Carta a Pedro
Pedro,
Eu não faço parte da tua lista de amigos no Facebook. E tu não fazes parte da minha. Nem quero. Cada macaco no seu galho. Por isso não sei se quando escreveste aquele texto piegas (bem prega frei Tomás) eu também estava incluído. Mas mesmo não estando na tua lista de amigos sinto que devo responder-te. A razão é simples: custe o que custar queres fazer-me crer que a medida da TSU (que já sepultaste em vida) era para o meu único e exclusivo bem. Significava mais exportação, mais riqueza, mais emprego. Sabes o que me preocupa? É que começo a acreditar que tu acreditas mesmo nisso. Nisso e em todas as patranhas que o Borges, o Moedas, O Gaspar e o Macedo te metem nessa cabecinha. Sim digo bem, cabecinha, porque racionalidade é coisa que não abunda por aí.
Deixa-me dizer-te uma coisa Pedro: tenho mais de oitocentos anos e já conheci muito artola. Mas tu consegues superá-los em todas as vertentes, com excepção do jeito para cantorias. Era por aí que devias ter ido. Tinha sido melhor para ti e para mim. Nestes longos anos de vida poucas vezes fui tão enxovalhado. Nem quando o Fernando I, me ia entregar de mão beijada a Castela. Nem quando Sebastião I, num ataque de loucura, me deixou exangue em Alcácer-Quibir. Nem quando Filipe I me anexou. Nem quando Napoleão me vandalizou. Nem quando D. Carlos vacilou perante sua majestade britânica. Foram actos infelizes mas desculpáveis perante determinadas circunstâncias. Resisti, lutei e ergui-me.
Dissestes que fizeste um dos discursos mais ingratos aos portugueses. Parafraseando Johann Goethe "ingratidão é uma forma de fraqueza. Jamais conheci homem de de valor que fosse ingrato". Ingrato, sonso, sem vergonha. Ainda o cadáver TSU estava quente já nos brindavas com mais uma dose cavalar do teu veneno. Sempre com o estafado discurso de que não há alternativa. Há, como houve em 1383, como houve em aljubarrota, como houve em 1640, como houve em 1920. Para além de fraco com os fortes, não te reconheço um pingo de valor. Humilhas-me perante a arrogância alemã. desconsideras-me nos foros internacionais. Empobreces-me deliberadamente. Erras e persiste no erro.
Sou um ancião. Merecia mais respeito. Merecia mais competência. Merecia mais inteligência. Merecia mais carinho. Sou um ancião, mas com capacidade de se rejuvenescer. Parti em frágeis barcos pelo oceano desconhecido e sobrevivi. Defrontei terríveis adamastores e venci. Não serás tu, Pedro que me conseguirás destruir. Quem adormeceu com o teu canto de sereia já começa a acordar. Tu e todos os vasconcelos que te rodeiam podem começar a contar os dias.
Zé Portugal