Quando se festejava o dia dos meus anos
A noite era escura e tinha estrelas abraçadas pela lua,
Os pássaros voavam em bandos por cima dos trigais,
Espantando os insectos parasitas.
Os galos cantavam sempre de madrugada anunciando o sol
Que amadurecia as searas,
No Tempo em que se festejava o dia dos meus anos.
Corria pelos campos enlameados pela brisa matinal,
Mergulhava livre nos pegos enxameados de cardumes ,
Corria atrás da bola de farrapos em relvados de terra escura
E pontapeava a vida com candura.
Eu era feliz e ninguém estava morto
Aprendia nos longos serões
A vida vivida e a esperança do devir de ser alguém,
Aprendia na cartilha maternal o passado reflectido no presente
Para ser homem português e cidadão,
Porque
Na casa rústica fazer anos era apenas um passo para o futuro
Nas feiras de tendinhas animadas por alegres carrosséis,
Nos bailes de concertinas afinadas em concertos de desafinação,
Arrastavam-se pesados pés em ladrilhos poeirentos de ilusões,
Sapatos de homem beijando os de mulher.
Crescia mais um palmo em cada ano,
A alegria era breve e o sonho era livre na liberdade condicionada
E festejava-se o dia dos meus anos, apenas o dia dos meus anos
Porque a infância é a ilusão da vida sem fim
Como em qualquer religião.
MG