Nada é mais exasperante para o criador do que o esgotamento das fontes de inspiração. Estas estão em seca severa. A crise que agitou um pouco as águas, entrou numa fase de pasmaceira, isto é, como no sexo tântrico,não acaba nem sai de cima. Resultado: primeiro vem o bocejo e depois o adormecimento profundo. E quando se acordar está tudo bem xaringado.
O Hollande ainda criou uma onda de esperança, mas a única coisa que conseguiu foi tirar o Sarkozy dos braços da Merkell e atirá-lo para os braços da Bruna que já devia suspirar por um bom apertão. Oxalá não lhe falte inspiração! O Monti é um primeiro-ministro apagão. Tirou a Itália das páginas da imprensa criativa onde navegava com Berlusconi. Como o cão do moinho, não come nem deixa comer. Berlusconi faz muita falta. Era um criador de eventos. Apoiava a juventude. Alimentava a imaginação. Mataram o clown, o circo continua mas triste e sisudo. Talvez venha outro a caminho.
Por cá, a pasmaceira ganhou estatuto desde a saída do Sócrates. Era um actor de guião, mas que improvisava bem. Nesse tempo as corporações destilavam dinamismo, as manifestações coloriam o país, os debates televisivos tinham mais encanto e até as mentiras pareciam verdades. Foi um período rico de criatividade para todas as ficções
O substituto, de quando em vez, tem uns rasgos geniais que estimulam a inspiração, mas depressa se esgota numa estranha apatia. Ao contrário do PCP, que cristalizou na cassete e corre o risco de desaparecer com a dita, o ministro soporífero tirando um ou outro lapso é como um disco rígido. Não comete um deslize, não sai da formatação. O coiso perdeu a graça desde que deixou de se levar a sério. O das secretas, não, não e não. O ministro "lambretas" esfumou-se num trezentos cavalos. E o dos estrangeiros viaja tanto que não se vê. Os outros são como o homem invisível, quando aparecem não têm cabeça.
Assim, aonde vai o criador buscar matéria de inspiração? Ao rol de desgraças do Correio da Manhã? À sisudez dos jornais de economia? Às telenovelas mil vezes repetidas? Ao conformismo dos cidadãos? Aos longos tempos de antena do futebol.Não, não e não. Só resta transpiração, muita transpiração! Aqui está o exemplo. A bem da Nação!
MG