Máscaras de cera
Chegou mais um carnaval...(começava assim o texto que comecei a escrever sobre esta festa popular, também já vitima da globalização)...diria (continuei) que é mais Entrudo, recordando aqueles tempos de um passado escondido de reminiscências pro-traumáticas de miséria e totalitarismo, quando me lembrei de uma crónica aqui postada há um ano. Li e reli. Não havia dúvidas. Um ano, trezentos e sessenta e cinco dias e nem uma ruga de envelhecimento. Foi como se um ano tivesse sido apagado da nossa existência e tivéssemos a começar do zero. Foi como se sacrifícios, desrespeito, desconsideração contínua, fossem uma expiação de constante retorno como o mito Sísifo que "fora condenado pelos deuses a realizar um trabalho inútil e sem esperança por toda a eternidade: empurrar sem descanso uma enorme pedra até o alto de uma montanha de onde ela rolaria encosta abaixo para que o absurdo herói mitológico descesse em seguida até o sopé e empurrasse novamente o rochedo até o alto, e assim indefinidamente, numa repetição monótona e interminável através dos tempos". A única diferença é que a pedra e maior e a insensibilidade mais insensível. Para memória futura eis o texto, sem necessidade de alterar uma simples virgula:
Depois de um ano de vida taciturna sempre a ouvir: cortar cortar, trabalhar, trabalhar, sacrificar, sacrificar hoje vou vingar-me. Folia, folia, folia. Para começar vou mascarar-me. Aqui entra o desespero. Mascarar-me de quê? Dei uma volta pelas lojas chinesas para me inspirar. e opções não faltam(electricidade, banca…). Difícil é a escolha.
Homem aranha? Até que era uma boa, tecer uma teia para apanhar essas novas moscas (só as ditas que a m é pior) , mas não dá,pois agora estou tão frágil já não consigo ser ágil. Mosqueteiro? Para quê? O rei vai nu. Cowboy dos justiceiros? Não era má ideia, para libertar a cidade de bandidos, a começar pelos do BPN. Mas não tenho perfil. Precisava de mais meio metro para ficar à altura, no mínimo, do Jonh Wayne. 007? Era uma boa, para limpar o sebo aos drs No(S) (faço-me entender?)que querem estragar o mundo. Não ia resultar, com tantas gajas boas a desviar-me a atenção. Branca de Neve para matar a bruxa má do Norte? (para bom entendedor). Não. Encaixava melhor no papel de anão .Robin Hood? Como se não há ricos, para pagar o pato, a começar pelo Amorim. Amigo do ShereK? Impossível! Burro já me fazem todo o tempo. Toureiro? Dava jeito para pegar a vida pelos cornos, mas os bois perderam-nos, deram todos em piegas. E de pastel de nata? É muito arriscado, pois corro sério risco de ser considerado herói nacional e salvador da pátria pelo ministro emigrante (fácil de identificar)
Uff, está a ficar complicado e estou cada vez mais bloqueado. Vou mas é manter a máscara que uso todo o ano, a de Zé ninguém, e deixar-me de ilusões. Ao fim e ao cabo Carnaval é todos os dias, é quando a troika quiser.