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Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Senhora,

A teus pés eu confesso

Senhora,

O meu país  lixei!

Senhora,

Se perdão aqui peço

Eu mereço!

Senhora,

por vós meu país vampirei

E falhei!

 

Perdão

Minha querida Alemanha

Senhora,

Estou na vossa mão!

Meu país perdi, mas vos adoro

e choro!

Senhora,

p`lo vosso perdão! 

 

Senhora.

Por vós esqueci as muitas promessas!

Senhora,

Que  em eleições ao meu povo fiz

E sou um aldrabão!

Senhora,

Eu vos imploro, senhora, ó minha anjela

Por vós eu perdi a minha  razão!

Senhora,

Só vos tenho a vós, ouvi minha oração!

 

Amor,

Por amor  minha querida, meu país enganei!

Fiz mal

E sei que serei pra sempre um estupor!

Senhora,

Nem mesmo na morte,

de tanta pulhice me arrependerei!

Senhora,

Se amar é castigo, castiga-me amor!

Senhora,

Eu sou um piegas que destino fez

Senhora,

Te peço perdão e rastejo aos teus pés!

 

Oração de um político piegas

 

 

E...

 Oração de um tempo sem liberdade política,

 

29 Jun, 2012

O liquidador

Era uma vez um homem que queria ser ministro da educação. Toda a sua vida se preparou. Libertou-se do percurso de anónimo professor. conseguiu ascender a presidente de uma corporação disciplinar. Daí a comentador televisivo foi um pequeno grande passo. Especializou-se em criticar a educação do seu país. Para da crítica quase sempre destrutiva não se lhe ouvia uma ideia sobre como melhorar a prática lectiva, resolver o problema da democratização/massificação do ensino, atacar a chaga da indisciplina com raízes profundas fora da escola. Do seu pensamento salienta-se um vago reportório de princípios gerais, como mais rigor, mais exigência, mais disciplina tudo embrulhado em mais exames.

 

Era um uma vez um homem que queria ser ministro da educação. E foi! Foi? Ministro certamente. Na educação será recordado como o  liquidador. Liquidador da qualidade do ensino público. Com aumento do número de alunos por turmas para além do limite  dos próprios espaços disponíveis. Com a diminuição do número de professores. Com a superlotação que são os mega-agrupamentos. Com as medidas avulsas com que está a comprometer o verdadeiro trabalho das direcções.

 

Independentemente do que sabe ou não de educação não tem consciência da negatividade destas medidas. Tem e isso é que é mais grave. Sabe que foi contratado para liquidador. Mas antes ministro por um dia que anónimo para toda a vida. Cumpriu o seu sonho: foi nomeado ministro da educação. Quando era comentador costumava dizer que o Ministério da educação, precisava de ser implodido. O ME vai continuar de pé. O que implodirá será um ensino público de qualidade.

 

MG    

29 Jun, 2012

Final

Tinha previsto uma final Portugal / Itália no europeu de futebol. Era justo. Itália e Portugal eram as selecções que, na minha opinião, melhor futebol praticavam. A itália para além da sua qualidade continuou a receber as benesses de Santo António, o de Pádua. Está com todo o mérito na final. Santo António, o de Lisboa, abandonou-nos neste último jogo. Fomos superiores em crença, vontade e organização. Faltou-nos apenas um pouco mais de ousadia e um bocadinho assim, de sorte. Ao menos tenho uma consolação: não vou voltar a ver Merkl aos pulinhos na tribuna do estádio. Uma das equipas preferidas do senhor Platini já foi. A outra com  o seu futebol, manhoso, enfadonho, sonolento, alguma água benta e sorte qb, lá está. Espero, agora que a Itália ponha fim domínio ao de la Roja. Para bem do futebol. Para bem do espectáculo. Para bem da alegria.

 

Mg 

22 Jun, 2012

O homem sem stresse

Era um homem entre milhões. Um anónimo. Um desconhecido. Apenas mais uma peça na grande engrenagem. Vivia em Rio de Mouro. Isso não era relevante. Podia viver em Massarelos ou na Lousã. Levantava-se todos os dias às seis da manhã, quando os pássaros ainda dormiam. Depois de um duche breve, espreitava o quarto onde os filhos dormiam, dava um beijo fugaz na mulher meio ensonada e saia do T1 que um dia havia de ser seu. Entrava no carro de que um dia havia de ser proprietário e atacava destemido o IC17. Isso não era relevante. Também podia ser a circunvalação. Duas horas depois de muitas buzinadelas e dos habituais palavrões chegava ao parque periférico. Empurrões e apertões no metro faziam-no sentir o  verdadeiro calor humano. Chegava vivo à seguradora onde trabalhava, às nove horas. Depois de acalmar alguns clientes exaltados,  comia à pressa e de pé num fast food uma comida rápida. Às cinco em ponto da tarde regressava.(excepto quando fazia horas para pagar as letras em atraso ou as dívidas do cartão de crédito) Por volta das vinte e uma abria a porta do T1 que um dia havia de ser seu, ainda tempo de dizer um olá aos filhos . Depois de um jantar frugal com a mulher com quem havia de ser proprietário de um T1 em Rio de Mouro (ou Canidelo)caia no sofá, exausto. Pregava os olhos no televisor  por breves instantes e relaxava. Tinham sido horas e horas de muito stresse. De quando em vez,  prescindia do ritual da televisão e juntava o corpo stressado ao corpo stressado da mulher numa alquimia de libertação. Fumavam  um cigarro e relaxavam, porque no dia seguinte tudo ia começar de novo. Dias e dias, anos e anos, até que o T1 e o 120 cavalos fossem seus.

 

O homem anónimo entre milhões que fazia funcionar a engrenagem, levantou-se às seis e meia. Olhou para o quarto vazio dos filhos e para  a mulher que ainda dormia. No rosto sereno vislumbrava ténues sinais de juventude. Alisou os cabelos brancos e ralos e fechou a porta do seu T1. Na estação de Rio de Mouro( ou seria Ermesinde?), entrou no comboio apinhado que o deixou no centro da cidade. Chegou à seguradora e sentou-se na mesma velha cadeira. Às cinco em ponto saiu com um até amanhã. Sentiu um estranho clic na cabeça. Na rua olhou e viu um mundo estranho. Pessoas passavam apressadas acotovelando-se nas esquinas. Caminhou ao acaso no meio daquela gente. Não sabia onde estava, nem quem era, nem para onde tinha de ir. Era como estar no vazio. Mas sentiu-se invadido por repentina calma, uma espécie de nirvana. Continuou a caminhar ao acaso e chegou a uma praça ocupada por uma multidão ululante que agitava bandeiras enquanto olhava para um grande ecrã.

Gooooooooooooooolo ouvia-se na instalação sonora. Golo de Portugal. Bonecos de sombra e luz abraçavam-se no ecrã. A multidão extasiada movimentava-se em ritos tribais. O homem desconhecido entre milhões, sentou-se num banco vazio, sereno e pela primeira vez sem stresse. Não sabia quem era, nem entendia o que se passava. A assistência passava da euforia ao desespero. Milhares de corações aceleravam e desaceleravam. Golo da Dinamarca, um a um, disse a voz trémula da instalação sonora, faltam 3 minutos. Um semelhante anónimo sentado ao lado do homem sem stress, sentiu um aperto no peito. Minuto 90.

Gooooooooooooolo de Portugal. O homem com um aperto no peito caiu redondo e frio no empedrado e já não viu  a bola bater na barra da baliza portuguesa no último segundo. Um repórter de televisão fazia perguntas absurdas a espectadores excitados. Um outro repórter,  envolvido por grupos de emplastros replicados em êxtase, não se fazia ouvir. A praça começou a ficar vazia. O homem sem stresse continuou sentado. Não sabia para onde ir. Uma carrinha dos voluntários da Boa Vontade parou:

- Mais um, disse um voluntário, como se chama, perguntou?

-O homem que não sabia que tinha um T1 encolheu os ombros. Deram-lhe uma refeição ligeira. Adormeceu.

Acordou com o bulício de passos arrastados. Levantou-se e caminhou sem sentido. Passou pela porta da seguradora. Um trabalhador e colega que ia a entrar chamou:

Teixeira, Teixeeeeira...

Diacho, ia jurar que era o Teixeira, há gente muito parecida. O homem que não sabia que era Teixeira, nem o que estava a fazer, continuou indiferente, sem preocupações, sem angústias, sem rumo definido,

Não era mais um desconhecido entre os milhões que fazem funcionar a engrenagem. Era um homem sem stresse.

MG

 

A escritora Agustina Bessa Luís usou num dos seus romances que a história é uma ficção controlada. Completamente de acordo. Não é por acaso que a história está constantemente a ser reescrita. Mudam-se os tempos, sucedem-se as correntes historiográficas, alteram-se as ideologias dominantes e mudam as interpretações. Ora se dá mais importância aos heróis, ora se privilegia o papel do colectivo, ora se acentua a vertente política, ora se promove estrutura económica, ora se ignoram acontecimentos. Poder-se-á alegar que antes das interpretações estão os factos e que estes são incontestáveis. Não é verdade. Não há factos puros nem ingénuos. Os factos são criados por homens, reflectem subjectividade e parcialidade na melhor das hipóteses, pois muitas vezes são manipulados e falsificados. E quanto mais recuamos no tempo mais a efabulação se torna real. Toda a construção da história antes da escrita está alicerçada em indícios materiais sobre os quais se podem construir diversas fantasias. O que aconteceu realmente, ninguém sabe. Supõe-se. Até a explicação científica sobre a formação do universo levanta muitas interrogações. Se houve uma explosão inicial como se formou esse principio? Haverá um principio de principio? E por este caminho não chegaremos, em linguagem humana, a um beco sem saída? E se não podemos chegar ao princípio, como podemos imaginar um fim? Perguntas para as quais a limitada mente humana não tem respostas.

Do passado o que fica de objectivo é o conhecimento acumulado que usamos, nem sempre bem, no presente. Nesse sentido o passado dilui-se de forma quase imperceptível no nosso dia a dia, aquele que realmente vivemos.

Mesmo esse tempo a que chamamos futuro, não passa de um holograma do presente. Não passa de utra ficção que criamos na nossa mente de acordo com vivências, desejos, suposições. E invocar uma construção ficcional do passado para explicar o futuro, se não for intencional só pode ser ingenuidade. O retrocesso social do inicio do século XXI, por exemplo, era imprevisível na segunda metade do século XX. Pensava-se precisamente em sentido contrário. O que sabemos e sentimos de concreto é o que vivemos, segundo a segundo, porque a vida é presente, feito de pequenos nadas. A emoção do nascimento de um filho, a alegria da vitória do nosso clube, a tristeza de uma ausência. Um sucesso momentâneo, um fracasso repentino, uma discussão absurda. O canto de um pássaro na madrugada, o sabor doce de um fruto, o cheiro e a beleza de uma flor. A audição de uma música, a leitura de um poema, a fruição de de uma paisagem... E apesar do acaso que acompanha a vida, quero acreditar sem cientificidade e por simples intuição que a vida, como o cosmos têm um sentido. Nem sei qual, nem ninguém saberá. O que sei é que é bom viver, o que sei e acentuo é que a vida é feita de pequenos nadas. 

 

MG

Este fim de semana tive uma recaída e voltei ao shopping. Confirma-se. Por mais que resista o criminoso volta sempre ao local do crime. Desta vez, como sempre caí numa livraria. Entro nesse sitio, como é lógico, para ver livros, mas gosto também da envolvência. Nesta visita senti-me perdido como um náufrago a afogar-se num mar de barras de ouro. Nem vivalma circulava por ali. Livros sozinhos, tristes, solitários, esquecidos em prateleiras, sem uma mão amiga que lhes faça um afago, sem um olhar que dê vida a letras, palavras e frases tirando-as da sua letargia, roubando-as da comodidade do papel onde repousam e recriando estórias que querem contar. Nem um brilho de um olhar com trocar fugidios cumplicidades. Será da crise? Será medo da troika? Será que a cultura se levanta como um perigo para o reino cavernoso da austeridade? Saí desiludido.

 

Rumei a outras paragens. Entrei consciente dos perigo que se correm no hipermercado. Aqui sim, voltei a cruzar-me com gente de carne e osso ( às vezes bem mais carne) gente aparentemente feliz sem livros. Carrinhos cheios de tudo e de nada. Necessidades e superfluidades. Cruzei-me com uma dama que passou como uma nuvem passageira (passe o pleonasmo) envolta num longo e alvo vestido rendado, que me prendeu a atenção. (tenho este defeito) Trocamos um olhar tão ocasional, tão fugaz como a luz de um pirilampo. Continuou na direcção da secção de roupa feminina. Permaneci na livraria do hipermercado. Enterneci-me com uma jovem que discreta e tímida agarrou um livro e o transportava com a ternura de quem segura um bebé. Deus a conserve. Os meus olhos, esquecidos da dama fugidia, apaixonaram-se pela capa de um livro. Chama-se Barca Velha. Barca Velha é também nome de vinho. Que junção fabulosa! Há lá coisa melhor, casamento tão perfeito? Literatura e vinho ou vinho e literatura. Estou recompensado.

 

O livro Barca velha foi escrito por Ana Sofia Fonseca, uma jornalista que alia competência a um belo palminho de cara. (não vem ao caso mas não consigo evitar a observação) Inteligência, beleza e bela escrita eis a rosa que fecha o ramalhete. Ana Sofia Fonseca conta a história deste vinho nascido em 1952. Da terra que o gera, do Douro que o amamenta, da gente que o alimenta com o suor do seu rosto, da alquimia que o embala desde o mosto até à garrafa que o encorpa, do amor do seu criador, Fernando Nicolau de Almeida. O homem que antes de Saramago inventou o homem duplicado:

austero na educação dos filhos a quem impunha regras e restrições rigorosas, como não puderem frequentar os espaços dos adultos. (quando o faziam trajavam a rigor) De tempos a tempos fazia-se desaparecer para dar lugar a um suposto irmão gémeo que vivia no Brasil e que fazia a sua aparição na proa dum rabelo vestido de caqui e chapéu colonial . Esta personagem exótica era o alter-ego de Fernando Nicolau de Almeida. Trazia consigo a inversão de comportamentos. As crianças com ele frequentavam todos os espaços ,desarrumavam, saltavam pelas cadeiras, faziam as maiores tropelias. Um regabofe. O que a força do amor filial inventa para ultrapassar convencionalismos? 

 

Pousei o livro e as suas encantadoras histórias, sonhei com o vinho não disponível neste local e portador de um preço proibitívo para muitas bolsas. (já há oito anos que não aparecia à venda) Saí da catedral do consumo dando asas à imaginação. Quem sabe se um dia não me sento em vale Meão com o  Douro no horizonte, a saborear curiosas histórias com um copo cheio de Barca Velha e ao lado da jornalista Ana Sofia Fonseca. Impossível? Não dizem que o sonho comanda a vida.

MG

 

PS E o amor à selecção nacional continua bem vivo na alma portuguesa. Que haja alguma coisa que levante o ânimo da nação, que hoje se arrasta pelas ruas da amargura da mediocridade que nos governa.

13 Jun, 2012

Gladiadores

Miguel Sousa Tavares, com a assertividade que o caracteriza, desvalorizou as potencialidades da selecção portuguesa de futebol. Está no seu direito. Miguel Sousa Tavares com alguma arrogância intelectual considerou pimba (expressão minha) o discurso e os  simbolos de patriotismo que se desenvolvem à volta da selecção. Com o todo o respeito discordo. E descontados os excessos que atribuem aos resultados desportivos a salvação da pátria, não há dúvida que as vitórias do futebol, levantam a moral, puxam pelo ego, renovam a auto-estima, contribuem para a união nacional.

No tempo em que as guerras eram a sério e em que se lutava pela defesa da nacionalidade, mostrámos a nossa fibra em Atoleiros, Alubarrota, linhas de Torres entre outras batalhas. No tempo de espaços territoriais definidos e fronteiras estáveis a luta transfere-se para os estádios desportivos. Aqui essa tarefa é entregue aos gladiadores do século XXI, que assumem a defesa dos valores pátrios. É uma guerra em que não há mortos nem feridos, apenas uns arranhões, mas que tem a mesma simbologia. Nesse sentido desempenha importante papel, como desempenhavam para os gregos os jogos de Olímpia.

 

MG   

13 Jun, 2012

Milagre ?

 

Depois de falhanços improváveis e de uma ou outra displicência defensiva ganhamos à Dinamarca, tendo sido o golo da vitória marcado aos 87 minutos. Foi no dia treze de Junho, dia de santo António, padroeiro de Lisboa. Pode ser milagre. E se se confirmar que santo António se mete nisto, podemos ir longe. E como santo António, também é de Pádua, porque não uma final Itália/Portugal.

 

MG

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