"Não há poder que me vença"
olhares.aeiou.pt
Um poema, uma música, uma voz, uma época. Um poeta, um cantor, uma melodia, uma força. Tempo de luta, tempo de esperança, tempo de encantamento, tempo de solidariedade. Tão perto e tão longe. Tão perto do sonho que há em nós. Tão longe do derrotismo, da descrença, do comodismo que impregnam estes dias. Que saudades do anti-pragmatismo. Que saudades da poesia que comandava a vida.
MG
Venho da terra assombrada,
do ventre da minha mãe;
não pretendo roubar nada
nem fazer mal a ninguém.
Só quero o que me é devido
por me trazerem aqui,
que eu nem sequer fui ouvido
no acto de que nasci.
Trago boca para comer
e olhos para desejar.
Com licença, quero passar,
tenho pressa de viver.
Com licença! Com licença!
Que a vida é água a correr.
Venho do fundo do tempo;
não tenho tempo a perder.
Minha barca aparelhada
solta o pano rumo ao norte;
meu desejo é passaporte
para a fronteira fechada.
Não há ventos que não prestem
nem marés que não convenham,
nem forças que me molestem,
correntes que me detenham.
Quero eu e a Natureza,
que a Natureza sou eu,
e as forças da Natureza
nunca ninguém as venceu.
Com licença! Com licença!
Que a barca se faz ao mar.
Não há poder que me vença
Mesmo morto hei-de passar.
Com licença! Com licença!
Com rumo á estrela polar
António Gedeão.