Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

31 Ago, 2012

Pobres ninhos

Em tempos de recuo dos valores humanistas, aqui presto a minha homenagem a Afonso Lopes Vieira

 

 

Os passarinhos

Tão engraçados

Não fazem ninhos

Estão assustados.

 

Pois os filhinhos

Não querem ter

Enfezadinhos

Por não comer.

 

No bico trazem

Pequeno grão

Logo lho tiram

Para a nação.

 

E assim não tem

Os seus infantes,

Tão chilreantes

Ao pé da mãe.

 

E os belos ninhos

Tão engraçados,

Nos azevinhos

Vão ser taxados.

 

No sobressalto

Da roubalheira,

Sonhemos alto

Lendo Vieira!

 

MG

29 Ago, 2012

Milagre?

sorisomail.com

 

 

Tenho lido artigos na imprensa a glorificar a redução da despesa pública pelo governo Passos/Gaspar. Para alguns  destes escribas  roça as raias de milagre. Milagre? Milagre é multiplicar os pães e os peixes. Milagre não é pôr os crentes a pão e água. Milagre é curar os enfermos. Milagre não é reduzir e degradar o serviço de saúde público. Milagre é promover a igualdade. Milagre não é acentuar as desigualdades.

 

A redução da despesa pública pela dupla Passos /Gaspar é uma falácia, expressa no corte na prestação de cuidados médicos, na degradação da qualidade do ensino com maiores turmas e menos professores e nesse verdadeiro ovo de Colombo que é baixar sem respeito pela Constituição, coercivamente, os salários na função pública. Esta forma genial de reduzir despesa se não fosse grave era anedótica. Qualquer observador atento e com dois dedos de testa sabe que uma diminuição generalizada de salários tem reflexos imediatos no consumo e por consequência na cobrança de impostos. Só um ET do lado negro da força é que faria uma previsão de aumento de receitas com este cenário.

 

Há um velho lugar comum que diz que pior que errar é persistir no mesmo erro. Tudo indica que esta gente se prepara para o repetir. E também há quem afirme que só os burros não mudam. Mas se assim é qual é a solução? Talvez fosse fazer o milagre de expulsar estes novos vendilhões da nossa dignidade.

 

MG 

Delim  delim

delim delão

toca o sino

pra procissão

corre o emigra

no seu carrão

estala o foguete

no pino do verão

 

O rosmaninho

rasteja no chão

milhares de rodas

comem alcatrão

baratas tontas

em diversão

felicidade

em poluição

 

À romaria

chega o ladrão

com  muitos sorrisos

semeia ilusão

parte confortado

por grande ovação

o sino repica

pra corrupção

 

Roubam a seara

pra tira-lhe o pão

espremem o suor

como a um limão

esquece-se a injustiça

e a aflição

para a caravana

e passa o cão

 

Morra o otário

viva o ladrão

mais o vigário

e o patrão

da nação

delim delão

toca o sino

para a extorsão

 

 

Prenhes as praias

de multidão

tostam  os corpos

rolando no chão

cantam hossanas

ao bendito verão

nas águas mergulha

uma ficção

 

Soam as trombetas

e nasce a canção

jovens imberbes

dormindo no chão

juntam os corpos

em comunhão

incham os ventres

porque é o verão 

 

Velho reformado

conta a pensão

leva o andor

vai na procissão

pede a Deus

só mais um tostão

que estes daqui

Já não lh`o dão.

 

O poeta triste

faz uma canção

poema sem rima

exprime a emoção

ninguém o entende

que desilusão

entre ladainhas

passa a frustração

 

Faz-se sementeira

de mais ilusão

a chuva do medo

raio! apaga o verão

já não toca o sino

para a procissão

Delim delim

Delão delão

 

MG

Comer é uma necessidade, mas comer ainda não é um direito. Há quem coma muito, quem coma pouco  quem não coma nada e até há quem porque nunca soube o que era não comer, ignore a situação. Lembro-me, a propósito, da infeliz guilhotinada rainha Maria Antonieta que confrontada com descamisados que frente ao seu palácio pediam pão terá dito: "se não têm pão, porque não comem croissants".

 

Há dias passei por Aveiro, essa bonita cidade portuguesa (mais uma) onde se oferece boa comida e para os mais gulosos uma excelente doçaria, com relevância para os famosos ovos moles. Este era um dos prazeres que pretendia usufruir nesta passagem pela cidade dos canais. Era mas não foi. Um daqueles imprevistos que de um momento para o outro mudam o rumo das coisas alterou esta pretensão.

 

Aconteceu quando voltei ao carro estacionado numa rua pacata de um bairro residencial para recuperar uma agenda esquecida. Foi aí que fui cumprimentado por um desconhecido que parou no local onde me encontrava. Era um homem, nem velho nem novo, nem alto nem baixo, mais magro que gordo, nem mal nem bem vestido e que segurava um telemóvel. Respondi ao cumprimento. "Sabe dizer-me onde posso encontrar uma instituição de apoio social qur forneça comida? Eu sou da Figueira da Foz, vim procurar trabalho, mas nada..."; "não sei pois também não sou de cá" respondi; "mas podia ajudar-me com alguma coisa", retorquiu. Na dúvida sobre a autenticidade da situação prefiro ajudar porque sou coração de manteiga e não quero ficar com culpas na consciência. Abri a carteira para lhe dar umas moedas. Verifiquei que não as tinha. Vislumbrei uma nota de dez euros mas achei que era muito dinheiro para entregar a um desconhecido. Pensei que poderia estar a ser vítima de "golpe" como tantas vezes acontece. Tive de decidir rápido. Olhei o homem cujos olhos estavam cheios de lágrimas e disse: "desculpe mas não tenho dinheiro trocado". O desconhecido que queria comer afastou-se em silêncio. Eu segui-o até ao fim da rua, entrei num estabelecimento onde troquei uma nota. Quando saí já se tinha afastado e dobrava uma esquina. Pareceu-me que caminhava em passo decidido e rumo certo. Fiquei mais aliviado.

 

Atravessei uma ponte da ria indiferente à sua beleza, indiferente aos barcos moliceiros, agora mais "turisteiros", indiferente às muitas turistas com guia de viagens. Entrei num restaurante económico para comer meia dose de uma refeição frugal. Embora rodeado de pessoas senti-me só e perdido numa labirinto de angústia e de desvairados pensamentos. Foi assim que penso ter percebido Pedro Passos Coelho. "Estar desempregado pode ser uma oportunidade" (disse ele) para não comer (digo eu). Menos despesa, menos importações. Bate certo." Não podemos ser piegas, (disse ele) não podemos?" (pergunto eu)

 

Zarpei de Aveiro. Adeus ria, adeus ovos moles, adeus moliceiros, goodbye, arrivederci belas turistas. Como no filme realizado por Fleming, tudo o vento levou. Tudo menos esta angústia desencadeada pelo estranho que queria comer. Independentemente da autenticidade da situação, não sei, não posso e não tenho mandato para acabar com as injustiças do mundo, mas não consigo ficar-lhe imune. E sei que não estou sozinho. Acredito que bastava um pouquinho mais de igualdade na distribuição da riqueza para que elas desaparecessem. Bastava um pouquinho mais, só um pouquinho mais, para que o direito à alimentação não tivesse que ser um acto de caridade. Bastava um pouquinho mais, para que a beleza das nossas cidades fosse mais bela.

 

MG

 

 

 

 

 

 

 

  

 

Há quem adore derreter o seu dinheiro em sujas e miseráveis cidades indianas. Há até quem gaste o que não tem para enfardar comida e corar ao sol nas praias da República Dominicana. Gostos. Eu mais modestamente prefiro uma escapadinha a cidades europeias ou fazer uma escapadela pela ibéria. Mas o que gosto mesmo é de deambular pelos cantos e recantos do meu país. O que gosto mesmo é apreciar a variada gastronomia regional e a autenticidade das nossas gentes. Foi assim que deambulando pelo Minho e pelas suas estradas mais sinuosas fui parar, mais uma vez, a Ponte de Lima.

 

Podia aqui falar do seu rio que admiro, enquanto degusto uns rojões numa refrescante esplanada. Podia dar espaço à festa do emigrante com direito a tourada que nesse dia se anunciava. Podia descrever os carros antigos que por ali desfilaram. Podia referir a homenagem/recepção que se preparava para o herói da terra medalhado em Londres. Podia recordar o deputado/autarca que traiu o seu partido por amor à sua terra e ao queijo limiano. Mas não. Vou falar de um anti-herói como todos nós. Não sei como se chama, nem que idade tem, nem que clube apoia, nem em que partido vota. Sei que usa uma farta peruca e por isso, com todo o respeito vou chamar-lhe " o homem do capachinho".

 

Ao acaso, impulsionado pela necessidade de cafeína, deambulava por uma rua da qual não sei o nome quando uma porta fechada, de uma discreta pastelaria se abriu para dar saída a um  cidadão. Ao acaso, ou talvez não, senti-me impulsionado, com a gente que me acompanhava, a entrar  naquele espaço. Timidamente, espreitamos e perguntamos se estava aberto e se nos podiam servir café, como se não o houvesse nos 100 quilómetros mais próximos. Do interior soou  então uma voz: "entrem nós estamos aqui é para servir os clientes. Estou fechado para ir comer uma lampreia(?) mas ela que espere, concluíu". Desenhou-se então na nossa frente um rosto impreciso, simpático e bem disposto. Tal e qual. O homem do capachinho.

 

Serviu-nos um delicioso café acompanhado de uns pastéis de nata amorangados. Enquanto o ouvíamos, deliciado, pronunciar-se sobre as virtualidades do verdadeiro pastel de nata versus o sucedâneo por que optáramos, reparei num quadro onde estava emoldurada uma capa de jornal amarelecida pelo tempo, onde se noticiava a inauguração daquele estabelecimento, se a memória não me engana, em 1903, possivelmente um dos mais antigos da vila. Interrogado sobre o facto, o homem do capachinho, deu azo à sua capacidade expressiva ( a lampreia(?) que espere) fazendo um relato da história da pastelaria.Ficámos a saber que tendo começado como empregado era hoje o seu proprietário.

 

 Depois de nos despedirmos para poder poder ir comer a sua lampreia(?) veio atrás de nós com um tabuleiro de doces dizendo: "esperem...tomem lá um miminho". Hesitei e fui dizendo "obrigado, o meu açúcar não deixa" mas depois de ouvir uma detalhada explicação sobre a influência do pâncreas no seu processamento não resisti ( que se lixem os diabetes) e agarrei aquele delicioso doce de simpatia e genuinidade portuguesa.

 

 E agora venham cá com férias nas Bahamas ou nas Seicheles. Há lá coisa melhor que o acolhimento da nossa gente. E isto para não falar na beleza natural das minhotas que agora em festas e romarias exibem os trajes tradicionais. Não perdem pela demora... 

 

 

 

Apresento-vos Sancho Afonso, rei de um reino inventado por graça de Deus e do seu pai Afonso Henriques. Nos finais do século XII andou a espadeirar mourama em defesa da Fé católica e da construção de um reino. Consciente que um reino não sobrevive sem riqueza, mais que um conquistador foi um povoador. Nas terras menos povoadas do Sul estabeleceu colonos, criou concelhos, deu forais e isenções nas zonas fronteiriças. Para além da função reinante ainda teve tempo para fazer onze filhos legítimos e nove bastardos. E entre os que não vingaram e os que sobreviveram deixou vasta prole, dando importante contributo pessoal para o povoamento. Para a segurança da prole do sexo feminino D. Sancho reservou o castelo de Santa Maria da Feira.  

 

Oitocentos anos depois de ter partido deste mundo Sancho voltou a terras de Santa Maria. Ali veio veranear por dez dias e recordar tempos passados na companhia da sua mulher Dulce de Barcelona e de Maria Pais Ribeira conhecida como Ribeirinha com quem coabitou após a morte da legítima. Dias cansativos de governação. Noites intensas de amor e poesia na alcova ora fria ora quente do desconfortável castelo.

 

Certamente se espantou com o castelo renovado e mais acolhedor. Certamente foi invadido pela perplexidade do crescimento da velha urbe e pelo vasto povoamento de que foi um ideólogo e precursor. Certamente se sentiu actor de uma realidade desaparecida e espectador de uma realidade que nunca imaginou. Certamente invejou a vida daquela plebe alegre, despreocupada, bem vestida, limpa que o olhava com um misto de respeito e curiosidade. Certamente se lembrou, em contraponto, do seu povo miserável sujo e sofredor, toscamente vestido, que já era velho aos quarenta anos e que que tinha como única esperança a vida no paraíso do além. Certamente descobriu que o inferno eram aqueles tempos de má nutrição, de desconforto, de casebres insalubres, de ruas apertadas e malcheirosas. Certamente terá tristeza por voltar a esse passado. Certamente preferiria fugir da sua pele majestática e ficar por ali como mais um cidadão dos milhares que circulam anónimos e buliçosos por um tempo de faz de conta. Certamente.

 

Santa Maria da Feira, a rainha de todas as recriações do passado medieval, regressa, dez dias depois, ao seu presente de desenvolvimento e progresso. Terras de Santa Maria voltará daqui a um ano a mergulhar no seu passado cheio de acontecimentos. Sobretudo para que não se perca a sua memória nos livros poeirentos enclausurados nas estantes esquecidas das bibliotecas. Porque esta é a mais procurada lição de história.

 

MG

 

 

 

cartoon de João  Fazenda (Visão)

 Texto imaginado a partir deste cartoon.

 

Vós sois os meus ouvintes preferidos: não falais, não ouvis, não sentis fome, nem sede, não olfactais o cheiro discreto do dinheiro, não vedes o opróbrio as injustiças a sacanagem a exploração. Em verdade gosto de vocês pois sois verdadeiramente simples. A vós que não tendes os defeitos dos homens, que ouvis sem ouvir, digo-vos que menti com quantos dentes tenho e são muitos, para chegar a esta função. E se pudésseis falar que não podeis o que me permite falar por vós, perguntar-me-íeis: mas é ético e correcto subir na vida enganando o semelhante? E eu digo-vos, mesmo que não ouvis, que nunca enganei o meu semelhante, pois na vida todos somos aparentemente semelhantes mas alguns são mais semelhantes que outros. Os que de facto enganei foram os, digamos, menos semelhantes, os eternos crédulos, os que se perdem nos cantos das sereias, os que deram, dão e darão sempre para o mesmo peditório. Porque, em verdade, é assim o mundo e não fui eu que o fiz. Acreditai!

 

Vós sois simples e felizes. Viveis num mundo de faz de conta. Tendes boca mas não comeis. Isso é bom, muito bom, porque nunca podeis sentir um murro no estômago como aquele que a Moody`s nos deu, mais naqueles estômagos que estavam vazios, quando nos chamou de lixo. Sorte de vós que não tendes estômago, problema daqueles que o têm. E mais uma vez vos digo, que não fui eu que os fiz assim, com boca e estômago. Melhor fora que como vós não o tivessem. Melhor fora que tivessem apenas braços e pernas. E se vós que tendes boca mas não falais, como deve ser, pudésseis falar certamente me perguntaríeis se também poderiam viver sem cérebro. Não só poderiam como seria de todo conveniente. Vós não conseguis imaginar, pois nunca tivestes imaginação, o que se poupava no ensino. Até se podia implodir o Ministério da Educação como era vontade do ministro no tempo em que estava na oposição. Nem precisaria agora de estar a mandar esses tipos, que se querem manter como professores, para o mercado de língua portuguesa. E depois para que serve o conhecimento à plebe? É só para complicar. Os eleitos da sociedade não precisam dele para nada. Até tenho um ministro quem sem pôr o pé numa Universidade é licenciado. Acreditai!

 

Vós sois simples; mais que simples sois simplórios. Ainda não podeis votar, mas se pudésseis, certamente votaríeis em mim como outros tansos o fizeram e espantai-vos! continuam dispostos a fazê-lo. E isto mesmo depois de lhes cortar os subsídios de férias. Ainda há para aí uns ignorantes que teimam em protestar. Ignorantes porquê? Eu digo-vos: ignorantes, ingratos e piegas. Vede que nem percebem que os estou a aliviar de vícios que nunca deviam ter adquirido. "Às vezes parece que gostam de sarna para se coçar". Não querem se exigentes e choram lágrimas de crocodilo. " Nós nunca seremos piegas, nem nunca teremos pena desses coitadinhos". A nossa missão é fazê-los sofrer. No sofrimento está a salvação. Acreditai! 

 

Vós que sois simples, ingénuos, patetas alegres, pobres de espírito, estais no bom caminho. Apoiais-me sem reservas. E aqueles que pensam que eu governo para ganhar eleições estão enganados. "Que se lixem as eleições". Se as houver logo se vê. Perguntai, perguntai? Quereis saber se as eleições não são um desiderato constitucional num Estado de Direito? Ouvi esse santo profeta de nome Medina Carreira: Estado de Direito e Constituição não enchem barriga. E os parolos que fazem andar a engrenagem ainda a têm. E não fui eu que os fiz assim. Tenho é de salvar Portugal e quando acontecer "Todas as dificuldades por que passámos servirão para alguma coisa quando mantivermos boa consciência do que se passa à nossa volta, quando não nos comportarmos como baratas tontas e soubermos bem para onde ir". Vós que sois simples não sabeis, mas eu sei muito bem o que quero e para onde vou. E a vós que sois bonecos e me ouvis (ou não) em silêncio digo que o rumo está traçado: vou salvar-vos, quer queireis quer não. Acreditai!

 

Mg