A Europa é presente
"Durante os debates ficou claro que a crise na Europa resulta, em grande medida, de razões endógenas. Enumero algumas. A falta de coordenação das políticas económicas e sociais. A indisciplina orçamental de certos governos. O peso excessivo do sector público nas contas nacionais. A perda de competitividade em relação a economias concorrentes. O adiamento das reformas estruturais mais urgentes. Um sistema financeiro artificial, construído no ar, especulativo e sem correspondência com a economia real. Um tipo de consumo, em países como Portugal, que leva ao endividamento crónico das famílias e à instabilidade financeira. Uma crise que tem sido agravada pela opção por um euro forte, sobrevalorizado. E por uma liderança política incapaz de apontar o dedo, nas diferentes cimeiras da União, aos governos prevaricadores, que não respeitam as regras estabelecidas"(1)
Estas palavras, que aqui transcrevo, com a devida vénia, foram escritas por Vítor Ângelo num lúcido artigo publicado, esta semana na revista Visão.(1) Comungo do diagnóstico apresentado. Tenho no entanto algumas dúvidas sobre as terapias propostas. Não sou politólogo, nem macro economista e faço a minha análise apenas de forma empírica.E reportando o assunto ao funcionamento da minha contabilidade doméstica concluo uma coisa simples. O haver precisa de superar o deve para que haja sustentabilidade em qualquer tipo de economia ou seja o consumo não pode ser superior à procura. Criou-se a ideia , nestes ultimos anos, que podemos consumir indefinidamente, desde que não faltem os meios financeiros. Puro engano. Os meios financeiros são riqueza fictícia e só existem se corresponderem a riqueza real. Este paradigma não é já sustentável. É preciso mudá-lo ou melhor voltar ao paradigma assente no equilíbrio entre produção e consumo, bem aplicado por Roosevelt no New Deal.
A Europa já passou por momentos difíceis e ultrapassou-os. Acredito que ultrapassará também este. Até porque a sobrevivência das civilizações não está apenas dependente dos valores materiais. Há outros valores que as cimentam e que desempenham um papel fundamental na sua unidade. No espaço europeu já nasceram e morreram sistemas económicos. Já se criaram e destruíram países. Isso é normal, porque os povos constituem organismos vivos em constante mutação e adaptabilidade. Não dependem de mais ou menos optimismos ou pessimismos. Dependem de realismo e bom senso.Dependem de encontrar o modelo adequado aos novos tempos. Uma das grandes mudanças que prevejo, como essenciais passa por uma mais equitativa distribuição da riqueza .
MG
1 Ler artigo completo em: http://aeiou.visao.pt/a-europa-da-divida-e-da-duvida=f561153