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As palavras abandonaram-me. Recusam sair do esfera da esferográfica recusando, por sua vez, à tinta liberdade de expressão. As letras das teclas do computador boicotam, sem arrependimento, a livre vontade dos dedos. Até os insignificantes sinais, penalizados pelo acordo ortográfico, teimam em duplicar-se, provocando erros inadmissíveis. E os parênteses, amuados por falta de protagonismo, não querem ser mais almofadas de ideias intercaladas. Em desespero, recorri à velha Royal, mas de depois de tanto tempo ostracizada, afaga de má vontade a velha fita que foi perdendo o viço de outrora. Como a compreendo. Para alguma coisa servem as nossas vivências.
Quando as palavras, forçadas a sair do seu conforto, saem, para o suporte que as suporta, fazem-no de má vontade. Ensarilham-se, baralham-se, numa atitude claramente provocatória. Algumas, mais politizadas, juntam-se numa estranha melopeia, formando frases como "o povo é quem mais ordena dentro de ti ó cidade...terra da fraternidade", frases puramente retóricas e desfasadas da real realidade. Consta que essas palavras, tomaram o freio nos dentes, e num atitude claramente anarquista andam por aí à solta, incomodando figuras e figurões (que não de estilo) e proibindo-os de usar as suas palavras rigorosamente amestradas.
A indignação das palavras, usadas e abusadas por carroceiros da ,pode ter a sua razão de ser. Não nego. Mas gaita, por que raio me estão a fazer isto a mim. Procuro tratá-las com polidez e correcção. Procuro usá-las com respeito pelas regras gramaticais. Garanto-lhes igualdade e liberdade. Não faço distinção entre as suas classes. Tanto emprego um vulgar substantivo, como dou espaço a um imaginativo adjectivo. Não concedo qualquer privilégio ao aristocrático verbo, nem abuso da diversidade dos advérbios. Bem, admito que às vezes barro a entrada a alguns "palavrões,como esse de "tomar no cu". Porra, tenho justificação: eu não fui membro ressabiado deste governo. Que me perdoem os ditos, cada macaco no seu galho, isto é cada texto tem o seu contexto.
Possivelmente, as palavras sentem-se enganadas por mestres de retórica politicamente correcta e levam tudo a eito. Como eu entendo a sua humilhação. Entendo a revolta do adjectivo "mais" ao ver-se despromovido para "menos" na promessa "menos impostos" quando na realidade são mesmo mais. E não posso deixar de entender a frustração da contracção "da" ao descobrir que foi substituída por uma reles preposição "de" na transcrição de uma lei. E para ser mais revoltante, verificar que o lapso foi descoberto por um sujeito omisso na frase, que se intitula Presidente "da" República, quando nem Presidente "de" República parece ser. E tudo a propósito de uns dinossauros autárquicos que querem cumprir a lei de delimitação de mandatos (discutível) no verdadeiro significado da palavra, isto é, continuar a mandar.
No fundo(onde já estamos) fazem o mal e a caramunha e eu, amigo e admirador da palavra, é que pago o pato. O pato, o coelho e toda a bicharada que vive à sombra da TLEBS, mais os tachos onde cozinham. Desculpem ter feito deste assunto uma perifrase(figura que quer dizer sujeitp palavroso), mas é a minha vingança por me fazerem sujeito, predicado e complemento da vossa revolta. De facto tudo se pode comprimir numa síntese: revoltem-se contra a cambada que vos tira o significado. Recusem, de vez, ser manipuladas. Não me lixem. Lixem os coirões que nos lixam. Estamos na mesma barricada. Cortem-lhes o pio. Apliquem um poderoso Ajax. Pode ser a Grândola Vila Morena. Mas há mais.
MG
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