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Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

Nação valente, ao sul

Odeleite Cabeça do dragão azul

 

 

Apresento-vos Sancho Afonso, rei de um reino inventado por graça de Deus e do seu pai Afonso Henriques. Nos finais do século XII andou a espadeirar mourama em defesa da Fé católica e da construção de um reino. Consciente que um reino não sobrevive sem riqueza, mais que um conquistador foi um povoador. Nas terras menos povoadas do Sul estabeleceu colonos, criou concelhos, deu forais e isenções nas zonas fronteiriças. Para além da função reinante ainda teve tempo para fazer onze filhos legítimos e nove bastardos. E entre os que não vingaram e os que sobreviveram deixou vasta prole, dando importante contributo pessoal para o povoamento. Para a segurança da prole do sexo feminino D. Sancho reservou o castelo de Santa Maria da Feira.  

 

Oitocentos anos depois de ter partido deste mundo Sancho voltou a terras de Santa Maria. Ali veio veranear por dez dias e recordar tempos passados na companhia da sua mulher Dulce de Barcelona e de Maria Pais Ribeira conhecida como Ribeirinha com quem coabitou após a morte da legítima. Dias cansativos de governação. Noites intensas de amor e poesia na alcova ora fria ora quente do desconfortável castelo.

 

Certamente se espantou com o castelo renovado e mais acolhedor. Certamente foi invadido pela perplexidade do crescimento da velha urbe e pelo vasto povoamento de que foi um ideólogo e precursor. Certamente se sentiu actor de uma realidade desaparecida e espectador de uma realidade que nunca imaginou. Certamente invejou a vida daquela plebe alegre, despreocupada, bem vestida, limpa que o olhava com um misto de respeito e curiosidade. Certamente se lembrou, em contraponto, do seu povo miserável sujo e sofredor, toscamente vestido, que já era velho aos quarenta anos e que que tinha como única esperança a vida no paraíso do além. Certamente descobriu que o inferno eram aqueles tempos de má nutrição, de desconforto, de casebres insalubres, de ruas apertadas e malcheirosas. Certamente terá tristeza por voltar a esse passado. Certamente preferiria fugir da sua pele majestática e ficar por ali como mais um cidadão dos milhares que circulam anónimos e buliçosos por um tempo de faz de conta. Certamente.

 

Santa Maria da Feira, a rainha de todas as recriações do passado medieval, regressa, dez dias depois, ao seu presente de desenvolvimento e progresso. Terras de Santa Maria voltará daqui a um ano a mergulhar no seu passado cheio de acontecimentos. Sobretudo para que não se perca a sua memória nos livros poeirentos enclausurados nas estantes esquecidas das bibliotecas. Porque esta é a mais procurada lição de história.

 

MG

 

 

 

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