Ontem escrevi sobre o Butão, um país onde a felicidade não se mede pelo ter , mas pelo ser. Ao contrário, nas sociedades ditas desenvolvidas o conceito de felicidade está associado ao poder de consumir. Estar bem, significa poder conduzir uma máquina de encher o olho, a vomitar fumaça diesel por montes, vales e planícies. Estar bem, significa circular no ventre dos centros comerciais, embebedar-se de neons, consumir, consumir, consumir. Esta forma de vida de que somos reféns, vai-nos criando uma ilusão de bem estar , comparável a uma dependência de que não nos queremos libertar. É assim que funciona a sociedade do ter. Tem prazeres imediatos e tem custos irreversíveis. Um deles é o o endividamento com mais endividamento, num ciclo de difícil retorno. Posta a máquina em movimento é impossível pará-la sem por em causa a própria sobrevivência, mas ainda é tempo corrigir o seu andamento desenfreado por aquilo que pode designar-se uma evolução na continuidade.
Neste barco, chamado progresso estamos todos, navegando, há muitos séculos. Enfrentamos tempestades, tivemos rombos, alguns naufrágios mas voltamos à tona e continuámos. Num artigo intitulado os Vencidos da Vida (Visão), Mário Soares, traça um paralelismo, entre um grupo de intelectuais chique, que nas tertúlias alcatifadas do século XIX, punham em causa a sobrevivência da nação portuguesa e os que neste início do século XXI ocupam as cadeiras estofadas dos meios de comunicação social com o mesmo estafado discurso. Chama-lhe os novos vencidos da vida. Prefiro chamar-lhes os frustrados na vida. Talvez por algum trauma da infância, nunca tratado, destilam pessimismo baptizado de realismo, reduzem tudo a números, transpiram contabilidade, decretam o fim do estado social, o apocalipse da nação, adoram os mercados , babam-se com com mais um corte nos ratings, sonham sem parar com FMI (IS) desconfiam de uma notícia positiva, abjuram qualquer réstia de optimismo.
Portugal está numa boa fase? Claro que não, tal e qual como quase todo o mundo capitalista. É preciso fazer ajustamentos? Concerteza. Frear a ganância dos especuladores, controlar paraisos fiscais, repartir com mais equidade, preservar o ambiente, refrear o consumismo, em suma equilibrar o ter e o ser. Não tanto de sonho americano, um pouco mais do espiritualismo do Butão. Muitos profetas da desgraça já passaram e outros passarão. Esta país secular sempre ficou e continuará a ficar. Portugal tem passado, Portugal tem futuro.
MG