Museu do cinema
Nos tempos do preto e branco, quando a NET nem sequer era uma miragem, havia na RTP um programa chamado Museu do Cinema. O cineasta António Lopes Ribeiro falava do cinema do tempo do mudo, com inteligência e humor, e o pianista António Melo acompanhava ao piano com música improvisada, as fitas seleccionadas. Lopes Ribeiro com a sua erudição, dava uma lição de cinematografia e calava-se para dar a palavra a Melo, que preferia substituir as palavras ditas pela mensagem sonora, construída pela simbiose entre os dedos e as teclas, para dar sentido às imagens. Mas espicaçado por Ribeiro " Ó Melo, diz lá boa-noite aos senhores espectadores" para mostrar que também falava, despedia-se com um boa noute.
No tempo de diversidade e democracia mediática, de redes sociais abertas à vox populi, não há cão nem gato que não bote sentença sobre o que sabe, mas sobretudo sobre o que alguma vez saberá. Neste mundo maravilhoso, fazem-se amizades planetárias, trocam-se beijos e abraços etéreos, com desconhecidos amigos, rompem-se barreiras físicas, trocam-se mensagens de gostos, preferências, ficções pessoais .
Passos Coelho mostra ser um produto destas tecnologias socráticas, de abertura a horizontes alargados, de dar à luz espíritos prisioneiros de horizontes fechados. Magistral o seu discurso de cordeiro pascal, em tempo de amêndoas amargas. Magistral a singela mensagem de "boa Páscoa" da sua cara-metade, possivelmente no cumprimento do plano traçado "Ó companheira diz lá boa Páscoa aos senhores votantes". É o regresso do cinema de museu virtual a criar imagens para memória futura. Há alturas em que as palavras pesam como chumbo e o silêncio é de ouro. Boa noute e boa Páscoa.
MG