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Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

28 Set, 2012

O grito

Grito, de Munch

 

O grito saiu amedrontado da escuridão

Mal parida,

Abriu os olhos cegos de indiferença

Viu a luz e gostou,

Ocupou praças abandonadas

Calcorreou avenidas deprimidas, sem crença

Deu cor a fachadas tristes de melancolia

Sorriu e gostou!

 

O grito soltou amarras no peito oprimido

Fez-se verbo, fez-se sangue ,fez-se gente

Abriu bocas cerradas por cândidos demónios

Exorcizou medos, enfrentou adamastores de ignorância

E gritou contra metas de ganância.

Gitou o grito da raiva amordaçada

Gritou o grito da força das consciências

Do tudo e do nada.

 

O grito está livre,

O grito voou, voou no querer ser, ser

Dançou nas nuvens com anjos de algodão

Beijou o céu embriagado de libertação

Até onde irá?

O céu é o limite?

O limite é a justiça, o limite é razão

O limite é a revolução!

Ou não?

 

MG

Vou fazer uma inconfidência mesmo correndo o risco (o que não o é?) de perder a aureola de pessoa séria e equilibrada granjeada com tanto labor em linhas e linhas de escrita fingida. Corro, ainda, o risco de perder de uma penada a visita de  leitores recatados. Que seja. Mas a verdade acima de tudo. Aliás, quem sabe ler nas entrelinhas já percebeu a minha tara há muito tempo. Acontece que nasci português, cresci português e hei-de ser português até à eternidade. Quanto a isso, nada a fazer. É o destino. E como  bom português tenho uma fraqueza congénita. Não resisto a pastar o olhar por qualquer rabo de saia ou até de calça com este símbolo.( ) Sem qualquer preconceito, de cor ou religião, desde que bem modelado,(nada a ver com TSU) e tendo a consciência que é um pecado venial. Mas tendo, também, a crença que o arrependimento tudo recompõe. Foi para isso que foi criado. Ou seja, a justiça divina é tão perfeita que cria o castigo e o respectivo antídoto. E não podia ser de outra maneira, a partir do momento em que criou o português.

 

 Muitos antropólogos credenciados, têm afirmado que foi dessa aptidão lusa para a arte da miscigenação, que resultou o/a mulato/a. Quem sou eu para contestar? Limito-me a seguir a corrente e a aproveitar essa fatalidade genética. Assim, arranjo justificação para o meu devaneio para com a chinesinha do lugar da fruta. Para mais, ele só existe porque a gente do império do meio, numa expansão ao contrário, resolveu vir em força aqui para o velho Portugal. Eu acho que foi por saudade dos tugas, depois do regresso das caravelas. Só pode.

Digo com toda a sinceridade que minha atracção pela chinesa foi logo ao primeiro olhar. Por aqueles olhos amendoados, por aquele sorriso ingénuo, por aquele corpo esguio, pela tez ainda virgem dos raios ultra-violetas. E digo com toda a propriedade que tenho bom gosto, porque não fui o único atraido por aquela  beleza oriental. Todos os dias vejo outros tugas a mandar a escada a chinesinha, apesar de ter marido. Ainda há dias, vi um desses sedutores, a faze-lo descaradamente. E dizia o sujeito com ar de labrego: (digo convictamente sem ponta de ciúme) "estás tão só, deves precisar de companhia." E ela, com cândida paciência chinesa a dizer-lhe: "o meu malido foi a Lisboa complal fluta e deve estal a chegal" . Mas mesmo assim o alarve (com todo o respeito) continuava a insistir. Perante o incómodo tive de intervir, discretamente, para afastar o cretino (sem ofensa). Sim que eu posso ser tuga, mas sou tuga cavalheiro.

 

Todos os dias, acho que inconscientemente, vou ao lugar da fruta. E entre grelos e pepinos, literalmente, vou enchendo devagar , devagarinho, perante a observação e um ou outro sorriso da chinesinha, o meu saco de plástico. É aí que se acentua o meu devaneio e me imagino em tête-á-tête com a bela donzela. Imagino-a a envolver-me de ternura dizendo com a sua voz maviosa, "então meu amol hoje quel leval pão de Mafla?". Sei que é pecado, tipificado como cobiça de mulher alheia, mas não passa de pecado menor, pois é apenas em pensamento. Há dias, enquanto tocava na sua mão delicada para receber o troco, afagou com a mão disponível a minha proeminência abdominal dizendo: "então quando nasce a cliança?". Laios palta. Callaças. Polla. Tanto sonho, tanta aleglia, tanta felicidade sonhados no meio daquela fluta pala ver a chinesinha a apenas se intelessal pele minha balliga. Está decidido. Amanhã vou pala o ginásio. Não quelo, não posso e não devo pôl em causa a missão globalizadola do poltugûes. A chinesinha vai ver!

 

MG

 

 

 

 

Chamava-se nininho

Fazia-se de anjinho

E roubava (roubava)

Roubava o que queria

E ainda  sorria

E eu deixava (deixava)

 

E desde então se lembro o seu roubar

É só para avisar

Que nunca tinha havido outro em Portugal

E em vez de protestar

Eu queria acreditar

Que isto podia não acabar mal

 

Batia o coração mais forte que a razão

E eu deixava (deixava)

E via o ladrão

Sacar-me o meu pão

E eu deixava (deixava)

 

E desde então se lembro o que roubou

É só para acordar

De um pesadelo que causa tanta dor

Foi tempo de sofrer

Foi tempo de saber

Toda a crueza que tem um mau estupor

Foi tempo de sofrer

Foi tempo de saber

Que um dia acaba

Mas que enquanto se dormia

Nininho roubava quanto queria

 

E desde então se lembro o seu cantar

É só para lembrar

Os 15 meses do mais vil vilão

Foi tempo de empobrecer

Foi tempo pra esquecer

Que o ladrão passa

Mas a vitima não esquece o alibi

 Nininho a  cantar no Tivoli.

 

18 Set, 2012

Não é dr. Medina?

 Portas é defensor no governo dessa gente que anda para aí a berrar...

 

                        Medina Carreira (citação de memória)

 

 

Berra o touro, o veado, o bode, a cabra. Zurra o burro, o jumento, o asno e vá lá a zebra. Grunhe o porco, a porca, o bácoro e talvez o hipopótamo. Mia a gata, o gato no cio e a pantera cor-de -rosa. Guincha o saguí,chia a toupeira, charla o toscano, trina o tico-tico, brama o urso, coaxa o sapo, uiva a raposa, estridula o pica pau, pupila o pavão, soluça a patativa e por aí fora. Há até o passarinho(pequeno pássaro) que é um verdadeiro ventríloquo. Emite mais de cinquenta sons. Por exemplo: trinita, tintine, ralha, pipila, modula, gazila, gazea, chichia, assobia (para o ar)...Mas a gemer só encontrei as aves mutum, curuango e  bacurau. Falha grave na distribuição dos sons, pois que o bicho que mais geme neste mundo é o bicho homem, em qualquer dos géneros. Geme de dor, de tristeza, de raiva, mas graças a Deus, que pratica equidade, também geme de prazer e muito. Mas a grande originalidade do humano é que fala em várias modelações, desde  do "Y love you meloso" até ao estridente "sua grande cabra". Mas daí a dizer-se que uma multidão de pessoas gritando slogans tão serenos como "o povo unido não será vencido" ou mais exaltados como "gatunos" berram, parece-me um exagero  colossal. Das duas uma, ou o Dr. Carreira não sabe colocar as palavras no seu contexto ou então acha que aquilo é tudo gente de chifre. Ou ainda, numa terceira, que me custa a acreditar, considera que "essa gente" não são pessoas mas gado para o matadouro. Se calhar bate certo. Aí está: Já nos tosquiaram, nos espremeram e só falta mesmo tirar-nos a pele. "Berremos" ou não. Não é Dr. Medina?
 
MG
18 Set, 2012

Carta a um anónimo

Caro anónimo, obrigado pelo seu comentário ao meu texto "não passarão". Acusa-me de antipatriotismo. Ser patriótico é defender Portugal. E Portugal não é uma entidade abstracta expressa num pin de lapela. Portugal são séculos de história. Portugal são pessoas de carne e osso que têm necessidades, desejos, emoções. E pessoas de carne e osso são mais que números e estatísticas. Respeitá-las e dignificá-las é patriotismo. Desrespeitá-las , seja em nome do que for, não é patriotismo.

Meu caro anónimo,  alternativa é luta, não é subserviência cega. Alternativa, é unidade na acção, de todos os países oprimidos pelos agiotas, em benefício dos mais poderosos que precisam tanto de nós como nós deles. Alternativa é igualdade. Alternativa é não estar de cócoras perante a arrogância alemã. Alternativa é sermos considerados europeus de primeira e não de segunda. Alternativa é a história de Portugal. Nasceu da luta, sobreviveu na luta contra interesses poderosos. Como deve saber, caro anónimo o despesismo em si é um conceito abstracto. Há despesismo útil e despesismo inútil. Mas isso são contas de outro rosário. E uma vez que associa o despesismo aos socialistas, aconselho-o a visitar os doze anos de governo do agora mais alto magistrado da nação. A bem da verdade! Seja português.

 

Cumprimentos patrióticos

 

MG

 

 

 Dívida pública de 1850 a 2011

 

 

 

Chegaram ao poder montados numa mentira. Tiveram todas as condições políticas para governar o país. Não as aproveitaram. Governaram de equivoco em equivoco. Colocaram as estatísticas acima das pessoas. Apresentaram como terapêutica para um país em dificuldades o empobrecimento. Empobreceram os mais pobres. Falharam. Apesar dos sacrifícios aceites com estoicismo, aumentaram a dívida, não atingiram as metas do défice, duplicaram o desemprego, desestruturaram a economia. Falharam em toda a linha.

 

Reconheceram o erro? Não! Arrogantemente persistiram na aplicação agravada da mesma receita. Incompetentemente, depois de avisados, até pela sua gente, não recuaram. O estado do doente é moribundo. Com o reforço da mesma terapêutica só podem matá-lo, dizem vozes sensatas. Estão surdos e quase mudos. Não pode ser só cegueira ideológica é um caso de psiquiatria. É uma manifestação de ininputabilidade.

 

Prevejo de novo um verão quente. Literalmente. Tudo tem um limite. A apatia deu, finalmente, lugar à indignação. Espontaneamente. À justa indignação. Somos uma nação quase milenar que só existiu por que foi valente. Exultemos. O que vimos hoje faz renascer de novo a esperança roubada. O povo unido jamais será vencido. Desde os tempos de sonho de Abril que não se ouvia este slogan. O povo está na rua. Unido. Sem divisões partidárias, sem manipulações sindicais. Portugal vence quando ousa lutar. Não passarão! Custe o que custar!

 

MG

TSU, tirar aos trabalhadores para dar aos capitalistas; sacar aos pobres para dar aos ricos.

 

Agiotagem Selvagem, cobrar juros altos aos países mais pobres:

 

Grécia

Irlanda

Portugal

Espanha

Itália

 

para poder emprestar dinheiro a juros negativos, isto é, pagar juro, em vez de receber, aos países mais ricos:

Alemanha

França

Holanda

Dinamarca

 Bélgica

 

Troika, cabeça de ferro de agiotas sem escrúpulos; ave de rapina selectiva; a arte de roubar sem mestre.

 

Passos Gaspar Relvas, novo Frankeinstein do cientista Gágá Cavaco; mistura explosiva de loucura, estupidez e vigarice; desajeitado, imbecíl, sacana sem lei

 

Milhafres, corte de troikistas sem vergonha; amém, amém, amém.

 

Mexilhão, zé; coisa para chupar enquanto tiver sumo.

 

Portugal, foi uma nação; país refém de um grupo de malteses.

 

 

 

 

 

 

 

mategoinmente.blogspot.com

 

 

 Não tocarei nas pensões. 

Mariano Rajoy, primeiro-ministro de Espanha

 

 

Cortaremos os subsídios e aplicaremos novas taxas aos pensionistas. 

dupla Coelho/Gaspar

 

 

Este país não é para velhos. Só atrapalham. Que morram depressa. Mas este país, também, não é para novos. Vendo bem este país não é para ninguèm. Porque, por este caminho, não falta muito para deixar de ser país. A não ser que se trave rapidamente este desvario de incompetência, ausência de vergonha e prepotência. Tanta luta, tanta glória, a esfumar-se na apatia. Como é possível?

 

MG

kayomachado.blogspot.com

 

Robin dos Bosques fez as delícias da minha infância, quando na parede caiada do salão de bailes de uma aldeia pobre, roubava aos ricos para dar aos pobres. Que pena, pensava, não termos um Robin dos Bosques  de carne e osso. Mas como, se éramos tão pobres que nem bosques possuíamos e aquele Robin de sombra  e luz logo se esvaia quando se desligava o projector.

 

Passaram muitos anos. Mesmo sem Robin os pobres foram ficando menos pobres. A fome endémica e resignada foi dando lugar a uma progressiva prosperidade geral. As diferenças sociais foram-se esbatendo. O país pobre acreditou que era possível ter uma vida digna sem roubar aos ricos. Bastava distribuir a riqueza um pouco mais equitativamente. Ainda com injustiça mas mais equitativamente.

 

 Eis que do fundo da ignorância do povo ingénuo, surge um novo cavaleiro. Traz a aureola de príncipe imaculado, mas depressa perde a virgindade romântica que apaixonou papalvos. Continua a ser um príncipe, mas um príncipe de ladrões. Haja esperança pensaram alguns. Iremos ter, finalmente, um Robin de carne e osso ao serviço dos descamisados. Triste ilusão! Temos afinal é um Robin que veio para empobrecer os pobres, custe o que custar, para dar ainda mais aos ricos.

 

Este Robin é mais um cavaleiro das trevas. Cavalga acompanhado de mais três cavaleiros infernais e de um pagem com curso por correspondência, ao lado de um sacador, com nome de rei mago e ar de fuinha. É a reincarnação chapada dos cavaleiros do apocalipse. A fome, o esbulho, a miséria. O mundo pode não acabar em 2012, mas a continuidade de Portugal está em grave risco.

 

Patriotas, levantai de novo o esplendor de Portugal! 

 

 

Fazer análises de sangue, especialmente o vulgar hemograma, é hoje uma prática generalizada. É uma coisa tão corriqueira que não merece enquanto experiência individual uma linha mal alinhavada. Só mesmo uma mísera falta de assunto ou de engenho para o abordar, associada a uma vã glória de escrever umas loas a qualquer preço as faz assunto de crónica.

 

Entre os fazedores de análises há os normais que as fazem como quem vai tomar uma bica e os cagarolas que tremem só de as imaginar. É o meu caso. Ou melhor era o meu caso, porque tudo na vida é feito de mudança. E o meu horror a agulhas rasgando-me a epiderme, furando-me a veia e vampirizando-me o sangue, mudou de uma forma acidental. Tudo começou quando a minha velha doutora analista, em boa hora,  se reformou. Boa profissional, meticulosa muito trabalhadora sem dúvida. Tão trabalhadora que ganhou artroses a espetar agulhas, estragou os olhos a espreitar para dentro de microscópios, arruinou o sistema respiratório a snifar estranhos reagentes. Se alguém merece um prolongado descanso é a minha velha analista.

 

No laboratório onde me sujeitei há tortura das agulhas está agora uma nova doutora analista. Nova na total acepção da palavra. Mas chamar-lhe doutora, com aquele palminho de cara e aqueles olhos capazes de encantar passarinhos não me parece apropriado. Doutora é um termo ou chavão que fica bem a pessoas com ar soturno. A minha nova analista não merece esse castigo. Por isso vou chamar-lhe simplesmente menina das análises. 

 

Quando me sento naquela cadeira começo de súbito a tremer. Começo não, começava. Agora fixo-me na candura da minha menina analista que me pergunta qual anjo do paraíso:

-Está a sentir-se bem?

-Estou, estou mesmo muito bem, respondo com a máxima sinceridade. Perturba-me é olhar para o sangue. Não se importa que olhe para si...

- Pode olhar, diz com uma sua voz capaz de redimir um pecador, olhar não tira pedaço.

- Tirar não tira digo em silêncio, mas vontade não me falta, falta-me é coragem.

A última sensação que retenho é a dos dedos delicados a percorrer-me o braço para encontrar a veia. Ao fim de algum tempo ouço de novo a sua voz:

-Pronto já está!

-Já está?

Nem agulha a romper-me a veia, nem seringa a sugar-me o sangue. Apenas sensação de que o que é bom acaba depressa.

. É estranho, mas agora não me importo de fazer análises. E digo sem ironia: até as faria todos os dias, de bom grado, como uma penitência.Talvez ainda bole uma estratégia para convencer o meu médico a fazer das análises uma espécie de terapêutica continua. Sim porque a menina das análises é seguramente mais de meia cura pois se  Deus nos brinda com criatura tão angelical é porque só quer o nosso bem. E até deixei de ter pesadelos com profetas do Apocalipse, tipo Medina Carreira, porque agora estou convicto que estes demagogos da desgraça são seguramente enviados do demo. Estes e a corte de aprendizes de mafarrico que nos sugam até ao tutano e ainda nos querem roubar a alma. Mas não hão-de conseguir, porque com a menina das análises no pensamento sou invencível.

 

MG

.

 

 

 

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