S. Martinho, solidariedade e festa
Pelo São Martinho, mata o porquinho, prova o teu vinho e não te esqueças do teu vizinho.
Este provérbio transporta-nos para um tempo quase mítico de um Portugal desaparecido. Para o tempo em que pelas aldeias do país se matava o porco criado com carinhosa familiaridade durante um ano inteiro. A matança do porco garantia de "conduto" ( chouriço, toucinho, presunto)até à próxima matança era uma festa na qual participava a família alargada, a vizinhança e muitos amigos. E esta cerimónia multiplicava-se como um ritual iniciático desde Novembro até Janeiro, perpassando por todas as casas da povoação.
A prova do vinho novo que acontecia nesta altura, tinha âmbito mais limitado, pois nem todos os camponeses se podiam dar ao luxo de produzir vinho para consumo próprio. Podia, no entanto, encontrar-se nas tabernas dos meios rurais
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No dia em que se matava o porco, fazia-se um banquete onde se devorava uma caçoila da melhor carne do bicho. E depois de feitos os enchidos, sempre sobravam uns restos, que eram distribuídos pelos vizinhos. Na vida pobre dos pequenos proprietários rurais não faltava o sentido de entreajuda. Vivia-se modestamente mas com dignidade e solidariedade. Vivia-se com parcos recursos e com sentido de realismo.
O progresso no bom e no mau sentido, pôs fim a esta prática milenar. Resta a sua lembrança cada vez mais diluída na poeira dos tempos. Resta a lembrança de tempos duros e difíceis, mas onde os valores não eram uma mera retórica embrulhada na deificação dos mercados, do salve-se quem puder.
MG