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Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

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19 Nov, 2012

O melhor amigo

variedades1.com

 

O Barrim era apenas um cão. Um cão, mesmo cão, na sua qualidade de cão. O avô Zé era um avô. Apenas um avô que gostava de o ser. Até parecia que tinha nascido avô. A avó sendo avó era de tudo um pouco, como qualquer avó. O neto era simplesmente: alegria, chatices, preocupações. Todos personagens de uma mesma  história sem história.

O avô tinha o vício (ou seria uma virtude) de beber sem grande parcimónia, bebidas viciadas essas sim em teor alcoólico. Saía de casa de manhã trombudo e taciturno para ganhar para as sopas. Antes de chegar ao trabalho, entrava na taberna aconchegava a goela com um mata-bicho. A meio do dia, entrava em cena o "tintol". Quando chegava a noite e regressava a casa, o seu semblante era um sol de Agosto. respirava alegria e boa disposição por todos os poros.

O Barrim era cão sem raça, mas não se queixava. Não tinha o porte de um serra da estrela, nem a elegância de um perdigueiro. Nasceu rafeiro, mas sentia-se bem na sua pele. Sendo pequeno, gostava de exibir os seus dentes "pepsodent" a qualquer canídeo que o incomodasse, sem olhar ao seu tamanho. Guardava a casa, com brio, de dia e de noite, com frio, sol ou chuva. Assume o papel de herói.

A avó tratava da casa, cozinhava com poucos ingredientes e bem, lavava, passava e remendava com esmero (ah pois) a minguada roupa. A sua extravagância era ir ao correio ver se chegavam notícias de filhos ausentes.

O neto ia à escola, jogava à bola nos descampados e chegava a casa esfomeado e muitas vezes arranhado. No fundo a sua maior utilidade era fazer asneiras, dar trabalho e canseira.

Às vezes o avô exagerava na dose do tinto. Era fácil perceber quando. O avô nunca estagiava na taberna até horas tardias. Assim que se aproximava o lusco-fusco regressava a casa para o jantar com a família e com o seu amigo etílico. E quando isto não acontecia, era certo e sabido, que o seu amigo o atirara, com violência, para alguma valeta de onde não se conseguia levantar. Chegara a hora de entrar em acção a preocupada avó, o inconsciente neto e claro, o abnegado Barrim. Com o seu pelo malhado a brilhar ao luar, quando o havia e com as suas pernas curtas, atalhava caminho e era o primeiro a chegar junto da vítima.

E graças à eficácia do Barrim depressa se encontrava o avô na sua cama de terra batida. E enquanto nos aproximava-mos já o avô Zé entabulara conversa com o cão batedor: - olha o Barrim,o meu melhor amigo!  

 

estórias do menino Ozé