Penitências
Senhor, eu não sei se mereço. É certo que cometi alguns pecados: gastei muitas vezes mais do que aquilo que produzi, consumi o que tinha e o que não tinha para ajudar a economia, viajei em carros de encher o olho para mostrar que sou fidalgote, gozei férias em paraísos em vias de acabar e por isso mesmo e mea culpa e do sistema de crédito, endividei-me, endividei-me, endividei-me. É certo que algumas vezes me deslumbrei, perdi a noção da decência e embarquei na volúpia da riqueza a qualquer preço, ganância, corrupção...
Mas Senhor, tirando pequenas falhas fui sempre fiel aos bons mandamentos: não roubei (bem uma ou outra vez sem exemplo), não cobicei a mulher do próximo (a não ser quando ela aparece na forma de tentação), não matei (exceptuando uns infiéis que não queriam seguir o bom caminho). Mas Senhor, tirando estes e outros pequenos pecadilhos sempre fui fiel ao longo de uma vida secular. E, diga-se de passagem, que também já tive as minhas penitências como Aljubarrota, Alcácer-Quibir, a Restauração, as Invasões Francesas, a Primeira Guerra, a Colonial. E, admito, cometi alguns desvarios como Fernando I, Sebastião, Afonso VI, João V, João VI, Miguel, Sidónio, Salazar...mas sempre regressei como filho pródigo ao seio do rebanho.
Senhor, estou como sempre disposto a mais mea culpa e a arrepiar caminho na justa penitência. Mas Senhor, sentir-me arrastado por Passos perdidos e arrastados de sombras fantasmagóricas em direcção ao inferno é demais. Sinceramente não sei se mereço esta penitência dos cavaleiros do apocalipse deslocados no espaço e no tempo. Senhor fá-los regressar ao limbo de onde nunca deviam ter saído e prometo voltar ao caminho da salvação, se ainda houver tempo. Senhor, libertai-me deste Calvário.
Sou Portugal 2011