Um dia para a nação
O direito à greve é uma conquista do movimento operário, mas apenas autorizada nos regimes democráticos, convém acentuá-lo. Nestes países é tão lícito marcar greves , como é livre fazê-las ou não, com total liberdade. Graças à utilização da greve os trabalhadores conseguiram muitas das regalias de que hoje usufruem. Mas há greves e greves. Há greves por objectivos precisos e concretos e há greves de carácter geral, que funcionam como protesto de cariz essencialmente político. Embora ambas tenham a mesma legítimidade, não me parece que tenham o mesmo grau de eficácia.
Uma greve chamada geral, com objectivos vagos e imprecisos, pretende demonstrar descontentamento contra o governo, seja ele qual for, que em determinadas circunstâncias concretas exerce o poder. Gostaria que assim não fosse, mas não acredito que de uma greve com estas características, saia qualquer alteração à politica seguida ou que provoque qualquer modificação no funcionamento de um determinado sistema.
No caso concreto da greve marcada pelas centrais sindicais em Portugal, seria mais correcto designá-la como greve geral do sector público. Basta constatar quais os serviços mais afectados: transportes públicos, educação e saúde. O sector privado passa quase à margem deste processo. Nesse sentido a sua eficácia é irrelevante. Aliás, como escreveu o jornalista Filipe Luís na Visão a sua mais importante valia consiste na doação de "um salário para Sócrates."
O sindicalismo teve um importante papel no equilíbrio social das sociedades ocidentais. Soube actuar de forma precisa e corrigir desequilíbrios numa fase em que a dicotomia explorados/ exploradores era muito mais linear. Hoje existe outra complexidade social. Curiosamente, são as classes médias do sector dos serviços, (as mais privilegiadas) as mais reivindicativas. Curiosamente, os mais débeis (contratados, desempregados) não podem reivindicar. Os sindicatos dos descamisados cristalizaram , não conseguem renovar-se e adaptar-se a formas mais adequadas de luta. Pedem-se, justamente, responsabilidades aos governos pela sua incompetência. E quem pede responsabilidades aos sindicatos pela sua falta de inteligência? Não deviam ser também sujeitos a uma greve geral pela sua modernização?
MG
PS Nunca percebi, porque é que os principais paladinos do direito à greve, situados no espectro político à esquerda, sempre o aboliram quando estiveram no poder.