País de pequeninos
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A direita política está inebriada com o cheiro a poder. Com slogans e um mínimo de rigor analítico tratam Sócrates como um criminoso e o pior primeiro-ministro de que há memória, embora curta. Se seguisse esta linha de raciocínio, que considero execrável, também se poderia considerar Passos Coelho o pior líder da oposição. Mas não vou por aí.
A situação que Portugal atravessa tem raízes na década de oitenta: com a criação de um estado anafado e glutão, já baptizado de monstro; com a destruição, sem alternativas, do sector agrícola e pesqueiro; com a manutenção de uma indústria apática e de um empresariado inculto, assente na mão-de-obra barata; com um endividamento galopante do estado e dos cidadãos, empurrados para o consumismo. Foram anos e anos a viver à tripa forra. Foram anos de ilusões, de oportunidades perdidas. Para que conste e para lembrar memórias curtas, o primeiro-ministro não se chamava Sócrates, nem o partido que o apoiava se chamava PS.
Outros anos e outros protagonistas se seguiram no mesmo desvario. Barroso encontrou um país de tanga e Sócrates começou a pôr ordem na casa mas foi confrontado com a mais grave crise mundial- económica e financeira -do últimos oitenta anos. Fez tudo bem? Com a honestidade e rigor que devem pautar a análise, fez coisas certas e coisas erradas: continuou a endividar o país, continuou a alimentar a grande ilusão de prosperidade inexistente, mas modernizou a indústria e mais timidamente a agricultura e colocou Portugal na vanguarda das novas tecnologias e do fulcral sector das novas energias. Faltou-lhe talvez uma estratégia mais arrojada na reforma de um aparelho do estado obsoleto.
Neste momento, Portugal está refem de credores sem escrúpulos e duvidosa inteligência, porque como diz o ditado "quem tudo quer, tudo se arrisca a perder, arriscando deitar fora o menino com a água do banho. Os políticos de todos os matizes, no meio desta gravíssima situação o que fazem? Como fedelhos impertinentes brincam à democracia, no país dos pequeninos. Deviam dar-lhes duas palmadas, para os pôr no seu lugar e dizer-lhes que acabou o recreio. Mas quem? Pelos vistos estão órfãos de pai ou são filhos de um pai ausente. Pobre país.
Zé Cavaco