Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Reconheçamos, o Presidente surpreendeu. Surpreendeu os comentadores e os políticos. E por estranho que pareça apresentou uma solução inovadora. Dizendo que não marcava eleições antecipadas, acabou por admitir a sua realização antes do fim da  legislatura, o que, em bom português, significa que serão eleições antecipadas. É o que se chama uma solução salomónica. Agora o que não se percebe é como se governa o país até lá. Com este Governo? Com este Governo remodelado? Com um Governo de gestão? Com outro Governo? O que parece é que estamos perante uma lição da arte de decidir não decidindo coisa nenhuma. O Presidente pôs mais lenha na fogueira da crise.

 

MG

imagem realbeiralitoral

 

...onde está o povo? O povo está nas manifestações de rua? Não. O povo está nos protestantes das galerias da Assembleia da República? Hum. O povo são os grevistas? Bah. O povo são os milhares de desempregados? Nem por isso. O povo , o verdadeiro, o genuíno, o da Bayer ,(passe a publicidade) o que aplaude os governantes, é o que está na missa da igreja dos Jerónimos! O resto é paisagem.

 

MG 

Um dirigente desportivo da velha guarda disse há muitos anos que o que no futebol é verdade hoje, amanhã é mentira. Esta afirmação resistiu ao passar do tempo e já ganhou um lugar na galeria dos pensamentos citáveis. No entanto, na altura e na boca de quem a proferiu, não era mais do que uma simples evidência. Evidência do mundo do pontapé na bola, mas que hoje, continuar a ter total actualidade porque se tornou transversal a outras actividades, nomeadamente na área da política.

Deste modo, se diz com a maior cara de pau que, o irrevogável é igual a revogável, a dissimulação também é simulação, consciência e inconsciência não passam de questão semântica. De uma forma mais exotérica, o que aconteceu, não aconteceu, foi apenas um corte no tempo, uma deriva de um  mundo paralelo. Ou em linguagem do "futebolês" é a futebolização da política. Ou no campo da ética, dos princípios, dos valores é uma tábua rasa, é o regresso ao ponto zero. Ou a negação da palavra, da honra, da verticalidade. Ou a demonstração da pré-humanidade. Que venha o diabo e escolha, se não é ele que já está no poder.

 

MG

Parêntesis na novela mexicana em que se tornou a política em Portugal. Parêntesis nas banalidades que escrevo e leio sobre isso, com mais ou menos destaque. Parêntesis no discurso do medo, como forma de perpetuar no poder um governo incompetente. Parêntesis nos sound bites do "é tudo igual" ou a "alternativa socialista é a mesma coisa" que contestando o que está o apoia objectivamente. Parêntesis. Período de nojo. 

 

Resta-me escrever sobre coisas que não interessam mesmo nada a ninguém. Como sobre o facto de eu ter, muitas anos depois, voltado à Universidade. Pois voltei. E voltei, com coerência, porque nunca disse que voltar era irrevogável. Palavra que nunca disse, nem direi, enquanto tiver vergonha na cara. O certo e garantido é que voltei e gostei de ter voltado. Sinto-me muito bem e chega. O que lá faço ou deixo de fazer é assunto irrelevante. De uma forma geral faço o que faz qualquer frequentador daquele espaço. Por exemplo, vou até ao bar, peço o meu café, sento-me a ler as notícias de um jornal gratuito (a vida está difícil) e/ou descontando as distracções que são muitas vou folheando um livro. Um dos livros em que me embrenhei nessas estadias no bar, foi "A Sala Magenta" de Mário Carvalho, prémio Fernando Pessoa 2009. A história gira à volta das reflexões de  um realizador de cinema "intelectual" já entradote nos anos e chamado Gustavo.

 

As suas fitas premiadas em festivais de cinema do quarto mundo, rodaram em sala vazias. E aí não posso deixar de fazer comparação com a minha estulta pretensão de querer ser escritor, convencido que escrevo  coisas que podem interessar a alguém. Nem no Botswana.Uma treta. Mas depressa fujo à angústia de baixar o ego, quando levanto os olhos do referido livro e os mergulho nuns encantadores  olhos castanhos, onde me refresco por uns breves segundos. Mas, carregadas baterias, volto à sala magenta, local de festas de Maria a mulher da vida do Gustavo, que todas as noites o recebia e todas as noites o escorraçava como cão vadio, depois de lhe dar comida. Esta estranha atracção por Maria, que nem era boa de cama, não impedia Gustavo de se perder nos leitos de outras mulheres, ocasionais e passageiros. Desde a mulher do crítico social Silvério que se ia deitando com este e com aquele a pedido do marido para lhe contar as experiências, até à insonsa Marília com que fazia sexo mole. Quando preciso de respirar e levanto os olhos das vidas de papel impresso, para  voltar aos olhos castanhos que tinha deixado em banho Maria, já eles estavam ocupados a olhar para um marmanjão com ar de pára-quedista. Sem hipótese. Ainda passei o olhar por uns fugidios olhos ingenuamente azuis, mas célere regressei à vida plasmada em letras impressas. Na literatura e na vida o sonho não tem limites. Se outra razão não houvesse esta é suficiente para estar na Universidade.

 

Como nos filmes premiados sem espectadores do realizador Gustavo, perdidos de olhos em olhos, deixamos passar o tempo, até acabarmos como ele, com um pé (ou outra coisa qualquer) engessado e preso por misericórdia na casa de uma irmã, Marta, professora aposentada e desquitada de um professor de matemática que, num último arroubo de juventude, foi atrás da aritmética de um lambisgóia de tenra idade. E eu que nem sou de matemática, apenas vou tirando medidas, enquanto passeio o olhar pelas muitas lambisgóias que dão cor ao bar.

Gustavo, na vivenda que a irmã comprou nas margens da lagoa Moura, no Alentejo profundo, vai partilhando com ela e com os eventuais leitores, as recordações de um passado sem futuro, num presente de bucolismo rural tardio. Numa reflexão em que a vida, feita de pequenos nadas, termina num nada absoluto. Na viagem entre a ficção e a realidade, perco-me na terra de ninguém e já não sei se aqueles olhos verdes em que me banho, não serão as águas da lagoa moura pejadas de belas sereias. E já não sei se estou por dentro do livro e por fora da vida ou vice-versa. E num arroubo de lucidez, caio e mim, e não percebo porque perco tempo com esta história, que nem interessa ao menino Jesus, enquanto o país, onde nasci, está a afogar-se numa lagoa de lágrimas contidas.  

 

MG  

 

 

06 Jul, 2013

Voltei, voltei

Voltei, voltei

Voltei do irrevogável

Ainda ontem me demiti

E hoje já sou ministeriável

Vale mais vice primeiro

Do que  Paulo o ano inteiro

 

Volte, voltei

Voltei da embirração

Ontem traí o governo

E hoje salvei a nação

 

Só eu sei o que sofri

Estando fora do lugar

E  ao Senhor (?)tanto pedi

Que me deixasse voltar

 

E agora já estou aqui

E até fui promovido

inda não percebi

Quem é que vai ser fodido

 

Voltei, voltei

Voltei sem ir

Ainda ontem me choraram

E hoje sou eu que estou a rir

Vale mais um dia fora

Que um ano sem existir

 

Eu nasci pra ser poder

É o meu dom natural

Nem que doa a quem doer

Nem que lixe Portugal

 

O filme da série B continua.Portas e Passos continuam a brincar aos governos. Entretanto que faz Sua Excelência o senhor Presidente da República Aníbal Cavaco Silva?  Está reunido com economistas para discutir o período pós-troika. Mas o que é período pós-troika?  Uma situação que não existe, nem existirá, possivelmente, tão cedo. Por outras palavras, sua Excelência combate moinhos de vento. Este Presidente assume-se como um D. Quixote de má literatura. O problema é Portugal não é um país real e não uma ficção de maus argumentistas. O problemas são pessoas de carne e osso e não personagens de opereta bufa. Quando é que se coloca um the end nesta fita.

 

MG 

04 Jul, 2013

O discurso do medo

Estamos, pois, aparentemente, reféns de dois grandes medos. Na verdade, o Governo "não se vai embora" porque está protegido por toda uma rede de medos que paralisa a acção dos agentes políticos. Mas não só dos responsáveis políticos. A sociedade inteira é paralisada por diversos medos.(...) A menos que as razões objectivas do medo sejam tantas que já só a acção as possa exprimir...Pode então surgir o "homem sem medo"...

 

José Gil, revista Visão

 

Não acredito que haja homens sem medo. O medo faz parte da natureza. Tem utilidade na delineação de limites que balizam a acção, mas não a pode paralisar, porque aí entramos no âmbito do pânico, esse sim inibidor de qualquer acção. A título de exemplo, lembro, que tivemos ,assumidamente, dois homens sem medo: o general Humberto Delgado e o almirante Pinheiro de Azevedo. Qualquer deles consumido na voragem da inconsequência na acção. O medo natural que nos condiciona a acção perante perigos reais, que podem pôr em causa a sobrevivência, é um sinal de bom senso e de inteligência, de procura do equilíbrio necessário à vivência em sociedade. Já o medo induzido, sob a forma de ameaça,  propositadamente, como forma de controlar ideologicamente os nossos actos, é uma violência psicológica.

 

Neste sentido, a narrativa recorrente, umas vezes consciente, outras inconsciente, que se tornou dominante desde que este Governo tomou posse, visa manter a sociedade paralisada pelo medo. Umas vezes de modo directamente brutal, outras mais subtilmente, a mensagem que passa baseia-se num axioma simples: este governo é mau, mas não há alternativa, ou se há não é melhor. Este tipo de discurso, ao contrário, foi usado, despudoradamente, pela direita para derrubar Sócrates , considerando-o como uma espécie de besta apocalíptica. Da mesma maneira, no discurso vigente, Seguro é apresentado, curiosamente até na argumentação da esquerda, como um incompetente "avant la ". É completamente falso.

 

Como está comprovado, não existem duas pessoas iguais. Nem mesmo os gémeos uterinos com muitas semelhanças o são. Seguro não é igual a Passos. Tem outra personalidade, tem outra sensibilidade social, tem outro conceito de justiça social, tem outro "modo vivendus", tem outra experiência governativa, e é portador de um outro projecto político. Logicamente que terá defeitos como todos nós. Logicamente que será condicionado na sua acção pelo contexto económico e social, como qualquer político que exerça o poder, mesmo que seja da esquerda mais radical. É o político que eu gostaria que estivesse à frente do maior partido da oposição? Não é. Porem, o discurso que diz que não há alternativa ou que a alternativa provável é igual ao que existe, serve, objectivamente, o status quo. E serve-o, repito, consciente ou inconscientemente. Antes que surja o "homem sem medo" prefiro apostar no homem com "medo", porque imperfeito, mas humano. Sem medo.

 

MG

 

 

Começou uma nova novela da tarde nas televisões. Passa em todos os canais sem aviso prévio, sem atribuição de título e sem guião determinado. O argumento é livre e fica a cargo da imaginação dos actores e da especulação dos espectadores. É o que se chama um espectáculo aberto. E que espectáculo! Tem suspense, traição, conflito, ódio, vingança, reconciliação Tem todos os ingredientes de um grande "dramalhão". Está, porém, a ser representada por actores menores que lembram garotos a jogar às escondidas. Por isso pode chamar-se Portugal dos pequeninos.

 

No primeiro episódio que se apresentava como o único, foi logo eliminado o Mau. Os críticos dividiram-se, o povo exultou. Quando todos esperavam a palavra fim o anunciado Bom saiu de cena, a audiência aumentou, e assim nasceu um novo episódio. A audiência aumentou o climax subiu. Ao contrário das previsões dos analistas e da vontade dos espectadores, o vilão recusou-se a sair de cena e jurou que recuperava o Bom. No terceiro episódio, o Bom continua desaparecido, mas espera-se que volte envolto em nevoeiro.

 

O guionista omisso, criou a criatura mas perdeu-lhe o controle. Perdeu-se no labirinto do seu palácio e não controla a acção. Pior, está refém da própria acção, que decorre no jardim infantil. Entretanto, ao lado milhões de euros fogem da Bolsa para parte incerta. Os credores afiam as facas da especulação. A novela da garotada continua. Esperam-se os novos capítulos.  

 

MG

Ontem perguntei, aqui, premonitoriamente, se a queda de Gaspar não significaria a queda do Governo. Oficialmente este governo ainda não caiu mas continua a afundar-se. Hoje a nau sofreu mais um rombo com a demissão de Paulo Portas. O ministro dos Negócios Estrangeiros não é um ministro qualquer. Portas é o número dois deste executivo e o secretário-geral de um dos partidos que o suporta. Apesar desta demissão a nova ministra das Finanças acaba de tomar posse. O que se está a passar? O que se vê é a orquestra a tocar alegremente, enquanto o Titanic se afunda. Este filme não é novo: o desastre é inevitável.

 

MG