Mário Soares foi um dos políticos portugueses mais influentes no pós 25 de Abril. Portugal deve-lhe a defesa dos valores democráticos, contra a deriva esquerdista que procurava impor uma ditadura de outra matiz. Com a sua coragem, mobilizou a sociedade civil e conseguiu evitar, com apoio de sectores militares moderados, que a luta se extremasse e acabasse numa sangrenta guerra civil. A democracia teria triunfado na mesma mas com pesados custos, o de uma democracia de sangue.
A autoridade moral (ao contrário da superioridade que hoje alguns invocam) que lhe advêm da sua dedicação ao país, permite-lhe como senador apresentar uma visão dos acontecimentos que vivemos de uma forma lúcida, serena e distante. Aqueles que na comunicação social e não só, diabolizam Sócrates como a pior das criaturas, e o seu governo responsável por todos os males que afectam a pátria lusa, ignorando conjunturas e contextos e heranças estruturais, aproveitem a sua análise, que aqui reproduzo, para fazer uma reflexão séria e honesta.
MG
O antigo Presidente da República alerta que a ganância impune dos mercados não vai parar com o resgate de Portugal.
Mário Soares escreve hoje no Diário de Notícias que "lá para princípios de 2013 a corda vai partir (...) porque a União Europeia não vai aguentar a pressão a que o euro vai continuar a estar sujeito".
O histórico socialista considera que "o rígido monetarismo do Banco Central Europeu e da Comissão Europeia, inspirado pela chanceler Merkel e seguido, sem visão de futuro, pelo Presidente Sarkozy, vai ter de mudar e radicalmente. Porque a ganância impune dos mercados não vai parar com o caso português".
Para Mário Soares "outros Estados vão ser atacados, como a Bélgica, a Espanha, a própria Itália e mesmo talvez a França. E aí tudo pia mais fino, como diz o nosso Povo... A União Europeia vai ser obrigada a mudar de paradigma, para sobreviver como tal, e avançar com o projecto europeu".
Diz o ex-Presidente da República que "a União Europeia, na actual crise, para se salvar, deve não só respeitar os valores dos Pais Fundadores, como ter a coragem de regulamentar os mercados especulativos, que condicionam os nossos Estados e ilegalizar essas empresas de rating, sem rosto nem princípios éticos, que estão ao serviço dos mesmos especuladores".
E continua: "Numa Europa ultraconservadora, em que a economia comanda a política - e não ao contrário, como devia ser - e que só pensa no dinheiro, ignorando as pessoas, é difícil lutar por um novo paradigma político de crescimento. Mas não têm alternativa: ou o fazem ou a União entrará em decadência e desagregação irremediáveis".
Soares apela ainda aos europeus para que "no seu conjunto", se imponham aos Governos ultraconservadores, "sem violência, mas com firmeza. Descer à rua e manifestar-se! É o que os políticos reaccionários mais temem".