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Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Terça-feira. Acordei impaciente. Saí para o dia mas não o vi. Uma penumbra de chumbo escondeu-o. O vento ruidoso e sibilante assustou-o. Perguntei: Porquê vento? Porque nos roubas o dia? O ventou não respondeu. Continuou a empurrar uma nuvem contrariada. Muito boa noite, disse à noite que sabia ser dia. Muito boa noite, gente esquecida e assustada. Gente que faz quase tudo, gente que tem quase nada. Gente que ainda tem voz, não pode ficar calada. Gente que vai protestar, que não vai ficar especada. Avida é feita de pequenos nadas.

 

(Segunda-feira
trabalhei de olhos fechados
na terça-feira
acordei impaciente
na quarta-feira vi os meus braços revoltados
na quinta-feira
lutei com a minha gente
na sexta-feira
soube que ia continuar
no sábado
fui à feira do lugar
mais uma corrida, mais uma viagem
fim-de-semana é para ganhar coragem)

Muito boa noite, senhoras e senhores
muito boa noite, meninos e meninas
muito boa noite, Manuéis e Joaquinas
enfim, boa noite, gente de todas as cores
e feitios e medidas
e perdoem-me as pessoas
que ficaram esquecidas boa noite, amigos, companheiros, camaradas
a vida é feita de pequenos nadas
a vida é feita de pequenos nadas

Somos tantos a não ter quase nada
porque há uns poucos que têm quase tudo
mas nada vale protestar
o melhor ainda é ser mudo
isto diz de um gabinete
quem acha que o casse-tête
é a melhor das soluções
para resolver situações
delicadas
a vida é feita de pequenos nadas

E o que é certo
é que os que têm quase tudo
devem tudo aos que têm muito pouco
mas fechem bem esses ouvidos
que o melhor ainda é ser mouco
isto diz paternalmente
quem acha que é ponto assente
que isto nunca vai mudar
e que o melhor é começar a apanhar
umas chapadas
a vida é feita de pequenos nadas

(Segunda-feira
trabalhei de olhos fechados
na terça-feira
acordei impaciente
na quarta-feira
vi os meus braços revoltados
na quinta-feira
lutei com a minha gente
na sexta-feira
soube que ia continuar
no sábado
fui à feira do lugar
mais uma corrida, mais uma viagem
fim-de-semana é para ganhar coragem)

Muito boa noite, senhoras e senhores
muito boa noite, meninos e meninas
muito boa noite, Manuéis e Joaquinas
enfim, boa noite, gente de todas as cores
e feitios e medidas
e perdoem-me as pessoas
que ficaram esquecidas
boa noite, amigos, companheiros, camaradas
a vida é feita de pequenos nadas
a vida é feita de pequenos nadas

Ouvi dizer que quase tudo vale pouco
quem o diz não vale mesmo nada
porque não julguem que a gente
vai ficar aqui especada
à espera que a solução
seja servida em boião
com um rótulo: Veneno!
é para tomar desde pequeno
às colheradas
a vida é feita de pequenos nadas
boa noite, amigos, companheiros, camaradas
a vida é feita de pequenos nadas.

 

(

Sérgio Godinho

 

http://www.youtube.com/watch?v=YP9Rc3KIz9g

 

Este é o governo mais estúpido que Portugal já teve

 

Hélder Macedo, escritor

 

O pior cego é o que não quer ver. Mete-se pelos olhos que a política de austeridade aplicada há ano e meio não faz sentido. Vê-se a olho nu que destruir a economia não contribui com um chavo para controlar a dívida. Até um ceguinho enxerga que o país vai de mal a pior.

 

Gente de vários quadrantes, de diferentes níveis etários, de variados sexos têm avisado que é necessário alterar o rumo. Não adianta. Este governo pode estar à beira do abismo e diz que vai dar um passo em frente. Cegueira, estupidez, cretinice? Não há epítetos que cheguem. Apreciemos a boa literatura:

 

 

 

 

02 Mar, 2013

O povo saiu à rua

Tiago Miranda (fotografia tirada por telemóvel)

 

O povo saiu à rua. Contra os divisionismos entre velhos e novos, entre "instalados" e desempregados, entre reformados e trabalhadores. O melhor povo do mundo deu uma lição de civismo aos piores governantes do pós-25 de Abril. O protesto popular mostrou, à arrogância governativa, que ganhar eleições não dá o direito de exercer o poder de forma discricionária. A democracia não se pode limitar ao dia do acto eleitoral. A democracia só existe quando o povo mais ordena.  

 

 

 

01 Mar, 2013

A emenda e o soneto

A política de austeridade da Alemanha está a conduzir a Europa para o caos. Depois do ataque à economia dos pequenos países periféricos aplicou a mesma política às grandes economias do sul-Espanha e Itália. Numa tentiva de evitar um humilhante resgate, a Itália, sob a direcção de Mário Monte aplicou uma austeridade mitigada. Evitou, assim, o mal pior, que era ficar sob o domínio da chamada troika, com soberania limitada. Berlusconi, espécie de personagem de opereta, não conseguiu controlar a sua obsessão pelo poder e resolveu provocar eleições antecipadas.

 

O resultado está à vista. O mau soneto que é Monti, acabou por ser sujeito a uma emenda bem pior. A votação dos italianos, em desespero, caiu em  números impensáveis, num partido-cinco estrelas- sem coerência e sem programa viável. Um partido com medidas populistas irrealizáveis e irresponsáveis. Um partido que tem como principal objectivo destruir o "sistema" sem apresentar nada em troca. Acresce, o facto, do partido vencedor, (aliança de esquerda) apesar de ter uma maioria aritmética no Congresso, acabar por estar representado em minoria. Prevê-se uma Itália ingovernável. E das duas uma, ou os medíocres dirigentes europeus, percebem que a situação política na Itália é perigosa para o sistema democrático e põem fim à sua estratégia suicida ou caminhamos para um impasse que pode mergulhar toda a Europa num período negro. Salvadores de todos os matizes já afiam os dentes.

 

A história na sua sabedoria é clara na lição. Quando a uma crise económica fomentada pela ganância se junta instabilidade política a situação começa a ser explosiva. Quem tem um mínimo de memória ainda lembra as ditaduras fascistas e uma guerra que subalternizou a Europa no contexto internacional. A política Europeia não precisa de emendas. Precisa de novos poetas e de novos sonetos. Urgentemente.

 

MG

 

 

 

 

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