Em resposta a um desafio lançado por VA, no blogue Vistas Largas sobre as novas relações entre o mundo ocidental e os países Árabes, aqui reproduzo o meu contributo, já publicado nos comentários do referido blogue:
Caro VA o assunto que lança para reflexão, é muito interessante no contexto de perturbação que atinge o mundo árabe/muçulmano. Sem possuir o conhecimento e a experiência que permitam abordar com rigor essa problemática, gostaria de deixar aqui uma pequena achega, tão despretensiosa quanto empírica.
A democracia moderna implantou-se, no ocidente, durante o século XVIII, mas as suas raízes mais remotas entroncam na democracia grega e as mais recentes no Renascimento quinhentista. E resulta da conjugação da cultura clássica, com o humanismo cristão e o progresso científico, que não é alheio à expansão portuguesa. O regime político liberal tem atrás de si vários séculos de mudanças políticas, económicas e sobretudo no âmbito das mentalidades. E penso que só com esta mudança foi possível chegar às transformações que se verificaram no século XVIII, pondo em causa o poder teocrático e fazendo a separação entre igreja e o estado.
Ao invés, o Mundo Muçulmano cristalizou-se numa forma de poder em que a sociedade ficou totalmente prisioneira do poder religioso. Este poder condicionou a renovação de formas de pensar e de agir. E foi adiando, século após século, a revolução das mentalidades.
Os dois mundos, divididos pela crença religiosa, excluíram-se mutuamente, fechando fronteiras a uma aproximação que permitisse, uma cooperação aberta. Acresce que a aproximação do mundo ocidental, fez-se mais com base em princípios economicistas, talvez com o intuito de conseguir por esta via, também a mudança dos comportamentos.
Querer fazer mudanças no Mundo Muçulmano, com o enxerto da democracia formal em regimes na sua maioria teocráticos, parece-me que é colocar o carro à frente dos bois. O falhanço dessa experiência ficou bem demonstrada, na África tribalista.
A mudança no Mundo Muçulmano tem de partir de dentro e não de fora. E passa por alterar mentalidades que aceitem com naturalidade o divórcio entre a religião e a política. Só esta mudança, necessariamente progressiva e lenta permitirá um relacionamento diferente. Colocar a tónica do actual relacionamento no paternalismo do Sul desfocaliza a análise . Acredito que a chave do problema também passa e muito pela evolução dos povos Árabes . O que não sei é como será o processo, nem qual a sua duração. Quem sabe se estes dois mundo na sua caminhada paralela, não subverterão as leis da física e se encontrarão num ponto desconhecido. Até lá não vejo muito espaço de manobra.
Cumprimentos , MG