Polícias do mundo
Nunca entendi, não entendo e não sei se alguma vez entenderei o sentido das relações internacionais. Grandes potências económicas e militares, sempre em nome da liberdade dos povos e do interesse dos cidadãos, acham-se no direito de intervir nos assuntos internos de países independentes. Foi o que aconteceu no Iraque, com os resultados visíveis, é o que está a acontecer no complicado palco da Líbia.
Estamos, neste país, como em muitos outros, perante um regime ditatorial de décadas, opressor, desrespeitador das liberdades e por isso condenável. Estamos, na Líbia, a assistir a um conflito armado entre o poder instituído e um "governo" de rebeldes, de contornos indefinidos. Neste contexto é um assunto interno que deve ser resolvido pelos líbios. Entrar neste conflito, tomando partido por umas das partes, mesmo com a dita legitimidade da ONU, não deixa de ser, uma ingerência parcial e moralmente ilegítima. Manter a paz com a guerra, não me parece a melhor forma para contribuir para a paz. Tanto mais quando os critérios utilizados, noutros casos, não seguem esta bitola.
Apoiar uma facção armada contra outra, em nome da defesa de cidadãos desarmados é uma meia verdade. Dizer que vai salvar vítimas da opressão, fazendo outras possíveis vítimas, chamadas danos colaterais, não é o melhor caminho para estabilizar a Líbia, nem me parece que seja a melhor maneira de derrubar o ditador, nem a via segura para instalar a democracia. Os países ocidentais que apoiaram e apoiam este e outros ditadores, quando lhes convêm, deviam ser mais isentos, mesmo quando se arvoram em polícias do mundo.
Zé Cavaco