Borda D`Água
Sabia que Abril é altura de "plantar espargos e morangueiros"? Que em Maio convém "castrar gado, tosquiar as ovelhas, procria de cabras e coelhos"? Que "as pessoas do signo Leão são de natureza atrevida, alegres e optimistas"? Que Setembro "enche o celeiro, dá triunfo ao rendeiro"?...
Se não sabia pode saber isto e muito mais no octogenário Borda d`Água. No velhinho Almanaque pode seguir o ritmo das estações, fases da lua, eclipses, marés, feriados, festas e feiras. Neste velho e fiel amigo tem informações sobre agricultura, jardinagem, animais e até um juízo do ano.
O Borda d`Água não tem dúvidas e quase nunca se engana. Talvez isso explique a sua grande longevidade. Resistiu a regimes políticos, viu nascer e morrer soberbas e vaidades, vestiu surrobeco, chita, pana e ganga, passou incólume por entre novas tecnologias, modas e modismos, animou um país assumidamente pobre e humilde, acompanhou discretamente a esperança e a desesperança abrilista.
Viu morrer uma nação agrícola que tanto ajudou, viu definhar um povo marítimo, alienar soberania. Rejubilou com o progresso tardio, mas estranhou o desenvolvimento desregulado sem projecto, sem regras, sem imaginação. Viu escoar-se por entre mãos invisíveis rios de dinheiro que correram abundantemente da Europa rica e crescer o consumo sem suporte real.
Vive num país que não soube agarrar as oportunidades, que deixou que o vento fosse levando recursos, energias, mas com coerência manteve-se genuíno e patrioticamente português. Ao contrário de outros protagonistas, que arderão na fogueira do esquecimento, o Borda D`Água, porque merece, permanecerá. Parabéns ao velho senhor.
MG