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Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

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1.ª sessão: o diabo era o outro?

 

O diabo era o outro. Deixou a escuridão do inferno e eclipsou-se  na luz da cidade do iluminismo. O inferno do outro foi ocupado por pretensos querubins, acompanhados por ladainhas de esconjuro. O inferno ia finalmente ser resgatado, o purgatório estava à vista e o céu logo ali. Uma multidão de incautos com auréolas disse amen e rejubilou. Cairam no conto do vigário como um patinho simplório. Agora fazem procissões a pedir o fim do pesadelo em que se meteram. Tarde de mais. Façam antes penitências. Merecem.

O diabo foi embora, mas continua a ser diabolizado pelos pretensos anjinhos. Se o inferno continua a culpa é sua, dizem . Chegou a altura de fazer a defesa do diabo. Embora pairássemos na mesma frequência não o conheço pessoalmente. Estou por isso à vontade para assumir de motu próprio a sua defesa. Antes ser advogado desse diabo, que calar este logro de terra prometida de leite e mel que nos continuam a impingir os querubins, especialmente, o mais cínico e mais sonso de todos, escondido atrás de um rosto antoniano.(sem ofensa para o santo)

Começo por desmascarar duas  premissas sem as quais a argumentação se torna inválida: a primeira é a de que vivemos acima das nossas possibilidades; a segunda é a das dívidas soberanas, responsabilizando ambas pela situação actual. É uma falsidade.  Uma parte da população deste país saiu de uma vida miserável para um nível de vida aceitável. Apenas  isso. Já no que concerne às dívidas, públicas e privadas, foram fomentadas pelo sistema financeiro em seu benefício. Não houve nenhuma alteração significativa na economia que pudesse dar origem ao que se está a passar. O que houve foi uma golpada financeira, começada com o escândalo lehman brothers, que foi aproveitado pelos usurários para recuperarem privilégios perdidos na segunda metade doséculo XX. É o regresso à luta de classes sem regras.

O outro, designado diabo, não passa de um frágil barco apanhado no meio de tremenda tormenta. Resistiu enquanto pôde. E quando tinha aberto uma pequena brecha(1) para sair da tempestade foi traído por parte da tripulação e por falsos anjos da guarda.(2) Como está,claramente registado, nos anais do inferno. Mentiras, traições, contradições. O diabo nunca se fez passar por santo. Imperfeito como todos nós cometeu erros. Mas tinha um rumo e uma estratégia. E não fora a borrasca que atingíu ,selectivamente, as embarcações europeias mais frágeis teria seguido a sua rota. Os querubins, com o querubin louco à cabeça, que tomaram de assalto a barca do inferno, já a entregaram a piratas que estão a saqueá-la antes de a afundar.

 

 

 

1) 10 de Março de 2011

O primeiro-ministro convidou Passos a sentar-se, e sem pressas começou a explicar-lhe(...) "A situação europeia está muito difícil. Querem-nos levar tudo e isso não aceitamos" (...) Falou-lhe  na necessidade de Portugal apresentar novas medidas na cimeira (...) Descreveu o plano ambicioso do governo(...) abrangia 2011 (...) 2012 e 2013. Um novo PEC (...) página 136, Resgatados

11 de Março

Trichet mostrou (a Sócrates) o texto(...) que o BCE e a comissão "apresentariam" no início da reunião a dar cobertura ao programa português (...)Passos fez uma chamada para o gabinete de Durão Barroso(..) logo que o Conselho termine anunciarei que o PSD não apoia este PEC (...) minutos depois o telefone (de Passos) voltou a tocar. Era Barroso.(...) Estava exaltado."Não pode chumbar isto.(...) aquele programa era uma alternativa ao resgate (...)Isto  com a Grécia (continuou Barroso) foi horrível, se você puder evitar isso é o mais importante. Depois terá a sua oportunidade(...) A conversa acabou ali-e acabou mal.Páginas, 144,146,147, Ibidem

14 de Março

O núcleo duro do governo voltou a reunir-se em São Bento(...) O primeiro-ministro quando falava de Passos ficava fora de si. Era inconcebível, dizia, que, lhe tivesse dito uma coisa na quinta feira e ignorasse na sesta(...)questionava Sócrates , quando pensa que Passos tinha dito em público, que não soube nada do PEC e apenas recebera um telefonema(...) na véspera à noite. Havia que revelá-lo. Sócrates resistiu. Desculpem. Calma. Vou esperar que ele o faça...

Páginas 153, 154, ibidem 

 

 

2 -Há limites ( ...) para os sacrifícios que se pode exigir ao comum dos cidadãos (...) Cavaco calou-se. A direita deu-lhe um prolongado aplauso (...) António José Seguro e Sérgio Sousa Pinto também bateram palmas (...) alguém desabafou: isto foi um nojo.

Discurso de posse do Presidente da República

Ibidem - páginas 113-115