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Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

 

Categoria: política

 

No tempo em governava o Eng. Sócrates, comentadores, analistas, políticos cheios de vento, afirmavam de velas enfunadas que o homem era responsável por todos os males do país desde Afonso Henriques e quiçá também responsável por todas as desgraças do mundo. Nesse tempo analistas, comentadores, políticos, consideravam que este, (fazendo coro com as agências de vigarice), era um país de preguiçosos e de gastadores que precisava de ser, duramente, castigado. No tempo do derrotado PEC IV por toda a oposição da direita à esquerda, abriram, sem pingo de vergonha, as portas ao FMI e seus apêndices e à direita incompetente e retrógrada.

 

Neste tempo de incensados e impolutos salvadores da pátria, de esbulho de direitos sociais, de aumento das desigualdades, começo a ver os ditos comentadores, analistas, políticos, economistas a indignar-se conta as agências de vigarice (ditas de rating) como, vejam só, as más da fita e defensoras de obscuros interesses. Mas já não eram no tempo do saudoso PEC IV? Afinal esses fazedores de opinião,juntamente com o seu patrono-mor, coligados para provocar eleições antecipadas, não sabiam que era assim? Sabiam.Ou melhor, ainda talvez houvesse uns crédulos convencidos que com mais exploração económica (dita austeridade) acalmariam os especuladores e as suas agências de vigarice. Se pensavam não aprenderam nada com a história e objectivamente com a crise de 1929.

 

E agora Zé ninguém? E agora Zé que os pusestes no poder? E agora que fostes vil e despudoradamente enganado, que fazes? Ainda continuas a acreditar nessa treta da austeridade como remédio santo? Escuta Zé ninguém, se tivesses dado mais atenção às lições de história, que ignorastes na escola, talvez isto não tivesse acontecido. Escuta Zé ninguém de toda a Europa, indigna-te e age enquanto é tempo, se não queres que se perca o progresso conseguido no século XX. Os especuladores e os seus cães de fila só param de morder quando tiverem açaimo. Acredita Zé ninguém. 

 

MG

 

 

 

 

Categoria-Literatura

 

 Em memória dos velhos contrabandistas da raia(o meu pai incluído) que nas décadas de quarenta e cinquenta do séculoXX tinham a noite como cúmplice para com, sangue, suor e lágrimas ganhar uns trocados. Em memória dos regionalismos do falar algarvio e/ou da linguagem oral. (quase em desuso)

 

Truz, truz,truz… 

Três pancadas secas ecoaram na madrugada, sobressaltando o sono dos pássaros que esvoaçaram  sem sentido.

Truz, truz, truz…

Três pancadas promissoras entraram suavemente no sonho de Elvira. Não havia dúvida, o seu homem tinha chegado.

Truz, truz, truz…

Três pancadas estremeceram a velha porta de madeira da casa de Felisberto, escurecida pelo tempo.

Elvira riscou a pederneira e acendeu o candeeiro a petróleo.
Levantou-se cambaleando de sono mal desperto e movimentou o seu pequeno corpo até à porta de entrada.

Truz, truz, truz…

Três pancadas desesperadas sobressaltaram -na. O seu homem parecia desesperado. Assomou-se ao postigo para confirmar. O home tá cheio de âiças(1). Puxou a taramela e abriu a porta. Felisberto entrou de supetão.

Brrrrrrr

Elvira recuou cheia de cagufo(2). Mas home disse, tu tás em pelão?!(3) Só tens o chapé(4), o que te aconteceu? Foste róbado?

Brrrrrrrrr

Fui róbado por um guarda da nação e estou …meio almariado(5)... Faz-me um café quente… vou-me meter nos lençós(6).

Homessa, panhado (7) por um guarda. O mundo anda às avessas!

-Pois anda e panhei um cagaço que só eu sei, mas já cá tou.

Elvira acendeu o fogão a petróleo , pôs a esculateira a aquecer água e  misturou-lhe duas colheres de café de cevada.

Felisberto partira com o seu sócio Venício para Espanha havia duas semanas. Faziam-no várias vezes por ano nos tempos mortos da lavoura, para juntar alguns tostões ao débil rendimento da sua actividade. Quando acabavam as sementeiras, quando terminavam as ceifas e as debulhas, no fim das mondas. Transportavam uma pequena carga de café em grão, cedida por Sebastião um comerciante de contrabando e passavam a fronteira para a entregaram a outro comerciante de contrabando. Durante uma semana dormiam de dia e viajavam escondidos na noite. Depois de entregar a mercadoria recebiam o pagamento. Com a sua parte compravam umas bugigangas  para rentabilizar o ganho e regressavam, fazendo o mesmo trajecto.

-Aqui tens home o café, para te tirar o entenguido(8), disse Elvira.

Uiiiiii

-Raça melher, o  puc´ro (9) tá mesmo quente…até escalda.

-Mas então como é que foste panhado?

Nós chegamos ao rio, respondeu Felisberto entre goladas de café, já  a noite ia dentro e bem negra.Como sempre tiramos a roupa para o atravessarmos. Pusemo-la dentro do saco oleado, assim como uns veludos e uns perfumes que trazíamos para mercar. Entramos na água sem ver vivalma. Apenas se ouvia uma ou outra arrã (10)e o barulho das nossas braçadas….

Chlap, chlap, chlap-

-Ó Felisberto nã ouves um barulho estranho?

Chlap, chlap, chlap

-Tu tázé maluco… Venício? É barulho dos remos duma lancha.

- Tá escuro como breu. Serão carabineiros?

-Qual carabineiros qual carapuça. Esses têm todos as mãos untadas. São tão contrabandistas quanto a gente.

-Parem em nome da lei.

 -Venício,conheço esta voz é… do cabo Palma da Guarda fiscal.

-Mas qu´é canda o gajo a fazer em águas espanholas a esta hora?

-Nã sei, mas tá clandestino como a gente.

-Pode estar Felisberto,mas tá armado, conho .

- Temos a burra nas couves. (11)O que fazemos?

- Vamos largar a porra do oleado, que é o que magano (12) quer, e vamos salvar a pele.

…E foi assim que saímos do rio e fizemos o caminho até casa, finalizou Felisberto. E agora não me besoires mais…(13)

Elvira mais triste que a noite já não conseguiu dormir. Sentou-se junto à Singer onde costurava para fora. Quando o dia amanheceu, Felisberto saiu do quarto e Elvira sem levantar a cabeça do remendo (já ensanguentado de tanto se picar na gulha) que estava a pregar numas calças puídas disse marafada(14):

- Ó home isto é que foi um negoiço,(15) nem a roupa do corpo salvaste?

- Deixa lá melher, já estou vestido outra vez e agora vou entregar ao Sebastião o dinheiro da viajem, que trazia bem seguro na copa do chapé.

Elvira levantou a cabeça e ficou estarrecida

- Mas tu tás vestido com a roupa de soldado reservista? Hoje por acaso há inspecção?

- Não. Pior, hoje há guerra e onde há guerra há sangue,respondeu Felisberto, enquanto saía porta fora, sem ouvir a mulher comentar, “ai mé Deus ainda arranja mais desgraça com um filho pra comer coida(16)".

Na venda de Sebastião os copos de mata-bicho iam deslizando pelas goelas sequiosas dos agricultores/contrabandistas. Felisberto entregou ao comerciante um pequeno frasco ;”tá aqui o material.” Sebastião agarrou-o e leu o rótulo escrito em letra de caneta de tinta permanente vermelha: óleo de rícino.

Pouco depois entrou o cabo Palma, como acontecia todas as manhãs, garboso na sua farda cinzenta.”Deita-me aí um o conhac do melhor que
ontem fiz bom negocio”.O comerciante pegou um copo já preparado e encheu-o “aqui tem, cabo Palma”.

O Palma bebeu de um trago como sempre fazia estalando a língua, perante olhares meio submersos na penumbra matinal.

- Este escorregou mesmo bem, disse o Palma …mas que esquisito …parece que me está a dar a volta às tripas, disse, enquanto segurava com as
mãos o abdómen.…

Aiaiai…

E soltava esgares de dor :“que zurrapa me deste sacana, vais pagar-mas”

Levantou-se então um pelotão de soldados reservistas formando-se  em duas filas. Enquanto faziam continência ao cabo Palma, diziam em coro “às suas ordens nosso cabo”.

O Palma arrastou os pés trôpegos e saiu da venda por entre as alas militares, deixando atrás de si um cheiro nauseabundo a enxofre.

-Vocês são mesmo uns bons velhacos- disse Sebastião. Exageraram na dose, o homem está todo borrado!

Tictactictactictac

Quando Felisberto empurrou a porta de madeira negra da sua casa, Elvira continuava a pedalar na sua máquina de costura.

- Então home em que sarilho te foste meter?

- Fui participar numa boa acção; demos uns dias de folga ao Palma. O garganeiro(17) mereceu-os depois do serviço que prestou ao Estado Novo...

 

1-ânsias

2-medo

3-nu

4-chapéu

5-tonto

6-lençóis

7-apanhado

8-com frio

9-púcaro

10-rã

11-não estou a gostar

12-velhaco

13-não me incomodes

14-zangada

15-negócio

16-côdea

17-quer sempre mais

 

10 Jan, 2012

Póquer de ases

 

"Fui convidado pelos accionistas"

 

Eduardo Catroga

 

Sou accionista da EDP, pequeníssimo mas sou e garanto sob palavra de honra, que não convidei Catroga nem os seus pares de partido para a sua Administração. Também quero afirmar na mesma qualidade que não sou responsável pelo soberbo e imoral vencimento que vai receber.  Para o homem que se tornou famoso por tirar fotos com o telemóvel e por comparar assuntos de Estado com pintelhos, tinha que haver uma "justa" contrapartida. Só que agora não se trata de pintelhos mas de milhões. Siga o regafofe.

 

MG

09 Jan, 2012

2012

nibiru-magos-ets-e-xamas.arteblog.com.br

Tenho procurado encontrar uma explicação racional para o desvario económico que vai pelo mundo. E quanto mais procuro mais convencido fico que não existe explicação lógica. Continuo sem perceber o que mudou tão profundamente no funcionamento do sistema capitalista. Exceptuando a emergência da China que requer algum ajustamento, os índices de produção e consumo enquanto motores da economia mantiveram-se estáveis. É verdade que houve uma bolha imobiliária nos Estados Unidos e que se deixou em rédea solta a especulação. Mas não entendo como se coloca em primeiro plano as dívidas, inerentes ao sistema, para cortar o crédito enquanto sangue do mesmo. É como cortar o tubo de combustível a um motor, porque este tem consumo elevado em vez de corrigir a anomalia. O resultado é a "gripagem" do motor e não a sua recuperação.

Se não há explicação lógica/racional esta só pode ser exotérica. Veio-me então à memória uma profecia do povo Maia para 2012. Nunca lhe dei muito crédito, para além da alimentação da ficção e da existência de todo o tipo de profetas modernos. Diz essa previsão que em 2012 haverá um alinhamento da terra com o centro da galáxia que provocará enorme transtorno no planeta. A ser verdade, será esta situação que está a perturbar a mente da humanidade, especialmente dos seus dirigentes? A ser verdade, será este alinhamento que está a ensandecer a raça humana, depois de tantos anos de aperfeiçoamento e progresso material e espiritual? Até melhor explicação (desisti da dos perturbados economistas) tenho de colocar a dúvida metodicamente, na esperança de racionalmente não estar afectado pela deriva cósmica.

 

MG

Porque hoje é sábado fui passear os calcantes para o Shopping e como quem não quer a coisa entrei na FNAC (passe a publicidade) para pastar os olhos pelas novidades literárias. Agarrei num livro quase ao acaso e sentei-me entre uma senhora bem posta e um cavalheiro com facies(passe o estrangeirismo) indiano. Cada um deles, com os olhos pregados numa página de um livro ocasional. Nos lugares da frente, uma fila de leitores quase todos equipados com umas apropriadas lunetas na ponta do nariz, saboreavam concentrados páginas de prazeres virtuais.

 

Abri ao acaso o livro, escrito por um tal Gonçalo M. Tavares ( na badana muito premiado) e vi-me envolvido numa história com um cabrão de um guia anão e intelectual (descrição do autor) que  vociferava contra a geometria da catedral da Cidade do México, pondo os cabelos em pé aos visitantes ocidentais, alguns já motivados para tirar o raio do anão (expressão minha) de cena ,quando a visita acabou(e ainda bem). Virei a página e do anão nem rasto. Ia começar outra história no mesmo cenário citadino. Agora era um menino de onze anos que queria à viva força casar-me com a mãe ,que pelos vistos, não tinha marido. E sem ter tempo para respirar fundo, já me apresentava a dama em lingerie e dizia "é este. é este". Tirem-me desta história pensei em voz alta, sem que os leitores envolventes sequer pestanejassem. Apenas um cidadão, sentado em frente, misto de ancestralidade e modernidade (passe a indiscrição) com um boné tradicional a emoldurar uma aparada barba branca e calçado com uns ténis Nike (que se lixe a publicidade) me olhou de soslaio por cima do seu livro de artes culinárias. Isto cada tiro cada melro, pensei, pois mal virei a página já estava envolvido noutra aventura, ao procurar proteger um rapaz que apedrejara um ecrã de cinema, na altura em que o herói ia beijar a rapariga (não interessa o motivo), causando um olho negro no actor/personagem e um rombo na tela. E não fora um jovem amigo ocasional, poderia ter levado um tiro do assanhado proprietário do cinema, que ameaçava o pirralho de revólver engatilhado. Tiro-me já deste filme antes que seja tarde. Recusei mudar de página, fechei o estranho livro e li de supetão a capa. Em letras salientes dizia: Canções Mexicanas ( passe a divulgação). Levantei-me do concílio de leitores e devolvi o livro à estante. Noutro sábado talvez volte a enfrentá-lo, num qualquer Shopping (com toda a descrição) numa qualquer livraria (nada de publicidade) porque este é um dia de parêntesis na rotina ronceira da puta da vida.

 

MG

06 Jan, 2012

Cantar os reis

A vida às avessas eis a simbologia que se pode extrair da adoração de um menino pobre por três Reis. Ricos e poderosos, saem dos seus palácios e caminham guiados por uma estrela, para oferecer riquezas terrenas a um desconhecido nascido na pobreza de um estábulo. E para além da crença ou da não crença na sua divindade, a cena da natividade constitui uma lição, nunca aprendida por muitos, de que todos somos pó da mesma estrela. Muitos reis brilharam como fogo fátuo. Vieram e foram, sem deixar rasto visível. Mas os três Magos ,como o Menino, continuam a viver na memória e no coração dos povos, como protagonistas de uma revolução de pensamentos e valores que esteve na génese de uma cultura de tolerância, solidariedade e respeito pela dignidade humana. Os Magos estão hoje enraizados nas tradições populares, como a do cantar os reis, onde se diluem. Como há dois mil anos, sem clivagens sociais. Em tempos de retocesso humanista convém não esquecer. Bons reis. Nesta reportagem SIC, noite de reis, no Redondo.

 

Qualquer economista/analista minimamente isento, sabe e diz que a crise que nos estão a impingir é sistémica. Não é especificamente de nenhum país e tem contornos que não se encaixam em qualquer análise racional. Começou como crise financeira e quando lhe faltaram pernas para andar nesta área, evoluiu para crise das dívidas soberanas. Mas que crise? As dívidas são homólogas do sistema capitalista e do seu sistema de crédito. Nenhum país está imune a dívida. Apenas existem variantes na dimensão e na capacidade de pagamento. Neste sentido as crises têm de ser geridas de acordo com as condições de pagamento do devedor. Se assim não for, como está a acontecer, atira-se o endividado para a insolvência e para a ruína. E neste processo todos perdem incluindo os usurários.

 

A raiz do problema actual está é a aplicação da receita liberal, com a confiança cega no funcionamento dos mercados. Como afirma hoje Boaventura Sousa Santos na Visão, " o mercado garante a liberdade mas não a igualdade". Quando o poder se desloca da política para os poderes ocultos do capitalismo, o resultado é a dominação sem regras dos mais poderosos e o empobrecimento dos cidadãos. Esta teoria adoptado pelo nosso governo, numa submissão total à ideologia liberal que domina a Europa, apenas agrava o problema e acabará por prejudicar mesmo os capitalistas. O equivoco é que para resolver a situação se deve gastar menos. Ora a sobrevivência do sistema depende de gastar mais, embora de forma equilibrada, pois só assim se reactiva o sistema produtivo e o emprego. Bem esteve Ford quando percebeu que para vender os automóveis da sua produção em série tinha que aumentar os seus operários. Só o regresso ao poder da política e à regulação dos mercados pode resolver esta crise. Como dizia o antigo primeiro ministro sueco Olof Palme, o caminho é conciliar a economia de mercado com o Estado Social, tendo como objectivo não acabar com os ricos mas antes acabar com os pobres.

 

MG

04 Jan, 2012

PH neutro

Anda para aí meio mundo indignado com a mudança da sede do grupo Jerónimo Martins para a Holanda. Políticos, comentadores, blogers acusam Artur Soares dos Santos, o capitalista do grupo, de falta de patriotismo. Mas essa miscelânea de analistas tem andado tão  distraída que não se apercebeu que outros empresários portugueses instalaram as suas sedes fora de Portugal. Refiro a título de exemplo, Belmiro de Azevedo, Américo Amorim ou a internacional PT. Não nego que esta prática seja imoral e prejudicial do interesse nacional. É-o concerteza, mas a questão não é essa. Para perceber estas deslocalizações basta reflectir sobre a essência do capitalismo. E de uma forma simplista, chega-se à conclusão de que o primeiro objectivo do capital é gerar mais capital, isto é, ter sempre como alvo mais lucro. Em suma, há muito que se percebeu, ou devia ter-se percebido que o capital não tem pátria e muito menos sentimentos patrióticos.

 

Neste sentido e de uma forma genérica, com raras excepções, os donos do capital primeiro são capitalistas e só depois são patriotas. Apelando à razão de ser das coisas e não a sentimentalismos a atitude do grupo Jerónimo Martins está assim plenamente justificada, sem ser necessário recorrer a subterfúgios que por aí tenho ouvido. E diga-se ,em boa verdade, que esta atitude interesseira não é exclusivo de capitalistas mas está na natureza de qualquer pé rapado. Se assim não fosse, se o patriotismo estivesse em primeiro lugar, não veríamos tantos portugueses comprar carros no estrangeiro para fugir a impostos ou abastecer combustível em Badajoz quando é possível. Parafraseando um treinador de futebol, o Patriotismo é uma treta. Portugal ou Holanda, tanto faz, o melhor é o que der mais. É o PH neutro do capitalismo.

MG

03 Jan, 2012

O emplastro

 charquinho.weblog.com.pt

 

Ninguém sabe quem é, nem o que faz, nem como vive. Mas quem não o conhece? Que espectador de televisão ainda não lhe passou pela vista aquela figura patusca que se cola aos repórteres televisivos? Com a sua persistência tornou-se figura pública com o epíteto de emplastro.

Mas para além do lendário emplastro temos agora um neoemplastro. Ao contrário do verdadeiro atraído pelas câmaras, são estas que borboteiam à sua volta. Conhecemos-lhe a imagem franzina, a voz pastosa, o discurso monocórdico. O neoemplastro, ao contrário do verdadeiro, causa-nos medo, senão náusea. Não nasceu na cosmopolita cidade do Porto, mas na pacata vila de Manteigas. Correligionários chamam-lhe salazarzinho. Sem nada termos feito para isso e sem o merecermos, colou-se às nossas vidas como uma sanguessuga e está a tirar-nos a alegria de viver. Dizem que o seu criador já não lhe controla os Passos que ele próprio lhe deu. Dizem que o seu irmão principal bateu com as Portas e fugiu para parte incerta. Talvez um dia volte como filho pródigo. O neoemplastro que usa o nome de rei mago, tem a magia de nos adormecer num pesadelo de conformismo sem saída. Acordemos enquanto é tempo, para podermos continuar a apreciar a bonomia do verdadeiro emplastro.

 

MG

01 Jan, 2012

Novo paradigma

 O acontecimento que marcará o ano 2012, para além de previsões catastróficas que alimentam a ficção, será a confirmação da China como grande potência mundial. Uma das razões da crise que hoje apoquenta as sociedades ocidentais é a emergência do poder económico do gigante chinês. O paradigma de abundância ocidental  construída sobre a apropriação da riqueza de outros continentes acabou. No presente e no futuro a divisão da riqueza tem de ser mais alargada e isso reflectir-se-á no nosso modo de vida. Por outro lado, a criação de um novo mercado na Ásia com milhares de consumidores poderá ser uma oportunidade, se for bem aproveitada pelas economias do ocidente, incluindo a portuguesa. Vejo estes tempos como um período de reajuste da nova realidade económica, tal como já aconteceu noutros períodos da história sem dramas e pessimismos.

 

Por outro lado, o reconhecimento de que a política neoliberal que governa a Europa, hipotecando seu poder aos especuladores financeiros e à sua exploração, não defende o interesse comum, será uma realidade mais tarde ou mais cedo. Esteve no ano anterior presente nos movimentos ainda ténues de indignados,  mas terá tendência a avolumar-se com o desrespeito por direitos adquiridos pelos trabalhadores durante o século passado. O erro de entregar o poder à direita conservadora e revanchista tem de ser corrigido rapidamente, para não se correr o risco de arrastar a Europa para uma catástrofe como outras que já aconteceram. Num contexto de mudança de relações económicas a nível mundial, precisamos de dirigentes de vistas largas e com a convicção de que acima dos interesses dos mercados existem as pessoas. 

MG

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