Vistas curtas
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O ataque à cadeia de Luanda há cinquenta anos, foi o big bang de uma guerra anunciada dos nacionalistas angolanos contra o colonialismo português. Pouco depois, iniciaram-se os ataques à população civil. A resposta de Salazar foi: para Angola e em força. Ia começar uma longa guerra em três frentes e que se saldou em milhares de mortos e estropiados.
A teimosia do regime, em querer manter contra tudo e contra todos, a posse dos terriórios ultramarinos revela uma cegueira que custou enormes recursos ao erário público e desbaratou uma parte significativa da juventude dos anos sessenta. Do Minho ao Algarve milhares de jovens, incluindo coxos e marrecos, foram mobilizados para combater os "turras" num terreno desconhecido, num clima hostil e numa luta que não entendiam. Com a generosidade dos simples deram o seu melhor pela nação, por Portugal.
A visão de um ditador de vistas curtas, com um projecto económico tipo merceeiro e uma política financeira de deve e haver, custaram ao país décadas de atraso. A política do orgulhosamente só, num mundo em globalização, colocou a sociedade portuguesa em baixos patamares de desenvolvimento e altos índices de pobreza. A sua incapacidade de admitir negociações com os movimentos de libertação, que poderiam ter levado à situação autonómica das colónias e criado condições para uma independência progressiva, teve custos elevadíssimos para a população branca das colónias e para a população autóctone. Podia ter-se evitado a debandada da principal massa crítica, podiam ter-se evitado longas e destruidoras guerras civis, podiam ter-se acautelado os interesses nacionais.
Neste caso, como noutros a culpa morreu solteira e os responsáveis por esta catástrofe evitável ficaram orgulhosamente impunes. A história dos povos é feita de altos e baixos, de bons e maus momentos, de gente pequena e de gente grande. E este foi um período de gente pequena à frente dos destinos de Portugal.
MG