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Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

 

Há quem adore derreter o seu dinheiro em sujas e miseráveis cidades indianas. Há até quem gaste o que não tem para enfardar comida e corar ao sol nas praias da República Dominicana. Gostos. Eu mais modestamente prefiro uma escapadinha a cidades europeias ou fazer uma escapadela pela ibéria. Mas o que gosto mesmo é de deambular pelos cantos e recantos do meu país. O que gosto mesmo é apreciar a variada gastronomia regional e a autenticidade das nossas gentes. Foi assim que deambulando pelo Minho e pelas suas estradas mais sinuosas fui parar, mais uma vez, a Ponte de Lima.

 

Podia aqui falar do seu rio que admiro, enquanto degusto uns rojões numa refrescante esplanada. Podia dar espaço à festa do emigrante com direito a tourada que nesse dia se anunciava. Podia descrever os carros antigos que por ali desfilaram. Podia referir a homenagem/recepção que se preparava para o herói da terra medalhado em Londres. Podia recordar o deputado/autarca que traiu o seu partido por amor à sua terra e ao queijo limiano. Mas não. Vou falar de um anti-herói como todos nós. Não sei como se chama, nem que idade tem, nem que clube apoia, nem em que partido vota. Sei que usa uma farta peruca e por isso, com todo o respeito vou chamar-lhe " o homem do capachinho".

 

Ao acaso, impulsionado pela necessidade de cafeína, deambulava por uma rua da qual não sei o nome quando uma porta fechada, de uma discreta pastelaria se abriu para dar saída a um  cidadão. Ao acaso, ou talvez não, senti-me impulsionado, com a gente que me acompanhava, a entrar  naquele espaço. Timidamente, espreitamos e perguntamos se estava aberto e se nos podiam servir café, como se não o houvesse nos 100 quilómetros mais próximos. Do interior soou  então uma voz: "entrem nós estamos aqui é para servir os clientes. Estou fechado para ir comer uma lampreia(?) mas ela que espere, concluíu". Desenhou-se então na nossa frente um rosto impreciso, simpático e bem disposto. Tal e qual. O homem do capachinho.

 

Serviu-nos um delicioso café acompanhado de uns pastéis de nata amorangados. Enquanto o ouvíamos, deliciado, pronunciar-se sobre as virtualidades do verdadeiro pastel de nata versus o sucedâneo por que optáramos, reparei num quadro onde estava emoldurada uma capa de jornal amarelecida pelo tempo, onde se noticiava a inauguração daquele estabelecimento, se a memória não me engana, em 1903, possivelmente um dos mais antigos da vila. Interrogado sobre o facto, o homem do capachinho, deu azo à sua capacidade expressiva ( a lampreia(?) que espere) fazendo um relato da história da pastelaria.Ficámos a saber que tendo começado como empregado era hoje o seu proprietário.

 

 Depois de nos despedirmos para poder poder ir comer a sua lampreia(?) veio atrás de nós com um tabuleiro de doces dizendo: "esperem...tomem lá um miminho". Hesitei e fui dizendo "obrigado, o meu açúcar não deixa" mas depois de ouvir uma detalhada explicação sobre a influência do pâncreas no seu processamento não resisti ( que se lixem os diabetes) e agarrei aquele delicioso doce de simpatia e genuinidade portuguesa.

 

 E agora venham cá com férias nas Bahamas ou nas Seicheles. Há lá coisa melhor que o acolhimento da nossa gente. E isto para não falar na beleza natural das minhotas que agora em festas e romarias exibem os trajes tradicionais. Não perdem pela demora... 

 

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