martins:

 

 

 

Quer o destino que eu não creia no destino
E o meu fado é nem ter fado nenhum
Cantá-lo bem sem sequer o ter sentido
Senti-lo como ninguém, mas não ter sentido algum

Ai que tristeza, esta minha alegria
Ai que alegria, esta tão grande tristeza
Esperar que um dia eu não espere mais um dia 
Por aquele que nunca vem e que aqui esteve presente

Ai que saudade

Que eu tenho de ter saudade
Saudades de ter alguém

Que aqui está e não existe
Sentir-me triste

Só por me sentir tão bem
E alegre sentir-me bem

Só por eu andar tão triste

Ai se eu pudesse não cantar "ai se eu pudesse"
E lamentasse não ter mais nenhum lamento
Talvez ouvisse no silêncio que fizesse
Uma voz que fosse minha cantar alguém cá dentro

Ai que desgraça esta sorte que me assiste

Ai mas que sorte eu viver tão desgraçada

Na incerteza que nada mais certo existe

Além da grande incerteza de não estar certa de nada

 

Letra e música de Pedro da SilvaMartins

Repertório de Ana Moura

21 Ago, 2013

Fado

Eu avisei. Aqui dei destaque a uma nova voz do fado que irá dar muito que falar. Uma voz envolta numa personalidade fascinante, alter ego da genuinidade lusa. Simplicidade, ingenuidade, sinceridade. O primeiro disco de Gisela João já está nos tops de vendas. Merece.

 

"Amália Rodrigues foi a grande fadista do século XX. (...) Sei e sinto, com a mesma força, que Gisela João é a grande fadista do século XXI. (...) É essa a dimensão de que estamos a falar. (...) Aconteceu um milagre: ouça."
                             Miguel Esteves Cardoso / in Público

 

 

 

imagem padom.com br

 

A separação do mediático autarca Fernando Seara e da mediática jornalista Judite de Sousa, tem alimentado as primeiras páginas da imprensa, especialmente, as das revistas cor de rosa, neste quente verão. E tudo porque o autarca/comentador desportivo, foi apanhado a dar umas facadinhas no sagrado matrimónio. Foi apanhado ou deixou-se apanhar nas armadilhas do SMS. A ser verdade o que se diz e escreve, traiu, mentiu e assumiu.

 

Nos tempos idos, podia um homem de muito alimento ou mal alimentado em casa, dar umas voltinhas por fora sem arranjar grandes problemas com a legítima. Ou porque não era descoberto ou porque, quando o era, falava mais alto a estabilidade familiar. Sem recurso a tecnologias avançadas, a mulher desconfiada da alteração das rotinas do marido, tinha de recorrer a cartomantes, que quase sempre confirmavam a presença de intrusas na harmonia familiar "vejo aqui rabo de saia, as cartas não mentem". Outras vezes, eram as bocas do mundo, que buzinavam aos ouvidos da traída desvairados boatos. Contudo, quando interpelado o traidor, logo se desfazia em mentiras e mais mentiras. "Ora mulher, tu acreditas nessas patranhas das cartas?" ou "não sei, como com a tua inteligência (sublinhado) dás atenção a línguas viperinas". Assunto arrumado. Ou porque se faziam de parvas e engoliam a sapa para salvar o matrimónio, ou porque eram mesmo tansas e iam no blá blá do finório, mesmo que as facadinhas fossem dadas quase debaixo das suas saias.

 

Nos tempos actuais tudo pia mais fino. Quando o machão, menos cuidadoso, começa a dar um chega pra lá ou põe um travesseiro a dividir a cama, porque anda de barriga cheia ou porque já enjoou a refeição caseira, a legítima fica logo com a pulga atrás da orelha. E se agir com paciência, mais tarde ou mais cedo, acaba por apanhar o chuchão com a boca na botija. E se estiverem em causa autarcas mediáticos, as hipóteses aumentam exponencialmente. Só não sabe quem não quer saber, que estes cavalheiros, andam sempre artilhados com sofisticados telemóveis a disparar mensagens em todas as direcções. Basta a ofendida na sua exclusividade, dar uma olhadela na caixa do correio, para descobrir a marosca. Está lá preto no branco, entre mensagens para o empreiteiro e cunhas para emprego seguro: "meu amor" , "beijo homérico", "quando repetimos aquela noite fabulosa", "quando te livras da velha" ou se for mais para a poesia "benzinho, benzinho há noite vais ter o teu coelhinho" e outras dengosices mais ou menos vernáculas que um texto sério não reproduz.

 

O problema destes tempos é, que ao contrário do antigamente, mesmo que alguma dondoca, até por ser pra fentrex e não se importar de partilhar, queira limpar a folha do figurão, tem o caldo entornado. Está tudo registado no SMS e este não deixa mentir, nem fazer de conta que não se passa nada. Vai daí, ala moço, e partem para outra no recato da intimidade. A porra é quando são figuras públicas. Não há como fugir das narrativas que dia a dia vão alimentando a curiosidade do zé pagante que, ao menos, enquanto se enleia nestes novelos entre autarcas e jornalistas, esquece a traição que todos os dias lhe é preparada pela puta vida.

 

MG

 

 

 

Imagine que está numa terra que se assume, convictamente, medieval. Imagine que viajou para o reinado de Afonso II. Imagine-se numa luta contra os infiéis. Imagine-se a comer uma ementa das classes populares do século XII, obrigatoriamente sem colesterol. Imagine-se no solar das fogaças travestido de estalagem servido por atraentes estalajadeiras. Imagine que diz uma qualquer laracha dirigida aos acompanhantes quando está a ser servido por uma moça "medievalmente"  disfarçada. Imagine que após ouvir os seus comentários, ela lhe dirige a palavra dizendo: "quando eu saír volte a dizer-me isso." Imagine que está acompanhado por uma cara metade. Imagine tudo isto em Santa Maria da Feira, num tempo que sendo actual consegue ser simultaneamente passado.

 

Na realidade, por muito que imagine, não consigo ter o dom da ibiquidade e mandar metade de mim de regresso ao hotel com a dama de companhia oficial e ficar com a outra metade à espera que a moça acabasse o serviço que desempenhava, para voltar a dizer-lhe aquilo que, honestamente, não lhe disse. Porque o que disse não lhe era destinado, nem era nada que não pudesse ser dito publicamente. E se o que disse não foi o que ouviu, tinha interesse em saber o que queria, realmente, que lhe dissesse. Presumo que sendo ela na altura "medieval" e eu um turista de outro tempo não falássemos a mesma linguagem verbal.

 

Se estivesse estado na sua saída para lhe dizer "isso" e não estive por razões óbvias, talvez nos tivéssemos entendido na linguagem universal. Assim fica a persistente dúvida a atazanar-me o sossego. Assim fica a consciência pesada de ter deixado a moça pendurada, na saída, à espera que lhe dissesse o que não sabia que lhe havia de dizer. O que não tem remédio, remediado está, pelo menos até ao regresso da idade das trevas a Santa Maria da Feira. E aí espero voltar e estar atento à saída da estalajadeira, que quer que lhe repita a frase que nunca lhe disse, na esperança que o que lhe disser só faz sentido dito à saída.

 

MG  

O direito ao gozo de férias é uma conquista recente. Vem na sequências das lutas laborais e da ascensão ao poder de partidos de índole socialista. São um direito universal expresso na Declaração dos Direitos do Homem. Em Portugal, generalizam-se após o 25 de Abril de 1974. O conceito de férias  inicialmente associado ao direito ao lazer, acabou por dar azo a uma revolução na economia mundial, com a criação da indústria do turismo. Ironia das ironias é a classe empresarial, são os donos de dinheiro, que acabam por beneficiar deste direito popular, descobrindo uma nova forma de multiplicar o seu capital.

 

Durante longos meses de trabalho, os cidadãos sonham com a chegada desses dias de paragem na actividade profissional.  Paralelamente ao gozo de férias surgiu a moda dos banhos de mar. As longas praias da costa portuguesa, adormecidas durante séculos pelo embalo das ondas marítimas, foram acordadas por gente ruidosa e sequiosa de sol e mar no período estival. Quando chega o Verão o país entorna-se para o litoral, especialmente para o Sul na procura de calor e águas mais tépidas. A maioria dos que podem dar-se a esse pequeno luxo partem de armas e bagagens para as praias mais procuradas. Aterram na confusão das urbes marítimas, disputam milímetro a milímetro um lugar no areal. Embebedam-se de sal, torram-se de raios uv. Mais escaldão menos escaldão, sentem-se felizes e durante breves momentos alheiam-se das agruras da puta da vida.

 

Ao contrário da maioria dos que podem fazer férias fora de casa, não rumo, nesta época  ao Sul. Como a formiga no carreiro vou em sentido contrário. Longe do burburinho cosmopolita da área marítima rumo a Norte. Perco-me nas paisagens verdes das beiras e do Minho. Calcorreio as ruas de pequenas vilas, com alguns visitantes, mas onde se sente o genuíno pulsar dos autótones. Procuro saborear as gastronomias locais, com moderação, que a vida não está para luxos. Integro-me nas suas festas seculares e sinto-me no Portugal tradicional, embora modificado pela modernidade. Feirense em Santa Maria da Feira onde a sua viagem medieval é já uma instituição nacional, tripeiro na Invicta, ponte-limense em Ponte de Lima com a sua ponte romana e a sua arquitectura de belos solares, cerveirense em Vila Nova de Cerveira com a sua bienal. E muitas outras poderia referenciar. Descobrir este Portugal, mesmo se já descoberto, tem sempre um encanto renovado. E sem pôr em causa as virtualidades do litoral marítimo, acentuo, que mesmo para férias, existe outro país.

 

MG


   

07 Ago, 2013

Escrever no vento

 

 

Palavras, palavras, palavras. De muitas palavras se faz a blogosfera. Palavras de elites da escrita. Palavras de milhares de cidadãos anónimos. O ciberespaço liberalizou a palavra, "igualitarizou" as ideias. Aqui todos podem exprimir-se, todos podem colocar opiniões, todos podem publicar textos mais ou menos literários. É o comunismo da escrita. O acesso da plebe à expressão do pensamento em letra de forma.A escrita dos blogues e nos sites não passa porem de uma imitação de democracia literária. A literatura que permite retorno imediato  e que ficará para memória futura continua a residir na velha galáxia de Gutemberg. E esta continua a funcionar no ciclo fechado de uma elite de nobre.

 

 Escrever no ciberespaço é como escrever no vento. É uma escrita efémera que uma brisa contínua vai arrastando do horizonte visível. É uma espécie de estrela cadente que pode brilhar intensamente por uns instantes mas depressa se transforma num obscuro buraco negro. O ciberescritor publica assim as crónicas que nunca escreveria, tira das gavetas da memória os contos que ali estavam condenados a uma inexistência eterna, reflecte o que não seria reflectido, exprime emoções, intimidades ,nas imagens paridas em textos poéticos. Inspiração, transpiração de vogais, consoantes, artigos, adjectivos, verbos, conjunções que não sairiam da gramática. Palavras, frases, períodos, parágrafos, texto, que não sairiam do dicionário. Pontos, exclamações, interrogações sem utilidade. Quase trabalho de Sísifo num constante vaivém para uma breve visibilidade. Vale a pena? O ciberescritor sai da penumbra do anonimato a que estava destinado. Ganha fiéis ou ocasionais leitores. Partilha a sua criatividade com os seus pares que reconhece e por quem é reconhecido. À margem ou no cerne labuta entra em pequenas redes de afectos. Já não é um número indefinido das estatísticas populacionais. É um entre mil ou mais que escreve sabendo que alguém vai ler. Pequena ou grande e única compensação? Quem pode dizer! Quem pode saber se o vento na sua galopada imprevisível não é dotado de memória? Quem sabe?

 

MG

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Não somos todos iguais

Os ricos têm mais

 

Despaís, Pedro Sena-Lino

 

 

(novo romance)

 

A afirmação de que somos todos iguais é uma balela. Não somos iguais porra nenhuma. Não somos, nunca fomos e não sei se alguma vez seremos, pois não existe informação credível sobre o futuro. Todos somos diferentes e essa constitui a riqueza da humanidade. É na diversidade que vida faz sentido. Ninguém é igual a ninguém e umas vezes somos mais outras vezes somos menos. Há os que têm mais centímetros, os que têm mais peso, os que são mais belos, os que têm mais anos, os que têm mais gajas (ou gajos) os que usam mais neurónio, os que têm mais pilim, os que têm mais cor. (E antes que me acusem de defender ideias racistas quero esclarecer que não me incomoda ouvir um caramelo dizer "raio do preto" da mesma forma que não me escandaliza se um tipo mais escurinho me chamar "cara pálida" para usar uma expressão cinéfila made in states). A desigualdade é injusta? Pois é! A verdade, se é que existe ,é que anda meio mundo a tentar enganar meio mundo desde que há mundo. (E antes que me acusem de passar para o lado dos exploradores quero garantir que em teoria sou pela igualdade e não apenas enquanto princípio).

 

Da mesma forma, a ideia de que todos temos os mesmos direitos é uma história da carochinha para enganar papalvos. Não temos nem aqui nem na China. (não pode aver melhor exemplo) Não há iguais direitos entre nações, nem iguais direitos entre pessoas. Uns têm mais direitos outros têm mais deveres. Uns têm de gramar mais austeridade, outros nem por isso. Uns estão sempre a apertar o cinto, outros a alargá-lo. Uns gozam merecidas férias de verão, outros gostariam de lhe tomar o gosto. Uns têm direito a muito sexo, outros têm o mesmo direito a imaginá-lo. (E antes que me acusem de estar obcecado com a coisa, confesso que foi peditório para que já dei porque já escasseiam os meios)

 

Mas viver na ilusão da igualdade tem as suas virtudes. Uma delas é suportar melhor a desigualdade, é acreditar que será possível atenuá-la, é construir horizontes de esperança. É nessa lufa lufa que se aguenta mais e mais. Que às vezes se espera e às vezes se desespera. Que se planeiam durante meses mais umas férias. Que se anseia pela sua chegada. Mar, sol, corpos ao léu, regresso ao "rame rame". Até que, na desigualdade, a morte nos separe. Não somos, nunca fomos iguais, mas ninguém pode dizer que não tentámos sê-lo e que continuaremos a tentar. Eis a utopia humana.

 

MG

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  

imagem tvi 24

 

 

Maria Luís Albuquerque pôs-se a tocar a fera com vara curta, enfureceu o animal, e a seguir ficou naquela situação caricato do tipo que "se foge o bicho pega, se fica o bicho come". Acabou por ficar entre uma e outra isto é na boca da fera, onde esperneia, esperneia, mas de onde não se consegue libertar. Tudo começou quando, para lixar os adversários políticos, tirou a tampa da panela dos swaps e tal e qual a caixa de Pandora soltou toda a porcaria, que acabou por lhe caiu em cima. Depois, como menino apanhado a fazer asneira diz "não fui eu" e empurrou a culpa para cima dos outros. Mentiu. Confrontada com a mentira foi construindo uma narrativa de mentiras contra tudo e contra todos. Está cada vez mais presa na boca do bicho.

 

O episódio protagonizado pela ministra das Finanças não espanta um observador atento. A mentira é uma prática institucionalizada por este Governo, faz parte da sua matriz genética e que começou com a forma como conseguiu ascender ao poder. Não admira assim que a designada miss Swap tenha convidado para seu secretário do Tesouro, um mestre "swapeiro" que enquanto director do Citigroup tentou vender swaps ao governo de Sócrates. Pior, o produto em causa, vinha acompanhado  de um truque para mascarar as contas públicas e enganar as instâncias europeias. A equipa das finanças está transformada num albergue "swapeiro".

 

Aquando da remodelação do Governo, foi empossado um secretário de Estado adjunto de um ministro adjunto. Interroguei-me sobre a sua utilidade. Está esclarecido. Pedro Lomba, um cidadão que tarimbou nos blogs, foi contratado para fazer briefings diários em nome da governação. Preenche assim uma lacuna atribuída ao Governo no âmbito da comunicação. (leia-se propaganda) Acontece que esse não é o problema do Governo. O problema está nas políticas erradas, que não mudam com qualquer retórica. Daí que estes briefings sejam autênticos flops. Como exemplo, foi penoso ver o secretário do Tesouro meter os pés pelas mãos ao tentar lavá-las da acusação de vendedor, sem sucesso,  swaps ao Governo anterior. Este Governo dava um filme que poderia chamar-se, Swaps, Mentiras e Briefings.  


Numa casa portuguesa fica bem, pão e vinho sobre a mesa. E se à porta humildemente bate alguém, senta-se à mesa com a gente. Fica bem esta franqueza, fica bem, que o povo nunca desmente. A alegria da pobreza está nesta grande riqueza de dar, e ficar contente...

... Basta pouco, poucochinho p'ra alegrar Uma existência singela... É só amor, pão e vinho e um caldo verde, verdinho a fumegar na tigela.  

 

Uma Casa Portuguesa Poema de Reinaldo Ferreira e V. Matos. Música de Artur Fonseca

 

Este poema sintetiza a ideia da pobreza no Estado Novo. É uma pobreza assumida como uma bênção do destino. Não é importante o que está sobre a mesa. Importante é a associação da felicidade com a singeleza, expressa no ter pouco, poucochinho. A pobreza é apresentada como um objectivo de vida. Ser pobre, possivelmente, o contrário de ser rico, é estar alegre, é viver contente. A teoria do pobrete mas alegrete voltou à agenda do dia na ideologia do governo PSD, com o "temos que empobrecer". É como um regresso às origens, uma assunção da verdadeira alma portuguesa, vendida à ilusão do bem estar.

 

Esta visão idilica da pobreza divulgada pela propaganda do regime não correspondia na prática à realidade dos pobres. A justificação está nos milhares de emigrantes que abandonaram as quatro paredes caiadas e rumaram a paragens menos alegres na esperança de juntarem ao pão e ao vinho sobre a mesa, aquilo a que chamavam algum conduto.

 

Como escreveu Filipe Luís na Visão, no artigo Brincar aos Ricos, Cristina Espírito Santo cultiva a imagem romântica e pitoresca de quem nunca viu um pobre. Se a dita senhora quer brincar aos pobrezinhos tem de viver nem que seja apenas um mês com o ordenado mínimo, numa casa sem luz, água e instalações sanitárias. E/ou trabalhar oito ou mais horas por dia numa fábrica têxtil, e/ou juntar-se aos grupos de vietnamitas que laboram nas herdades alentejanas. Até lá Cristina Espírito Santo continua a brincar às brincadeiras a que sempre brincou e que por ignorância, confunde, com a pobreza que nunca conheceu.

 

MG