Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

13 Ago, 2010

Muros

 colunas.digi.com.br

 

Muros: protegem, enclausuram, libertam. A grande muralha da China testemunha o desejo de proteger uma nação. Apesar da sua robustez e grandiosidade nem sempre conseguiu ser inexpugnável. A grande muralha de Tróia sucumbiu à manha de Ulisses . O muro de Berlim de má memória esboroou-se com a derrocada do império soviético. Se ainda existisse, faria hoje 49 anos. Separou as gentes de Berlim durante décadas. Evitou convívios, causou sofrimentos, matou pessoas inocentes. Protegeu o regime da ameaça do mundo capitalista. 

 

Ao contrário da grande muralha símbolo heróico de uma civilização, o muro de Berlim é a caricatura grotesca de um regime que se alicerça no autoritarismo sem limites.  O muro de Berlim não passa hoje de uma lembrança cada vez mais esbatida na memória dos povos. Provavelmente não será no futuro mais do que uma referência cruzada nos livros de história. Mas é bom lembrá-lo como exemplo de que não se pode aprisionar a liberdade. E numa Europa sem fronteiras é preciso estar alerta porque outros muros podem sempre levantar-se. Basta surgir a oportunidade.

 

MG,

12 Ago, 2010

Em Roma sê romano

 foroelsalvador.blogia.com

Vitor Ângelo escreveu na Visão um artigo sobre xenofobia onde constata que esse comportamento começa a assumir proporções elevadas na Europa. Acontece que este continente  se habituou a viver de acordo com valores que tem séculos de evolução humanista. Não evoluíram nessa direcção povos de origem islâmica ou islamizados. Muitos instalaram-se no velho continente e para aqui trouxeram a sua maneira de viver.

 

Da minha formação herdada genética e culturalmente do humanismo cristão, sobressai em primeiro lugar ,o espirito de tolerância em relação a outros povos e culturas. Admito as diferenças e respeito-as. Considero que esses povos têm o direito de praticar a sua religião. É salutar que mantenham usos e costumes.

 Da mesma forma espero desses povos que respeitem os princípios e os valores civilizacionais do países que os acolheram e lhes deram oportunidade de melhorarem as suas condições de vida. Espero mais que cumpram as regras de conduta comuns dos europeus. Se assim não for corremos o risco de ver os valores da civilização ocidental, para mim mais abertos e tolerantes, ser submergidos por maneiras de ser e estar mais arcaicos, o que não deixaria de ser um retrocesso civilizacional. A tolerância e o respeito devem ser reciprocos mas o que vemos muitas vezes é esses povos tentarem manter costumes que acabam por se sobrepor aqueles que milenarmente fazem parte da cultura ocidental. Não se pode levar à letra o ditado "em Roma sê romano", mas  não se deve confundir tolerância com permissividade sem regras.

MG

12 Ago, 2010

barbárie XXI

TALIBANS EXECUTAM GRÁVIDA

 

"O número de vítimas inocentes no conflito afegão não param de aumentar(...) Nem Bibi Sanubar (...) afegã de 35 anos viúva e grávida, foi executada em público, com três tiros na cabeça, depois de ter recebido 200 chicotadas e sido forçada a abortar. O "adultério" com um afegão que fugiu para o Irão terá justificado o julgamento sumário."

Publicado na revista Visão, n.º 910

 

Como é possível?

 

MG

 ibram.df.gov.br

A descoberta do fogo foi um passo fundamental na evolução humana. Brincar com o fogo pode pôr em risco a sua sobrevivência. Estamos em tempo de incêndios. Os incêndios acontecem por negligência ou por acção criminosa. Cabe à Protecção Civil ser eficaz no seu rápido controle e minimizar o prejuízo. Cabe a todos os cidadãos evitá-los. Está enganado quem pensa que os fogos e outras calamidades  são um problema deste ou daquele país. A riqueza destruída pertence a toda a humanidade. As condições climatéricas não provocam os incêndios mas potenciam-nos. Por isso estes acontecem nos períodos quentes e secos. Estes períodos de temperaturas extremas são cada vez mais frequentes e parecem estar relacionados com a forma como a sociedade industrial está a degradar o ambiente. No fundo todos nós consumidores desenfreados somos responsáveis. Que estas catástrofes sirvam para nos sensibilizar. Que estas catástrofes, ao menos, sirvam para alertar os homens  a quem entregámos o poder. Que estas catástrofes sirvam para começar a defender,  o planeta. Sem retórica , com medidas  práticas e eficazes, custe o que custar, custe  a quem custar. Afinal é a nossa casa que está a arder. Afinal é o futuro dos nossos filhos que está em risco. É altura de sermos um pouco menos egoístas.

 

MG

Quando não há nada para dizer o que se faz? Pôe-se música. Não sei como nem porquê lembrei-me desta:

 

 

mas também não sei porquê isto fez-me lembrar o tempo em que se escreviam cartas" Querida mãe, querido pai como é que vão, eu estou bem graças  Deus", depois falava-se do dia a dia, de alegrias,  de tristezas, de sucessos, de insucessos, do calor, do frio, enfim das banalidades que povoam o nosso quotidiano. Às vezes, quando a vida o proporcionava escreviam-se cartas de amor. Aí imperavam as emoções, as ilusões, as desilusões, enfim os sonhos que alimentavam o nosso ego. Era bom escrever cartas: desenvolvíamos a arte da escrita, prendíamos no papel pensamentos que de outra maneira acabariam por nascer e morrer sem uma expressão real. E se os milhões de cartas que se escreviam fossem guardadas como documento para posterior consulta, que acervo documental genuíno não teriam os historiadores do futuro! Era bom receber cartas. É difícil imaginar por exemplo a alegria estampada no rosto de soldados imberbes encerrados na clausura de um quartel, quando em formatura na hora de distribuição do correio, uma voz gritava "fulano de tal". No romance "Ninguém Escreve ao Coronel" de Gabriel Garcia Marquez, o coronel Buendía esperou a vida toda por uma carta que devia anunciar-lhe a atribuição de uma pensão. Como teria ficado feliz e essa carta tivesse chegado.

 

Hoje, raramente, se escrevem cartas. Primeiro foram destronadas pelo advento generalizado do telefone, mais prático, mais directo mas sem o mesmo encanto. No telefone as palavras não têm a mesma ternura, além de que se perdem na imensidão do espaço, se esboroam como vento passageiro. Agora com a massificação do telemóvel estamos no reino das mensagens cifradas que tenho alguma dificuldade em descodificar. Dizem que é o progresso. Dizem que é a modernidade. Eu tento acompanhar os novos tempos mas continuo saudoso das velhas cartas. E porque não voltar a escrevê-las?

MGl

 

 

Os rios são o sangue de um país. As águas que correm nos seus leitos são o sangue que alimenta a vida nas suas diversas variantes. Em Portugal existe uma vasta rede hidrográfica que fez e viu nascer muitos aglomerados populacionais. Uma dessas populações ribeirinhas é Ponte da Barca. Situa-se nas margens do rio Lima  que nasce em Ourense na Galiza e desagua no Atlântico, junto a Viana do Castelo.

 

Ponte da Barca é uma pequena vila, tranquila e simpática, com origens pré-históricas. Espaço onde a ruralidade assume um papel dominante com os seus vinhedos, guarda nas águas serenas do seu rio, segredos de gerações de gente laboriosa e dedicada à terra. Aqui pode encontrar o visitante a tranquilidade que escasseia nos grandes ajuntamentos balneares do litoral. Sentir a suavidade das suas águas, navegando em pequenos barcos de recreio, provar a sua rica gastronomia, saborear a frescura dos originais vinhos verdes. Admirar os ancestrais monumentos e respirar o ar revigorante que emana das suas matas naturais. A poucos quilómetros pode-se visitar o parque natural do Gerez e entrar em contacto com a natureza na sua genuidade. 

 

Nesta terra cruza-se o ancestral com o moderno. Podemos tambem sentir alguma bucolidade como a que se expressa no poesia seiscentista do poeta Barquense Diogo Bernardes que com o seu irmão Frei Agostinho da Cruz  tem lugar de relevo na poesia portuguesa. Uma nação nasce e forma-se, entre outras coisas, no caldeamento entre o sonho, a natureza e a cultura. E esta tríade está bem presente em Ponte da Barca.

 

MG

 

Já não posso ser contente

Já não posso ser contente,
Tenho a esperança perdida,
Ando perdido entre a gente,
Nem morro, nem tenho vida.

Prazeres que tenho visto
Onde se foram, que é deles,
Fora-se a vida com eles
Não ma vira agora nisto,
Vejo-me andar entre a gente
Como coisa esquecida,
Eu triste, outrém contente,
Eu sem vida, outrém com vida.

Vieram os desenganos,
Acabaram os receios;
Agora choro meus danos,
E mais choro bens alheios;
Passou o tempo contente,
E passou tão de corrida,
Que me deixou entre a gente
Sem esperança de vida.

                 Diogo Bernardes

 

 Aqui rezava Afonso Henriques

S. Pedro do Sul é um dos lugares que me encantam e onde ficamos encantados. Lugar de bons ares e de boas águas atrai às suas modernas termas inúmeros visitantes que procuram remédio para as suas maleitas do corpo e da alma. Até D. Afonso Henriques Fundador da nação aqui vinha repousar dos trabalhos do guerreiro que teve de construir um país a golpes de espada. E a rainha D. Amélia também  aqui procurou cura para os seus achaques. É um lugar de excelência para quem quer mergulhar na natureza, respirar tranquilidade, sentir um pouco do Portugal profundo e  afastar-se do cansaço das saturadas praias do litoral.

 

É com tristeza que nos últimos dias temos assistido a violentos incêndios nas serras da Gralheira e Arada no Concelho de S. Pedro do Sul . Quer estes incêndios sejam originados por descuido, quer por mão criminosa e além de porem em risco pessoas e bens são um atentado a um rico património natural que não pode ser desbaratado. Urge criar condições preventivas e repressivas para que isto não volte a acontecer. Defender a natureza selvagem é defender o planeta de que todos, independentemente de nacionalidades, somos proprietários .

 

MG

 

 

Se o meu sangue não me engana
como engana a fantasia
havemos de ir a Viana
ó meu amor de algum dia
ó meu amor de algum dia
havemos de ir a Viana
se o meu sangue não me engana
havemos de ir a Viana.

 

Pedro Homem de Melo

               

Viana do Castelo é uma bonita cidade situada no extremo noroeste de Portugal. Tem o cosmopolitismo humano de gentes que falam desvairadas línguas. Tem o bulício de uma urbe operária com os seus estaleiros. Tem a ruralidade dos verdejantes campos de milho. Tem uma importante e diversificada riqueza patrimonial com destaque para o Museu do Traje. Tem uma forte cultura popular expressa na romaria da Senhora da Agonia. E tem uma óptima gastronomia, onde a doçaria assume um papel relevante através da conhecida casa Natário ,da qual Jorge Amado era um fiel visitante. Nas suas esplanadas ribeirinhas ,pode usufruir-se dos prazeres de todos os sentidos, onde o cheiro a maresia acentua os sabores, onde os olhos se deleitam com o atrevimento das gaivotas a disputar os restos de comida deixados pelos saciados comensais. Mas o espírito também se alimenta na beleza do oceano, elo de ligação entre povos e culturas, tão próximas e tão distantes, tanto quanto quiser a imaginação.

 

PS.  no vídeo o poema de Pedro Homem de Melo cantado por Amália

MG

 

 

 

06 Ago, 2010

João Semana

passado    presente

 

Durante as minhas andanças pelo verdejante Minho lembrei-me do médico João Semana, personagem do clássico de Júlio Dinis, As Pupilas do Senhor Reitor. Era um tradicional médico de aldeia dedicado e generoso sempre disponível para todos, pobres ou abastados.

 

Na minha infância, numa outra latitude, numa perdida vila do nordeste algarvio árida e pouco verdejante, também havia um João Semana. Chamava-se João Dias e geria um pequeno hospital na povoação fronteiriça de Alcoutim. Não o conheci pessoalmente, nem nunca precisei de recorrer aos seus serviços, mas os meus avós maternos foram por ele operados com sucesso e com os meios arcaicos que possuía. Tanto extraía sinais na pele, como fechava uma hérnia. Era um médico à antiga competente e polivalente. Era conhecido e respeitado em toda a serra, pela sua competência e pela sua generosidade. Nunca nenhum doente ficou por tratar por falta de recursos financeiros. A medicina era para ele como um sacerdócio, nas antípodas da mercantilização que hoje existe. O Dr. João Dias morreu de doença súbita, quando ainda tinha muito para dar. Sobre as razões da sua morte correram as mais variadas e nunca esclarecidas explicações. Para lhe prestar as últimas homenagens a população serrana alugou autocarros e deslocou-se a Alcoutim numa das maiores mobilizações populares da povo do nordeste algarvio.

 

Muitos outros João Semana existiram  por todo o pais e creio por todo o mundo. Ainda hoje Alcoutim pouco bafejada pelo desenvolvimento, devido à sua interioridade tem o privilégio de ter um médico que encarna o espírito "semanista". Francisco Amaral hoje Presidente da Câmara Municipal tem procurado tirar este Pequeno Concelho do seu atraso endémico e criado condições dignas para uma população muito envelhecida. Apesar das suas funções autárquicas continua a trabalhar como médico em regime voluntário no Hospital de Faro.

 

 Os exemplos que aqui refiro fazem-nos acreditar que  o humanismo ainda persiste num mundo onde os grandes valores da solidariedade tem vindo a ser submergidos pela exploração, pela ganância e pelo desrespeito. A todos os "João Semana" de agora e de sempre presto a minha modesta homenagem: bem hajam.

 

MG

 

 

 

 

 

 

Há terras que nos encantam particularmente vamos lá saber porquê. Acontece-me com Vila Nova de Cerveira. É uma típica vila minhota, discreta, sossegada, simpática. Não tem o bulício cosmopolita das grandes cidades, nem os seus grandes centros comerciais. Tem a singeleza de  uma pequena povoação, de um pequeno país quase intacta na sua ancestral ruralidade. É um sítio aonde não se vai, mas aonde se está.

 

Cerveira situa-se nas margens do rio Minho incrustada  entre a serra e estreita planície fluvial. Vive paredes meias com a Galiza com quem há séculos mantêmum intercambio que nenhuma fronteira consegue separar. Ao passar pelos seus pomares, ao observar os seus campos de milho, ao assistir às suas festas e romarias vem-me sempre à memória os romances de Júlio Dinis com as suas desfolhadas "milho-rei, milho-rei" os seus amores contrariados," as Pupilas do Senhor Reitor". Sinto estas vivências e estas personagens ainda a  calcorrear a ruas calmas, a conviver na praça  central, agora sentadas nos bancos ou nas modernas esplanadas a saborear a sua rica gastronomia. E de quando em vez enche-se de desvairados forasteiros a assistir  às suas bienais de arte ou a aadmirar o seu património, como poe exemplo o castelo  e o forte.

 

Estar em Cerveira é como mergulhar um pouco num paraíso perdido. Ajuda a a relaxar o corpo e aquietar a mente. Ajuda a esquecer transitoriamente as agruras de um quotidiano pejado de injustiças. Até ajuda a esquecer a política que nos desgoverna.

Mg