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Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

envolverde.com.br

 

 

A violência é inerente à humanidade como forma de sobrevivência. Ainda hoje vigora com esse estatuto no chamado reino animal. A biologia mostra esse processo assente na cadeia alimentar. Mesmo entre os humanos, racionalmente mais evoluídos, não foi possível quebrar o ciclo de uma alimentação  suportada na morte de diversos animais. E isso que aceitamos como natural não deixa de ser um acto de violência. A morte de um animal com mais ou menos sofrimento, num local público ou dentro de um matadouro, é um desrespeito pela vida.

 

Vem este preâmbulo a propósito da "guerra" que para aí vai, neste verão quente, entre defensores da tourada e contestatários anti-tourada. Dizem os primeiros, que a tourada é um espectáculo com profundas raízes na nossa cultura e na nossa tradição. Afirmam os segundos, que seja como for a chamada festa brava é um espectáculo bárbaro, desadequado do avanço da civilização. Dizem os aficionados, que os animais criados, especificamente, para as lides se integram num negócio que envolve muito dinheiro e muitos postos de trabalho. Respondem os defensores dos animais que nada justifica o sofrimento infligido aos touros. Com argumentos e contra argumentos podíamos continuar até ao infinito, como duas linhas paralelas que nunca se encontram. E está aí a raiz do problema.

 

Nesta linha de pensamento pode-se questionar quem está certo e quem está errado. Para mim a resposta é óbvia. Estão todos errados ou melhor ninguém está cem por cento certo. Primeiro porque neste caso, como noutros, não existem verdades absolutas. Quando muito há meias verdades. E quando duas posições se extremam caem, inevitavelmente, nos fundamentalismos,nos ódios, no ou nós ou vós. É o caminho certo para agravar o problema e não para o resolver. Neste caso das touradas, é certo que os animais são violentados numa arena, mas também é certo que é um espectáculo apreciado por milhares de pessoas de todos os grupos sociais e de todos os extractos culturais e é essa a razão primeira da sua existência. Gente com virtudes e defeitos como todos nós. Ou serão os aficionados, nos quais não me incluo, todos demónios sanguinários?

Quando se quer alterar uma situação com a qual não concordamos, temos primeiro que respeitar o outro e os seus gostos. E o outro não são somente os profissionais ligados às touradas, mas os muitos milhares que o apreciam. A partir daqui, seria sinónimo de inteligência, tentar encontrar um caminho de diálogo, aproximar posições, fazer cedências, encontrar consensos. Assim, com bom senso e realismo, talvez se conseguisse encontrar formas de humanizar o espectáculo e defender verdadeiramente os animais. Persistir na via do extremismo, conduzirá apenas a confrontos sem qualquer efeito, a não ser mais violência, como se viu no recente e lamentável episódio do cavaleiro descontrolado. A realidade é o que é, e não se muda por decreto, mas com pequenos passos.

 

Além de mais, existe tanta violência no mundo: guerras fratricidas, com tanto sofrimento, com tanta barbárie, para benefício de pequenas elites. Longas torturas sobre prisioneiros sem direito a defesa por poderes legitimados. Uma barbárie oculta e sem limites. Além de mais, existe tanta violência escondida: crianças de tenra idade a trabalhar sem horário e em condições degradantes; mulheres agredidas  permanentemente no recato do lar; trabalhadores usados como escravos; mulheres forçadas a prostituir-se, crianças abusadas. Além de mais, o que é a morte lenta pela fome, versus opulência senão a maior das violências. Entre o sacrifício do touro na arena durante cerca de vinte minutos, das aves nos aviários criadas durante meses para abate, sem verem a luz do dia, das aves abatidas no céu para encherem o nosso prato, dos estropiados, dos marginalizados, dos torturados... qual é a maior violência?  E porque é que nos indignamos, justamente, perante o sofrimento de um animal na arena e tantas vezes nos mostramos indiferentes ao sofrimento do nosso semelhante? Quanto vezes passamos ao seu lado com total indiferença? Estranho o comportamento humano! Não deveríamos, em primeiro lugar, combater a violência que existe dentro dentro de nós?

 

MG

 

 

 

 

 

 

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