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Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Quando ouço pronunciar a palavra Matosinhos vem-me logo à memória a velha e tradicional canção " Ó senhor de Matosinhos, ó Senhora da Boa Hora. E ter uma boa hora é sem dúvida sentir que a solidariedade nos bate à porta quando só esperamos a solidão. Esta solidariedade não é uma conceito abstracto. Esta solidariedade tem rosto, tem voz, tem cheiro. Esta solidariedade é constituída pela Equipa de Suporte em Cuidados Paliativos de Matosinhos que com humanidade e carinho presta apoio domiciliário a doentes idosos ou com dificuldades. O JN  que publicou esta notícia deu-lhe o título "Estas meninas são extraordinárias" parafraseando a afirmação de um octogenário acamado.

 

É uma bênção para quem beneficia deste serviço e é também uma bênção poder ler esta notícia nos tempos que correm. Tempos de egoísmo, de indiferença, de ganância, de ditadura de mercados, de cinismo, de hipocrisia. Tempos em que se confunde sucesso com exploração, ostentação com trabalho honesto, política com demagogia. As extraordinárias meninas de Matosinhos fazem-nos crer na esperança de um mundo mais humano e solidário. Bem hajam com os votos que o seu exemplo se multiplique com muitas mais meninas, meninos, senhoras ou senhores, para que o milagre da multiplicação deixe de ser uma utopia. 

 

MG 

Mario Vargas Llosa

 

Mário Vargas Llosa ganhou o Nobel da literatura 2010. Um prémio é um dos reconhecimentos do trabalho de um autor. Mas os prémios literários, sejam o Nobel ou outros, carregam sempre consigo uma carga de subjectividade. E no caso da literatura, mas também de outras áreas, vêm mesclados com uma boa dose de política.

 

Os grandes escritores são aqueles cuja obra há-de resistir ao pó dos tempo. A maioria deles não foi, nem nunca será Nobel. Só assim se percebe por exemplo que em Portugal Saramago tenha sido o "nobelado". Muitos outros o poderiam ter sido. E o mesmo se pode dizer de atribuição de outros prémios Nobel a escritores de outras nacionalidades. E isso não significa que a escrita de Llosa não tenha qualidade, ou que a sua obra literária não seja merecedora de destaque. Foi essa a escolha de um grupo de pessoas, com base em critérios estabelecidos e que por honestidade intelectual a procuram fazer com rigor. Mas para além dessa racionalidade existe um vasto campo de emoções que são inerentes a qualquer ser humano. Ser Nobel dá visibilidade, prestígio e também algum dinheiro. Quem não gostaria de ser? No fundo ser ou não ser só prova o relativismo das coisas. Parabéns a Llosa.

MG

 

Vinhais é uma vila raiana do nordeste transmontano. Terra mais antiga que a própria nacionalidade. Existe desde os tempos da cultura castreja. Designada há séculos como Póvoa Rica acabaria por chamar-se Vinhais possivelmente devido a ser uma zona de muitos vinhedos.

 

Em tempos de comemoração da implantação do regime republicano, lembrei-me de Vinhais por dois acontecimentos pouco abonatórios da sua história. Lembrei-me da caricata monarquia aí  instalada por Paiva Couceiro em 1911 durante um curto período. E não é por ter algo contra a monarquia mas pelo facto de ser um episódio que não pode ser levado a sério.

 

O outro acontecimento, bem mais grave, prende-se com o facto de ter sido um habitante de Vinhais que abateu a tiro o rei D. Carlos. O jacobinismo republicano vê este acto e esta personagem como dignos de heroicidade. A atitude de Manuel Buíça, embora integrada na forma de actuar revolucionária do início do século XX, não passa de um mero assassinato contra o mais alto magistrado do país. A discordância e a luta política devem de ser feita no respeito pelos direitos humanos . Isso distingue civilização de barbárie.

 

Li que a autarquia de Vinhais vai atribuir o nome de Buíça a uma praça da localidade. Não me parece que homenagear o indivíduo que assassinou o rei de Portugal em nome de interesses partidários e clientelares, que como se veio a provar, não trouxeram nada de novo para a democracia portuguesa, dignifique  essa nobre terra de gente honesta e trabalhadora que se chama Vinhais. Essa povoação, rica de belezas naturais, arquitectónicas e gastronómicas não pode ser confundida com actos  condenáveis.

 

MG

 

         modernidade e tradição

05 Out, 2010

Moscas republicanas

No dia 5 de Outubro de 1910, acordámos monárquicos e adormecemos republicanos. Passados cem anos, os vencedores comemoram essa data com  música e foguetório como tendo posto fim ao pior dos regimes. Mas na realidade o que é que mudou com o advento do republicanismo? Praticamente nada. O regime democrático estava implantado desde 1820 e consolidado desde a década de trinta.  A nobreza e ao clero já tinham sido retirados o poder e os privilégios. A Constituição garantia a todos os cidadãos os mesmos direitos e deveres gerais.

 

As mudanças do regime republicano resumem-se a aspectos formais e correcções legislativas. Substituíram o Rei por um Presidente de nomeação parlamentar e sem qualquer poder real. Restringiram o direito de voto aos cidadãos que sabiam ler e escrever, num país de analfabetos. Proibiram, claramente, as mulheres de votar, situação que na Constituição anterior estava omissa. Fizeram uma reforma do ensino primário que ficou no papel. Não contribuíram para o desenvolvimento económico. Não deixaram obra digna de registo.

 

A marca da primeira República é a instabilidade permanente, a luta fratricida entre correligionários, o golpe e o contra-golpe, o descalabro das finanças públicas, a miséria do país.

 

A escolha política na sua essência não é entre monarquia e república, mas entre democracia e ditadura. Em  1910 apenas mudaram as moscas. Foram-se as elites monárquicas ficaram as republicanas. Mesmo do ponto de vista formal a República foi muitas vezes menos democrática que a Monarquia. Relembro as ditaduras de Pimenta de Castro e de Sidónio Pais por exemplo, ou a longa ditadura salazarista que muito deveu ao desvario republicano.  A grandeza de um país depende da qualidade das suas classes dirigentes. Os governantes republicanos do início do século XX não trouxeram nobreza e responsabilidade à política, antes pelo contrário. Por isso não percebo porque se comemora esta data. Mais importante seria comemorar a fundação da nação, essa sim feita por homens com H Grande.

 

Uma das virtualidades da história é permitir-nos tirar lições. Esta desbunda da primeira república deveria servir de exemplo aos políticos actuais, que continuam a fazer da política uma chicana permanente em defesa das suas clientelas. O país é mais importante.

 

MG 

 

  

03 Out, 2010

Lisboa menina

 

Lisboa é barco,

é batel,

cidade de sombra e luz;

é água, Babel,

adaga,

espada e cruz

 

Lisboa é guerra ,

é vingança,

amor,ódio e traição;

é justiça e esperança,

1383,

 justiça e revolução

 

Lisboa é sol,

é pimenta,

caravela sem idade;

é vela,mar, tormenta,

poesia,

 sonho e realidade

 

Lisboa é ouro

é Brasil

passarola intemporal;

é acúcar e anil,

cheiro, pregão,

 luz e cal

 

Lisboa é grito,

tristeza,

fado menor e vadio;

é realidade e mito,

donzela,

 amor e cio

 

Lisboa é desejo,

é saudade,

Lisboa é canela fina;

é mentira e verdade

menina,

 moça e menina.

 

MG

 

 

 

 

 

"Teixeira dos Santos é o inimigo público número um do povo"

 

                   Carvalho da Silva sindicalista

    Quem é o inimigo público número um?

 

 

 

 

A sociedade industrial culmina uma evolução económica de alterações revolucionárias no processo produtivo. Aliada a uma crescente revolução técnica gerou nos países industrilizados o aumento do número de assalariados. Esta nova realidade social expressa numa divisão entre capital e trabalho criou profundas clivagens sociais.

 Os assalariados conscientes da sua força colectiva e da exploração a que estavam sujeitos organizaram-se para defender os seus interesses.

 Nasceu assim o sindicalismo. As lutas sindicais conseguiram através de um longo processo reivindicativo melhorar as condições de trabalho do operariado e assegurar uma mais equitativa distribuição da riqueza. A própria indústria reconheceu que a sua sobrevivência- a sobrevivência do sistema- dependia do aumento do consumo e que este tinha de ser alargado a uma larga faixa populacional. Estas duas vertente associadas à apropriação da maior parte da riqueza mundial pelo ocidente permitiram criar uma sociedade de riqueza e bem-estar, com reflexos no nível de vida dos povos europeus.

 

No século XXI a evolução tecnológica deu origem a uma sociedade pós-industrial, com o crescimento de um vasto sector de serviços e uma evolução social baseada numa forte classe média. Qualquer leigo entende que nesta fase evolutiva do capitalismo já não existe a clássica divisão entre capitalistas e proletários do inicio do século passado.

 A sociedade mudou, globalizou-se, mas o sindicalismo e os sindicalistas actuais ficaram cristalizados no tempo. Os grandes e lúcidos dirigentes sindicais do passado, têm hoje no seu lugar cópias fiéis da sua forma de agir em contexto completamente diverso. Ao invés dos seus antecessores não são genuínos, limitam-se a ser genéricos ultrapassados.

 A sua percepção da nova realidade é igual a zero. A sua criatividade imaginativa perante os novos desafios está abaixo de cão. Continuam a adorar os seus fantasmas, os amanhãs que cantam, a internacional, o inimigo capitalista de chapéu de coco e fraque. Lutam contra moinhos de vento. Mesmo numa situação de crise sistémica, numa situação de desmoronamento da casa onde vivemos que exige inteligência e unidade do todo social , o seu discurso não muda uma vírgula. O inimigo número um do povo é a estupidez.

 

MG

 

 

 

01 Out, 2010

Cair na real

Nos meus tempos de juventude havia a cultura do trabalho. Foi-me desde cedo incutida a ideia que se queria tirar o pé da jaca (expressão brasileira) tinha que não me deixar dormir na forma. Nessa época difícil e dura era preciso trabalhar de dia para comer à noite. Nesse período de economia real, ninguém gastava mais do que aquilo que possuía. Nesse passado havia sempre uma poupança mesmo pequena para acudir a uma aflição.

 

Mudaram-se os tempos, mudaram-se as vontades. Adormeci à sombra duma utópica prosperidade. Adormeci e sonhei que estávamos num paraíso terreno. Tudo funcionava na perfeição. O consumo precedia a produção. O fiado era instituição obrigatória e recomendada. O lema era gastar. O modo de vida era curtir. O mundo ocidental, um terço da humanidade gastava dois terços da riqueza mundial. É certo que neste paraíso estavam os eleitos. Os outros estavam no inferno. Azar!

 

Acordei e caí na real. Era apenas um sonho. De repente tudo o vento levou. Como a cigarra da fábula a despensa estava vazia. E vem aí um longo inverno. Um inverno de descontentamento, do nosso descontentamento. Podemos condenar o despenseiro pela descuidada distribuição, mas quem esvaziou a despensa fomos nós, uns mais que outros é certo, mas fomos todos. O curioso é que ainda existem umas cigarras que teimam em cantar alegremente. São essas que muitas vezes dão origem a que se mergulhe num pesadelo. Lembrem-se do exemplo Salazar.

 

MG

01 Out, 2010

Miss Portalegre

                        

Portalegre capital de distrito no Alto Alentejo tem muitos motivos para se orgulhar. Pela sua história, pela sua cultura, pelos seus monumentos, pela sua gastronomia, pelas suas paisagens peculiares, pelo seu parque natural na serra de S. Mamede. Já foi uma importante contribuinte do erário público. Teve um papel pioneiro na industrialização do país. Resiste à litoralização de Portugal e procura com novas valências adaptar-se aos tempos modernos.

 

Portalegre tem agora um novo motivo de orgulho. Doou ao país uma miss  mundo Portugal de seu nome Catarina Aragonez. E não é uma contribuição menor. É a prova que as belezas genuinas de Portugal também têm marca raiana. É a garantia que Portugal não acaba na periferia da linha atlântica, nem mesmo onde não chegam as vias rápidas.

MG

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